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Unilever processa startup que faz maionese sem ovos

Stephanie StromThe New York Times

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Atualização:

Just Mayo: ervilhas amarelas no lugar de ovos motiva processo por 'propaganda enganosa' (AP) Foto: Estadão

A maionese ainda pode ser chamada assim se não levar ovos na receita? Para a gigante dos alimentos Unilever, a resposta é não. E é por isso que a empresa está processando a startup Hampton Creek, que está produzindo uma pasta com sabor de maionese, acusado a rival menor de propaganda enganosa e fraude.

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A Hampton Creek, que conta com investidores como Bill Gates, o bilionário Li Ka-shing, de Hong Kong, e outros nomes conhecidos das firmas de capital, substitui os ovos por ervilhas amarelas no seu produto, batizado de Just Mayo.

No processo, a Unilever alega que a Just Mayo está interferindo nas vendas dos seus populares produtos de maionese, conhecidos como Hellman's no leste dos Estados Unidos e como Best Foods no oeste do país.

A Just Mayo conquistou rapidamente espaço de distribuição nas grandes cadeias de mercados e lojas do varejo, como Target e Wal-Mart, e a Hampton começou recentemente a comercializar a Just Cookies, uma massa para biscoitos livre de laticínios e ovos e oferecida em quatro sabores.

O rótulo da Just Mayo mostra um ovo branco sendo rachado por uma ervilha, algo que a Unilever diz ser uma violação da lei federal de marcas registradas e publicidade ao dar aos consumidores a falsa impressão de que o produto contém ovos.

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A Unilever disse que a Just Mayo carecia de testes para sustentar a alegação feita em sua página do Facebook segundo a qual a marca teria vencido a Hellman's num teste de sabor. E a Unilever disse que a Just Mayo não se enquadra na definição de maionese de acordo com a FDA, agência americana de vigilância sanitária, de acordo com a qual a maionese seria uma emulsão de óleo vegetal, um ácido como vinagre ou suco de limão, e um ingrediente contendo as gemas dos ovos. É por isso que o Miracle Whip, vendido pela Kraft Foods, descreve a si mesmo como molho de salada.

A advogada Michele Simon, que publica em seu blog (eatdrinkpolitics.com) textos ligados às políticas alimentares e questões ligadas à comida, escreveu que o critério da FDA foi definido em 1957 e precisa ser atualizado. "A Hampton Creek não tem culpa se a inovação avança mais rapidamente do que a regulamentação federal", publicou ela no domingo à noite. "Isso é dado como certo em quase todas as indústrias impulsionadas pela tecnologia."

A Unilever quer que a Hampton Creek (empresa de capital fechado que não divulga seus demonstrativos financeiros) pague três vezes o lucro obtido como forma de indenização, arcando também com as despesas legais da querelante, uma empresa avaliada em US$ 60 bilhões. Pede-se também ao tribunal que exija da Hampton Creek a remoção da imagem do ovo no rótulo; o recall de todos os produtos, anúncios e materiais promocionais que possam confundir o consumidor; e o fim das alegações segundo as quais a Just Mayo seria superior aos produtos Hellman's e Best Foods.

Em entrevista, o fundador da Hampton Creek, Josh Tetrick, disse que o processo era um sintoma de um problema muito maior no setor dos alimentos. "Trata-se de algo que vai muito além da nossa publicidade e toca na grande mudança da qual necessitamos na produção de alimentos em geral", disse ele.

"Precisamos descobrir uma maneira de solucionar os grandes problemas como o impacto da indústria dos alimentos no meio ambiente e na saúde." Ele disse que sua empresa buscou orientação jurídica antes de batizar o produto de Just Mayo e destacou que a Boulder Brands, outra iniciante no ramo dos alimentos, também tem no mercado um produto chamado Mindful Mayo que não contém ovos.

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Ele se disse surpreso ao ver que a empresa processando a Hampton Creek era a Unilever, que está promovendo um novo programa de sustentabilidade chamado Project Sunlight. "Se analisarmos aquilo que o diretor executivo da empresa, Paul Polman, diz a respeito da transformação radical e dos novos modelos de negócios exigidos pela sustentabilidade, me parece que a Unilever está nessa linha de frente", disse ele.

A Unilever não respondeu imediatamente às solicitações de entrevista na segunda feira. O apresentador de TV e chef Andrew Zimmern, fã da Just Mayo, começou uma petição online no site change.com no domingo, pedindo à Unilever que pare de "praticar bullying" contra empresas menores. Na manhã de segunda feira, a petição já tinha recebido o apoio de mais de 10 mil pessoas. /Tradução de Augusto Calil

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