Foto do(a) blog

Cuide das finanças pessoais

Bolsa bate recordes de alta, mas pode haver tropeço

(*) Com Tom Morooka

PUBLICIDADE

Por Regina Pitoscia
Atualização:

O desempenho da bolsa de valores nestes primeiros dias do ano, que coincidem com os primeiros momentos do governo do presidente Jair Bolsonaro, parece reforçar a expectativa de especialistas que apontam as ações como candidatas ao investimento mais rentável em 2019.

PUBLICIDADE

As declarações e sinalizações dadas pela equipe econômica, sobretudo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, agradaram aos investidores. O otimismo com o que viria à frente reforçou a compra de ações, principalmente pelos investidores do mercado doméstico, movimento que levou a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, a recordes nominais de alta.

Integrantes da equipe não economizaram nas mensagens de intenção. Acenaram reiteradamente com as reformas econômicas, principalmente a previdenciária e a tributária, privatização de empresas estatais, concessões, investimento em infraestrutura, ações de desburocratização, enfim, tudo que os agentes financeiros, incluídos os aplicadores, queriam ouvir na largada do novo governo.

O Ibovespa (Índice Bovespa, que mede a valorização média das ações) avançou acima de 91 mil pontos, namorou os 92 mil e passou a animar apostas de que caminha para novos patamares, inicialmente para os 100 mil pontos e depois mais acima, na medida em que as promessas de campanha de Bolsonaro forem se confirmando na prática.

Desde já, a aprovação da reforma da Previdência Social é vista como o principal objetivo, o principal instrumento para colocar as contas públicas no caminho de um ajuste fiscal. E também o maior desafio, porque as mudanças previstas tenderiam a  enfrentar resistências por parte de interesses corporativistas que sempre se opuseram, em votações no Congresso, contra alterações nas regras da aposentadoria.

Publicidade

A dificuldade promete ser grande, mas animaram os investidores as articulações políticas que redundaram no apoio do PSL (Partido Social Liberal), do presidente Bolsonaro, à reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM) para a presidência da Câmara. A recondução de Maia ao cargo tenderia a facilitar o encaminhamento e a votação da proposta de reforma previdenciária na Câmara, onde o governo precisa de dois terços de votos dos deputados para sua aprovação.

Os sinais de negociações bem-sucedidas para a formação de uma base de sustentação política do governo e declarações da equipe econômica que confirmam diretrizes comprometidas com reformas defendida pelo então candidato Bolsonaro, ainda que sem propostas concretas, fortalecem a expectativa de continuidade de valorização da bolsa de valores.

Recorde nominal

A tão alardeada quebra de recordes do Ibovespa, contudo, é apenas nominal, esclarecem especialistas. Em termos reais, descontada a inflação ou a variação do dólar, o recorde de alta da bolsa de valores ocorreu há quase dez anos, em maio de 2008, na esteira da conquista do grau de investimento, concedido em abril daquele ano pela agência de avaliação de risco Standard & Poor's (S&P).

O grau de investimento equivale a um selo de garantia, indicando que um país com essa classificação é um bom pagador e oferece baixo risco de calote para investidores de qualquer canto do planeta.

Publicidade

A valorização da bolsa de valores acima de 91 mil pontos do momento, descontada a inflação ou a variação do dólar desde 2008 até hoje, ainda é bastante inferior à alcançada pelo Ibovespa dez anos atrás. Este é um dos motivos que levam especialistas a considerar baratas e com preços atraentes as ações brasileiras, apesar da vistosa valorização da bolsa.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Por essas contas, a bolsa de valores teria ainda bastante espaço para subir, até que o Ibovespa chegue ao mesmo nível do recorde real de 2008. É também razão de aposta no potencial de valorização do mercado de ações doméstico, em um cenário de maior confiança e animação com o novo governo.

A perspectiva é otimista, mas isso não significa que a valorização está assegurada e ocorrerá linearmente, sem solavancos ou derrapagens pelo caminho. Percalços farão parte dessa jornada e deverão pregar sustos nos investidores, que precisam manter sangue-frio em momentos de turbulências, para não tomar decisões intempestivas e precipitadas que podem redundar em perdas.

É importante saber em detalhes as medidas que serão anunciadas pela equipe econômica daqui para a frente - alguns pontos da reforma previdenciária poderiam ser anunciados nesta semana - e principalmente acompanhar como elas serão adotadas. Uma frustração de expectativas poderá levar o mercado de ações a inverter, ainda que momentaneamente, a trajetória de alta.

Bolsa americana

Publicidade

Um sinal preocupante, porque pode afetar o desempenho da B3, é a forte queda das bolsas americanas nesta virada de ano. A preocupação por aqui é que, com o recuo das ações nos EUA, o investidor retire recursos aplicados no Brasil para cobrir perdas no mercado americano ou deixe de retomar as compras, depois de vender ações no fim de ano e levar os recursos para fora do País.

Ainda que os investidores domésticos estejam mais ativos na compra de ações que os estrangeiros, o principal suporte de valorização da bolsa de valores tem sido tradicionalmente as compras de capital externo.

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.