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Estudo derruba mitos sobre crescente exportação chinesa

Fábricas da China agregam pouquíssimo valor a produtos como o iPhone

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Por Carla Miranda
Atualização:

Um deles: ao contrário do que muitos pensam, a China agrega pouco valor aos produtos, mesmo quando exporta mercadorias de tecnologia avançada, como o iPhone.

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As peças chegam prontas às fábricas chinesas, que apenas montam o produto. No caso do telefone da Apple, por exemplo, os trabalhadores chineses contribuem com apenas 3,6% do custo de produção. Ou seja, de US$ 2 bilhões que os americanos gastam importando iPhones, apenas US$ 73 milhões correspondem ao valor que a China agrega ao produto.

Leia análise de Mailson da Nóbrega:

As exportações chinesas e o mito do valor agregado Muitos lamentam o aumento da participação das commodities e a diminuição da de produtos manufaturados no total das exportações brasileiras, argumentando que estamos exportando bens de menor valor agregado. Na verdade, não houve queda das vendas de manufaturados, mas a expansão mais rápida das commodities (que por sinal agregam valor por utilizaram avançada tecnologia agrícola e de extração e transporte de minério de ferro). O Brasil se beneficia de um aumento nos termos de troca. É como o pai que vê o filho do vizinho ficar maior do que seu de mesma idade. Os dois cresceram, mas o dele menos. Quem reclama da perda de participação dos manufaturados diria que um dos garotos encolheu. Um exemplo que tem sido utilizado para comparações é o das exportações chinesas de manufaturados, tidos naturalmente como de maior valor agregado. Estudos mostram que os chineses agregam pouco aos produtos que exportam, algo como 15% de seu valor. Eles são, na verdade, uma grande montadora, que importa muito em forma de partes, peças e componentes e exporta muito. Mesmo agregando menos do que se imagina, os chineses impulsionam a indústria, os serviços, a atividade econômica e o emprego. Estudo recente, de autoria de Yuqing Xing [do Instituto Nacional para Estudos de Políticas Públicas, em Tóquio] , mostra com mais clareza esse processo, utilizando exemplo em que a agregação de valor é ainda menor do que a citada. Trata-se da produção de iPhones na China. O processo envolve nove companhias, localizadas na China, na Coreia do Sul, no Japão e na Alemanha. Todos os componentes são despachados para a empresa Foxconn (a mesma que prometeu a Dilma investir US$ 12 bilhões em uma fábrica no Brasil para produzir iPads). A Foxconn monta o produto final e o exporta para os Estados Unidos e o resto do mundo. Xing decompõe o custo de produção em seus diversos componentes e mostra como um país em desenvolvimento como a China pode exportar produtos de alta tecnologia e por que o país que inventou o iPhone se transforma em importador. O custo total de produção é de US$ 178,96 por unidade, mas o de manufatura pela Foxconn é de apenas US$ 6,50. Ou seja, os trabalhadores chineses contribuem com apenas 3,6% desse total, muito menos do que os 15% estimados por outros estudos. Nas estatísticas de comércio exterior, os Estados Unidos importaram US$ 2 bilhões em iPhones, mas Xing prova que na verdade as importações foram apenas do valor agregado pelos trabalhadores chineses, ou seja, US$ 73 milhões. "O método tradicional de registro de comércio exterior não reflete o valor efetivo da cadeia de distribuição e exibe uma imagem distorcida sobre as relações bilaterais. O desequilíbrio do comércio sino-americano tem sido enormemente inflado", diz ele. Outra conclusão interessante do estudo é a de que a valorização da moeda chinesa, demandada pelos americanos (e ultimamente pelo ministro da Fazenda do Brasil), teria efeitos praticamente nulos nas exportações de iPhones. Se houvesse, por exemplo, uma apreciação de 20%, o custo do iPhone aumentaria apenas US$ 1,30. Dificilmente os consumidores deixariam de comprar o produto. Uma terceira conclusão. A Apple poderia produzir o iPhone nos Estados Unidos pelo mesmo preço, mas isso exigiria uma redução de sua gorda margem de 64%. Assim, a decisão de produzir na China tem a ver com objetivo de maximizar lucros da empresa e não com a necessidade de deslocar a produção para um país com baixo custo de mão-de-obra.

Leia o estudo sobre o iPhone na íntegra (em inglês)

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* Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico, indicando artigos, reportagens e estudos publicados no exterior.

Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog/

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