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O blog do Caderno de Imóveis

Decifra-me ou te devoro

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Por Edilaine Felix
Atualização:

Por Hubert Gebara *

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O desafio tecnológico foi lançado e ele é, com certeza,  irreversível para a vida moderna. A onda tecnológica pode aos poucos ocupar aquelas áreas onde nós humanos cometemos nossas falhas. Essa onda veio para aumentar a segurança de um condomínio? O debate sobre implantar ou não a portaria virtual nos prédios é resultado direto do avanço de um novo mundo cada vez mais dependente de tecnologia. Pode ser que sejamos precipitados no gueto, caso nos recusemos a decifrar essa moderna esfinge.

"Decifra-me ou te devoro". A sentença que a Esfinge endereçou  a Édipo em tempos remotos nunca foi tão adequada. A moderna Esfinge lança seu novo desafio em tempos atuais. Grande parte dos condomínios tem investido de forma crescente em tecnologia de ponta. Com muita  razão, achamos que, com isso, vamos fechar o círculo de segurança em favor de nossa família e de nosso patrimônio. Com a pletora tecnológica, sem dúvida tornamos  cada vez mais difícil o delito contra essas comunidades que, no passado, funcionavam sem nenhum ou com um mínimo de recursos dessa natureza. Muitos prédios funcionavam apenas com o zelador.  Estamos agora questionando se a portaria virtual pode substituir a emblemática figura do porteiro.

Não há dúvida sobre a importância desse  profissional. Mas a tecnologia traz consigo um viés de infalibilidade, que não remete ao trabalho humano. Há relatos de que porteiros podem se distrair  em suas tediosas jornadas noturnas, o que na verdade ocorre em alguns casos. Há também a importante questão dos custos: cada portaria exige três porteiros e há prédios com duas portarias. Nesse caso são portanto seis porteiros, sem contar com o folguista para evitar as horas extras. Qual é então o custo da portaria virtual? Ao que tudo indica, cada caso é um caso: vai depender muito do perfil do condomínio. O custo depende também de uma simulação bem feita e cada empresa prestadora dessa inovação poderá ter um cálculo próprio. A portaria virtual poderá ainda ser mista com a presença física do porteiro, em horário parcial. Talvez seja essa a opção  antes da instalação da portaria  full time.

Os síndicos deveriam desde já pensar numa reunião sobre o assunto para  começar a sentir  o clima entre os  moradores. Vai haver muita polêmica, sem dúvida. Inegavelmente, a portaria virtual tem as suas vantagens. Ela pode ser monitorada por controle remoto pelo zelador e pelo síndico. A empresa que fornece o serviço pode entrar em ação instantaneamente e acionar a polícia em caso de perigo. A biometria acoplada ao novo sistema está sendo reconhecida como infalível. Será?

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Não estamos tomando partido: o porteiro também tem suas virtudes: ele é humano, pode ser chamado pelo nome e, com razão  pode, para muitos, ser insubstituível. Falar com gente de carne e osso não é o mesmo que falar com as máquinas.

O que está claro é que, se o porteiro não veio ao mercado de trabalho para ficar definitivamente atrelado à portaria dos prédios, a tecnologia está demonstrando uma gulodice ainda longe de ser saciada. Transcende o universo dos condomínios: é uma onda oceânica que parece  estar apenas começando a bater na praia, mas  que já conseguiu mudar para melhor ou para pior a nossa vida pública e  privada. Está mudando o perfil de síndicos, subsíndicos, condomínios e condôminos. Está mudando nossos hábitos, nossa família, nosso trabalho, nosso pensamento.

Não sabemos ainda se esta avalanche tecnológica é a maior mudança histórica depois da Revolução Industrial ou da extinção dos grandes répteis. Por enquanto estamos assistindo,  sem saber se somos contra ou a favor. Provavelmente somos a favor.  Porque gostamos de tecnologia. Ao lado dos prazeres da vida e de nossa obsessão pelo consumo, ela é a nossa  distração atual. É claro que, com a portaria virtual,  pode haver desemprego. No mercado de trabalho, muitas profissões estão aos poucos deixando de existir. Muitas já foram extintas.

Seja como for, é emocionante viver em um mundo que se transforma a cada momento. Os condomínios não estão imunes a esse processo.

* vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do SecoviSP e diretor do Grupo Hubert/hg@hubert.com.br

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