Atualizado às 9h54
Foram raras a vozes dissidentes, entre analistas do mercado financeiro, que apareceram na imprensa brasileira nesta quinta-feira, a respeito da decisão do Banco Central tomada ontem, de elevar em 0,75 ponto percentual a taxa básica de juros, a chamada Selic, de 0,75% ao ano para 9,5%.
A ideia quase unânime, nas declarações de especialistas aos jornais, é de que a Selic inicia, a partir de agora, um ciclo de alta a passos largos. As principais divergências são de quanto os juros devem subir e até quando.
As previsões sobre a magnitude do aumento ficam entre alta de 2,5 pontos (projeção do BES, para 11,25%) e de 4,25 (do Itaú, para 13%). Em relação à duração do ciclo de alta, reportagem do Estadão diz que a escalada da Selic deve terminar dois meses antes das eleições; já Illan Goldfajn, do Itaú Unibanco, disse ao Valor Econômico que o ciclo deve durar até 2011.
Os especialistas consultados pela imprensa frisaram, também, que os investidores tendem a ficar mais animados com essa decisão do BC por deixar claro que a instituição continua adotando medidas técnicas, mesmo em ano eleitoral.
Maurício Molan, do Santander, disse ao jornal Brasil Econômico que a reunião dos diretores do BC ontem foi uma das mais importantes dos últimos anos, por definir a postura do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) no combate à inflação. Ele prevê que o ciclo de alta ora iniciado totalize uma elevação de 3,25 pontos percentuais (para 12% ao ano), num ritmo de 0,75 ponto por reunião.
O editorial de O Globo faz uma defesa do BC, considerando que a entidade "conquistou credibilidade" ao optar, ao longo dos últimos anos, pela decisão técnica, "haja ou não eleições".
Também no Brasil Econômico, Juan Jensen, da Tendências Consultoria, afirmou que a decisão do BC "deixa o mercado animado", pois comprova o compromisso com a inflação. Ao mesmo jornal, Flávio Serrano, do BES Investimentos, apresentou uma previsão um pouco menos ortodoxa: acredita que o juro básico subirá de 2,5% a 3% ao ano no atual ciclo de alta.
Octavio de Barros, do Bradesco, disse ao Valor Econômico que o Copom surpreendeu "muita gente" que via um Banco Central "menos obcecado pelo centro da meta". Para ele, a inflação ficará acima do centro da meta neste ano, "mas o BC está mirando 2011".
Roberto Padovani, do WestLB, apresenta uma visão diferente da maior parte dos analistas ouvidos pelos grandes jornais. Para ele, o ajuste de 0,75 ponto na Selic foi mais alto que o necessário. "Em 2008, o crédito era de 42% do PIB (Produto Interno Bruto) e hoje deve chegar a 50%, o que faz com que um esforço monetário menor consiga alcançar resultados semelhantes aos do passado", afirmou ao Brasil Econômico.
O jornal afirmou em seu editorial: "Se há uma falta da autoridade monetária, aos olhos do mercado, esta reside no fato de que o BC tenha agido 'atrás da curva'",ou seja, tenha esperado a inflação subir para depois elevar os juros. "Deveria ter iniciado o ajuste de taxas na última reunião, quando essa necessidade foi consensual, mas a Selic ficou estável".