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Ações e dólar na instabilidade; inflação e juros em queda

(*) Com Tom Morooka

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Por Regina Pitoscia
Atualização:

A bolsa de valores parece mais inclinada à relativa estabilidade ou à baixa e o dólar à alta, no momento. É uma resposta à persistência e até ao agravamento das incertezas em relação aos impactos econômicos da epidemia de coronavírus na China e no mundo.

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Como é um comportamento que reflete o cenário de momento, portanto, seria uma temeridade reproduzi-lo como tendência, de acordo com especialistas de mercado. A bolsa de valores anda deprimida pelas dúvidas com as consequências negativas do coronavírus sobre a economia chinesa, já em desaceleração, e da dos demais países, como o Brasil, que tem na China a principal compradora de commodities agrícolas e minérios.

O sentimento de incerteza com esses rumos econômicos tem levado os investidores a vender ações e refugiar-se em portos seguros como o dólar para a proteção de patrimônio. É uma demanda que existirá, na atual proporção, pelas expectativas de analistas, tão-somente enquanto persistir a insegurança com a propagação da epidemia e seus efeitos.

"O nome do jogo no mercado financeiro é coronavírus", resume o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José Pena, em referência ao principal fator de preocupação, no momento, de investidores e mercados. "O que está movendo os mercados hoje não tem nada a ver com as condições do Brasil. É um movimento global, que tem afetado até com mais intensidade outros países emergentes".

Uma eventual reversão desse clima de incertezas com a melhora do humor dos investidores tenderia a solapar as condições que dão suporte à escalada momentânea e o dólar tenderia a voltar rapidamente para patamares mais baixos. Ao contrário, um agravamento de expectativas e aumento de pessimismo em relação à doença, por sua vez, poderiam fornecer mais combustível à escalada da moeda americana.

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O ambiente de insegurança também tem servido de freio à retomada consistente de valorização da bolsa de valores por aqui, com o comportamento pautado apenas pelas notícias pontuais sobre o coronavírus.

Em meio a tantas dúvidas e falta de tendências, seria uma temeridade o investidor fazer movimentações de curto prazo, avalia José Pensa, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos. "O comportamento de ações será no mínimo de muita volatilidade e o mercado poderá voltar tanto para 110 mil pontos como avançar para 120 mil - a pontuação se refere à evolução do Ibovespa (Índice Bovespa, o principal índice da bolsa), que fechou sexta-feira em 113.842,05 pontos.

Com essa pontuação, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, pouco andou do começo ao fim da semana, em termos de fechamento. Encerrou o período cm valorização residual de 0,07%, também a do mês.

O dólar comercial rompeu o patamar de R$ 4,32, novo recorde, no fechamento de sexta-feira e arrastou consigo o dólar-turismo, cotado em negócios com os turistas por R$ 4,72 em São Paulo. A valorização acumulada pelo dólar na semana e no mês, até agora, foi de 0,70%.

A arrancada das cotações não deve ser motivo para a compra precipitada de moeda americana a qualquer preço, afirmam especialistas. Especialmente porque a pressão que tem levado o dólar para o alto tem vindo de fora, sem influência dos fatores domésticos.

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Uma cotação do dólar compatível com as condições econômicas internas estaria em um intervalo entre R$ 4,10 e R$ 4,15, segundo analistas, denotando espaço para o recuo dos preços caso cessem ou sejam suavizadas as pressões derivadas de incertezas externas.

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Juros e inflação

O mergulho da inflação, que foi de 1,15% em dezembro para 0,21% em janeiro, refletiu uma rápida diluição da elevação de preços da carne e permitiu a volta da inflação à trajetória de baixa. Cessados os efeitos da pressão sazonal, é um dos aspectos positivos da política de metas de inflação, em que o Conselho Monetário Nacional define uma meta de inflação a cada ano na qual o Banco Central mira para calibrar a taxa básica de juros, a Selic, para alcançá-la.

Além do manejo dos juros, o BC precisa de credibilidade suficiente para que a condução da política monetária seja bem-sucedida e os agentes econômicos tenham confiança de que a meta inflacionária será alcançada - a meta definida para este ano é 4%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual, para cima ou para baixo.

A expectativa é que a inflação dê trégua daqui para a frente, embora não se descartem possíveis soluços, provocados pelo choque de preços, principalmente agrícolas. Castigados pelas recentes chuvas, verduras e legumes podem chegar mais caros à mesa dos consumidores.

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Outra possível pressão sobre a inflação poderia vir da alta do dólar, que sobe puxado pelas incertezas com os efeitos econômicos, na China e no resto do mundo, do coronavírus.

Na semana passada, mais que a redução da taxa básica de juros, a Selic, de 4,50% ao ano para 4,25%, já amplamente esperada, o que atraiu a atenção de investidores e mercado financeiro foi a indicação, transmitida pela nota que se seguiu à reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), de que o corte pode ter sido o último do atual ciclo de redução do juro.

 

 

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