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Marketing de venda encobre desafios de edifício sustentável

GUSTAVO COLTRI

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Atualização:

A cada dia, a bandeira da sustentabilidade é hasteada com mais vigor no mercado imobiliário. Mas, segundo especialistas, as medidas tomadas por incorporadoras no desenvolvimento dos projetos nem sempre são detalhadas ao consumidor da forma como deveriam.

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"O mercado exagera um pouco no marketing", diz o consultor em sustentabilidade na construção civil Luiz Henrique Ferreira, da Inovatech Engenharia. Ele se refere à publicidade realizada por companhias na divulgação de certificações "verdes" disponíveis para edificações. "Há empreendedores que prestam a Fuvest e dizem que estão na USP. Há um longo caminho entre pedir a certificação e realmente ser certificado", explica.

Quando o consumidor compra uma unidade em um empreendimento que busca respeitar algum sistema de avaliação, apenas deposita confiança no compromisso do empreendedor de respeitar boas práticas de eficiência e conforto, na medida em que a conquista dos selos de sustentabilidade somente é obtida após a conclusão da obra.

"Mesmo que anunciássemos a certificação do projeto, não há como garantir que o empreendedor vai cumpri-lo", diz o diretor do Green Building Council Brasil, Felipe Faria. A entidade promove e discute em território nacional a certificação norte-americana Leed, até o momento a mais difundida no País, com 653 registros, 80 deles atestados.

Tal processo permite diversos tipos de avaliação dos produtos imobiliários, desde os móveis de uma sala comercial até o relacionamento do empreendimento com a vizinhança. No entanto, o selo só é concedido depois de cumpridos todas as etapas até o funcionamento pleno do imóvel. As fases anteriores a essa apenas integram o processo, em regra acompanhado por consultores.

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 Foto: Estadão

Esses profissionais indicam soluções para os empreendedores na implementação de medidas para reduzir o consumo de recursos e, ao mesmo tempo, promover o conforto térmico, acústico e visual do usuário. "Pode ser que um projeto requeira, por vários motivos, um desempenho acústico melhor e não seja tão crítico na questão térmica. Pode ser o contrário. Essas combinações é o que o empreendedor escolhe", diz o professor Manuel Martins, coordenador do Processo Aqua, um dos mais importantes no Brasil, com 65 complexos em fase de certificação.

Baseado no tradicional sistema francês HQE, de 1974, o Aqua foi adaptado para aplicação em edificações brasileiras em 2008 pela Fundação Vanzolini. Ele diferencia-se do Leed não apenas pela tropicalidade, mas também pelo método de avaliação: o sistema norte-americano é certificado em única etapa, remotamente, e por meio de auditorias em laudos de performance apresentados pelos incorporadores, enquanto o método brasileiro faz análises presenciais e em etapas.

O processo Aqua tem, ao todo, quatro certificações, todas interdependentes. A primeira delas é na fase de programa, com especificações sobre o empreendimento, as soluções propostas e as estratégias de viabilidade. A certificação na fase de concepção é obtida após a conclusão de todos os projetos da obra, com detalhamentos das economias e dos sistemas de gerenciamento da construção - os empreendimentos estão nesta etapa de cumprimento das exigências do Aqua quando começam a ser vendidos.

O terceiro selo, na fase de realização, só é concedido se o edifício, já pronto, seguir todas as recomendações do projeto. Por fim e apenas para as edificações de serviços, é possível a conquista do selo de operação e uso.

No mundo, há outros sistemas, ainda pouco difundidos no Brasil, como o método inglês BRE e o alemão DGNB - ambos com auditorias não presenciais. Por aqui, a Caixa Econômica Federal também desenvolveu um selo para empreendimentos que buscam financiamento na instituição: o Casa Azul, com seis projetos reconhecidos. O selo é concedido durante o desenvolvimento da obra e dá ao empresário taxas diferenciadas de juros. Para mantê-lo, a empresa deve seguir as medidas sustentáveis na construção, e o descumprimento pode gerar multa de até 5% sobre o investimento.

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O diferencial do Casa Azul está na inclusão de práticas sociais entre seus critérios, como orientação aos empregados e moradores. Em São Paulo, o selo foi obtido por dois complexos, um deles integrante do programa municipal de urbanização de favelas, no Paraisópolis, onde vive a dona de casa Iracema Maria de Almeida, de 38 anos, em um apartamento com redutores de água nas torneiras e sistema de chuveiros a gás. "É bem claro e ventilado lá", diz a moradora, que paga cerca de R$ 160 com as contas de água, luz e condomínio. As adaptações no projeto geraram acréscimo de 1% nos custos do conjunto.

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