Gustavo Santos Ferreira
10 de junho de 2013 | 17h17
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul caminham para, enfim, ter “alguma espinha dorsal” – afirma o professor brasileiro Marcos Troyjo, da Universidade de Columbia, no artigo “O Banco de Desenvolvimento dos Brics é mais do que bem-vindo”, publicado nesta segunda-feira, 10, pelo Financial Times.
O Banco de Desenvolvimento dos Brics (BDB) seria, num primeiro momento, um fundo para garantir liquidez. De maneira simplificada: criado nos moldes previstos e caso alguma dessas economias entre em crise, a soma de todas as reservas internacionais (que hoje supera os US$ 5 trilhões) estará lá como espécie de caixa para segurar as pontas. O volume pode também ajudar outros países fora dos Brics – caso agrade aos interesses dos membros. Fala-se até em financiar projetos de economias menores, sobretudo na África.
Brics. União para calar as críticas
O BDB deve ganhar corpo mesmo em setembro, embora tenha sido anunciado com alarde em março. Uma reunião entre os cinco emergentes está programada para o mês, na Rússia, em São Petersburgo, paralelamente à cúpula do grupo das vinte maiores economias do mundo (G-20).
Apesar de ser um fundo internacional, Troyjo, que dirige o centro de estudos BRICLab na Columbia, não vislumbra o BDB como concorrente do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou do Banco Mundial: “Muito pelo contrário, sua motivação é exercer um papel complementar ao das instituições de Washington”.
O BDB, diz ele, mostrará para todo o mundo que a capacidade construtiva dos Brics é real. Propiciaria ao Brasil e à África do Sul, os Brics de pior desempenho hoje, “energia positiva” (good vibe); à Rússia, transparência política; à Índia, maior diplomacia com o resto do mundo; e à China, o rompimento com o duplo-papel de (1) rival dos Estados Unidos e (2) país alheio aos problemas globais.
Recapitulando. A sigla Bric (ainda sem o S) foi criada em 2001 pelo economista Jim O’Neill, então do Grupo Goldman Sachs. Referia-se a Brasil, Rússia, Índia e China, as mais promissoras economias em desenvolvimento – e novas queridinhas dos investidores. O sonoro nome ganhou popularidade entre analistas. Assim, os quatro países assumiram publicamente a postura de bloco e, mais tarde, convidaram a África do Sul (South Africa, por isso o posterior e atual S dos Brics) para participar.
As diferenças entre os integrantes sempre motivou críticas e o BDB pode, de fato, calar algumas delas. A unidade do suposto bloco sempre acaba questionada, afinal. Mas, se não dá para negar o abismo cultural a separar esses países, economicamente também há fatores claros de disparidade. Por exemplo, as reservas que fundamentarão o BDB. Apenas a China detém mais de 60% do montante. Enquanto isso, a África do Sul responde a mero 1%.
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