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Mailson: Itália também pode seguir os passos da Grécia

Banco Central Europeu parece disposto a esperar até o último momento para agir

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Por Carla Miranda
Atualização:

Já faz mais de um ano, se tem como certo que a Espanha vai seguir os passos da Grécia; depois será a Itália. O que causou as crises dos dois países é conhecido e o que vai acontecer é muito familiar, diz Charles Wyplosz em artigo para a Vox. Para ele, "duras medidas serão impostas pela Troica e isso vai piorar a situação. Metas não serão cumpridas, a recessão se aprofundará, bancos vão perigar e novas condições serão impostas. Os mercados e a imprensa vão teorizar sobre a saída de mais e mais países da zona do euro."

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Para o autor, a crise só acabará quando o Banco Central Europeu (BCE) agir como emprestador de última instância. O BCE pode fazer isso de forma fácil se garantir parcialmente toda a dívida pública da zona do euro ou estabelecer um teto para a taxa de juros dos títulos governamentais. Tal ação resultará em temporário fim da fase especulativa da crise, fornecendo tempo para a adoção de outras medidas necessárias. "Logo que a dívida for parcialmente protegida, seu custo vai ser conhecido e os bancos reconhecerão perdas em suas carteiras. Alguns deles vão balançar, o que exigirá sua reestruturação e o gasto de centenas de bilhões de euros. Se for bem feita, a reestruturação não envolverá dinheiro dos contribuintes, mas vai requerer injeções de liquidez. O BCE terá que agir como emprestador de última instância para os bancos, mas isso pode gerar perdas se eles não foram adequadamente estruturados." Isso exigirá, reconhece o articulista, a criação de uma união bancária, compreendendo uma autoridade única de supervisão, que se encarregará também de lidar com a falência de bancos.

O segundo passo é reconhecer que grande parte da dívida pública precisa ser reestruturada. "Os bancos vão ter que sofrer perdas, mas novos prejuízos precisam ser assumidos também pelo BCE e pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que comprou bilhões de euros de títulos públicos. Os credores privados vão pagar o preço de terem adquirido papéis que julgavam ser seguros. Este é um passo que qualquer governo gostaria de evitar, o que é compreensível, mas fútil."

Nos últimos meses, essas ideias começaram a ser consideradas, mas de forma parcial e hesitante, diz Wyplosz. "A esta altura, o risco é o de a união bancária - uma forte mas ambígua terminologia - não chegar à sua conclusão lógica. Mais dinheiro será fornecido para a Espanha e a Itália, embora não o suficiente e com condições contraproducentes." Por isso, assinala o autor, o BCE vai esperar. Agirá quando a situação atingir o clímax, pois sua função primordial é a de preservar a existência do euro. Mas ainda atuará como um completo emprestador de última instância para bancos e governos. "No final das contas, o BCE pode salvar a zona do euro, mas não pode consertá-la, tarefa que somente os governos podem realizar".

Para piorar, afirma Wyplosz, os governos não aceitarão encarar a reestruturação da dívida pública, deixando sem solução a causa básica da crise. Muitos pequenos passos serão dados na direção correta, mas não haverá um plano, grande e dolorosamente necessário. A boa notícia, diz, é que finalmente o euro começou a se depreciar. "Como não há espaço para uma expansão monetária e muitos governos não podem usar a política fiscal com objetivos contracíclicos, o único impulso para estancar a recessão será um crescimento das exportações.". Um euro desvalorizado é do interesse da Europa, conclui o articulista.

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* Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens da imprensa internacional.

Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog/

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