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Mailson: dogmas alemães podem levar euro ao colapso

Para 'Economist', dogmas da ortodoxia alemã estão empurrando a moeda comum para o colapso

Por Carla Miranda
Atualização:

 

A crise do euro e o erro alemão "Cresce o risco de a zona do euro mergulhar numa crise devastadora. A deterioração da confiança, que se espalhou para a Itália e a Espanha, pode disparar um pânico incontrolável. No limite, o euro entraria em colapso e com ele o até agora bem sucedido projeto europeu. Para estancar a desconfiança, a solução é reforçar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (o que parece pouco provável) ou determinar que o Banco Central Europeu (BCE) funcione como emprestador de última instância para os países problemáticos, garantindo comprar toda sua dívida. A revista 'The Economist' tem-se posicionado favoravelmente à ação salvadora do BCE. Na edição desta semana, a publicação dedicou um editorial sobre o que lhe parece 'o problema alemão', isto é, a resistência em concordar com a solução extrema. A revista lembra a afirmação da chanceler Angela Merkel na reunião de seu partido em 14/11/2011: 'se o euro fracassar, a Europa fracassará'. Acontece que no mesmo dia Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, o banco central alemão, irritou os mercados com um duro comentário, rejeitando qualquer tentativa de se recorrer ao BCB. Argumentou que evitar a subida dos juros de papéis públicos europeus seria ilegal e errado. Mário Draghi, o novo presidente do BCE, também rejeitou a ideia, embora menos categoricamente. O Sr. Weidmann tem simpatizantes entre os finlandeses e holandeses. A rigidez do argumento do Sr. Wideman é parte da resistência das elites econômicas alemãs, 'as quais sustentam que grandes resgates são contraproducentes, pois inibem os incentivos para a ação reformadora dos governos, o que cria novos riscos'. Assim, para essas elites, 'adotar os eurobônus e assim dividir os riscos com todos os países criaria tentações para maior desregramento fiscal nos governos do sul da Europa. A compra de bônus pelo BCE impulsionaria a inflação. Muito melhor, prossegue o argumento alemão, é se manter fiel a princípios e dizer não'. É verdade, diz a 'Economist', que a elevação da taxa de juros sobre seus papéis induziu governos a agir, incluindo os da França e Espanha, 'Não fosse a pressão dos mercados, Silvio Berlusconi continuaria cometendo erros na Itália, adiando difíceis decisões econômicas. Os alemães e outros também estão certos em temer que a compra de papéis pelo banco central cause inflação. O problema é que as prescrições dogmáticas da 'ortodoxia alemã' estão empurrando a moeda comum para o colapso. Se a Sra. Merkel deseja salvar o euro, ela precisa enfrentar as elites econômicas de seu país e explicar aos eleitores por que a rigidez do respeitado Bundesbank está errada'. A ortodoxia alemã, prossegue a revista, 'ignora a possibilidade de a crescente elevação da taxa de juros sobre os títulos decorrer do pânico nos mercados financeiros. Os investidores que antes consideravam seguros os títulos italianos agora se preocupam com tudo, da integridade do seguro de crédito ao possível colapso da moeda única. O resultado é uma corrida que não pode ser estancada apenas pelas reformas da Itália. Ao adicionar pressões sobre os governos dos países em crise, os alemães e seus aliados conseguem forçar as reformas, mas ao custo de tornar mais difícil a salvação do euro'. O recente plano da zona do euro - de ampliar o fundo de resgate com dinheiro chinês - fracassou redondamente, o que deixa apenas duas saídas. Ou governos europeus assumem explicitamente alguma responsabilidade solidária pela dívida dos demais. Ou têm que fazê-lo implicitamente, permitindo que o BCE contenha o pânico com compras de papéis públicos, atuando como emprestador de última instância. O perigo é evitar ambas opções.' O risco de inflação é exagerado pelos alemães, pois com a fraca demanda e os cortes de gastos públicos o risco de inflação não é iminente. No futuro previsível, conclui a The Economist, o BCE é a única instituição capaz de conter rapidamente o pânico dos mercados. Há formas de contornar a oposição alemã. 'O Sr. Weidmann poderia ser voto vencido no BCE, mas na prática qualquer solução deve ser sancionada por Berlim. É por isso que a Sra. Merkel deve ser mais pragmática. De outro modo, a rigidez teutônica vai destruir o projeto europeu'."

* Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens relevantes da imprensa internacional.

Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog/

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