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Mailson: O medo do despenhadeiro fiscal americano

Em editorial, Financial Times diz que economia mundial pode entrar em duplo mergulho

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Por Carla Miranda
Atualização:

 

Editorial do Financial Times chamou a atenção para os riscos da ausência de um acordo, até o final deste ano, em torno de medidas para reduzir o déficit público americano. Para o jornal, os formuladores de políticas públicas dos Estados Unidos têm podido acusar os ventos frios oriundos da zona do euro como causa da gelada recuperação da economia. Agora, decisões a serem tomadas em Washington podem empurrar a maior economia do mundo para um duplo mergulho recessivo.

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Na última terça-feira, o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês) publicou preocupante atualização de suas previsões. Estima-se que o tamanho do "despenhadeiro fiscal" - as medidas para cortar o déficit previstas para entrar em vigor até o fim do ano  - é de cerca de USD 500 bilhões, ou mais de 3% do PIB. O efeito desse enorme pacote, em apenas um ano, "é comparável em magnitude ao pacote de estímulos que livrou a economia da recessão dois anos atrás". E mais cortes poderiam vir. O déficit certamente cairá, mas ao custo de uma nova recessão.

O despenhadeiro resulta das medidas de ajuste fiscal aprovadas pelo Congresso para vigorar de um só golpe. A mais importante é o término da vigência das medidas adotadas em 2001 pelo governo Bush (redução do imposto de renda, suspensão de contribuições previdenciárias), seguida do "sequestro", a camisa de força criada pelo Congresso, isto é, aquelas que entrarão em vigor caso não se chegue a um acordo sobre melhores ações para reduzir o déficit.

Considerando que soluções de compromisso não é moda em Washington, diz o Financial Times, "há razões para temer uma nova recessão. O Federal Reserve ficou mais ciente da necessidade de maiores estímulos monetários, o mais cedo possível. Seria melhor se agisse já". Melhor ainda, prossegue o jornal, seria os parlamentares colocarem o bem estar dos americanos à frente de suas próprias diferenças. "Se o CBO não os tira da complacência, o que o fará? Cair no despenhadeiro fiscal levaria de volta o desemprego para 9%, o que seria um desastre econômico e político". Mesmo que haja o acordo, afirma o editorial, o panorama está longe de ser róseo. Se o Congresso mantiver a redução de impostos e o "sequestro" for cancelado, o CBO projeta um crescimento morno de 1,7% e uma taxa de desemprego de 8%, que é insatisfatório mas declinante.

Todos esperam que as eleições resolvam o impasse. Ocorre que as incertezas quanto ao despenhadeiro fiscal já prejudicam a economia. "Um Congresso em fim de mandato, politicamente fragilizado, dificilmente terá condições de aprovar medidas de caráter permanente. Mas isso parece a melhor das esperanças", conclui o editorial.

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* Mailson da Nóbrega foi ministro da Fazenda (1988 a 1990) e hoje é sócio da Tendências Consultoria Integrada e membro de conselhos de administração de empresas no Brasil e no exterior. Ele colabora com o Radar Econômico comentando artigos e reportagens da imprensa internacional.

Blog: http://mailsondanobrega.com.br/blog/

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