Enquanto um americano paga US$ 615 por um smartphone Galaxy S4, um brasileiro lança mão do dobro. O berço de um bebê nascido nos Estados Unidos sai por US$ 440 numa loja bastante visitada pela classe média. Já no Brasil, embalar o sono da criança custará ao menos quatro vezes mais.
Esses dois exemplos foram usados pelo New York Times para expor quanto os impostos têm pesado no bolso do brasileiro - que "ferve de ressentimento pelos gastos desnecessários da elite política".
A diferença entre a carga tributária de Brasil e Estados Unidos é gritante nos dados utilizados pela publicação. De todos os desembolsos de consumidores em São Paulo, 63% são com impostos. Em Nova York, apenas 8,9%.
Infográfico irônico (clique na imagem acima) elaborado pelo NYT usa fotografia de uma das manifestações que têm varrido o Brasil nos últimos tempos. Do preço da camiseta que cobre o rosto do ativista, 35% são impostos. A garrafa d'água da manifestante tem 45% de tributação; a bandeira do Brasil, 36%; e o celular utilizado para gravar os atos, 40%. E 44% do que foi pago pela máscara do 'V de Vingança' vão para o Fisco.
O jornal relembra que os atos no País tiveram como motor o aumento das passagens de ônibus. Menciona também a alta da inflação nos preços dos alimentos no primeiro semestre, pouco antes, que alçou o tomate ao status de grande vilão.
Se o ritmo inflacionário está bem longe dos 2.477% em 12 meses alcançado em 1993, a situação atual é de estagflação - no diagnóstico do NYT. O termo é empregado por economistas para caracterizar estágios de baixo crescimento na produção de bens e serviços (PIB) coincidentes com fortes altas de preços.
A inflação medida até o dia 15 de julho no Brasil está em 6,4% em 12 meses, bem perto do teto da meta de 6,5% estabelecido pelo Banco Central. E, após dois anos de avanços modestos da economia, o crescimento para este ano acaba de ser revisado pelo governo federal de 3,5% para 3,0%. O mercado, no entanto, já vislumbra avanço inferior a 2,3%.
"Economistas dizem que grande parte da culpa para os preços incrivelmente altos pode estar num sistema fiscal disfuncional que prioriza os impostos sobre o consumo, relativamente fáceis de ser arrecadados", diz o NYT.