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Cuide das finanças pessoais

O que está por trás do crescimento da previdência privada

Em 2019, o total de ingresso de recursos nos planos de previdência privada foi de R$ 126,4 bilhões, o que representa um crescimento de 16,9% em relação ao ano anterior, segundo dados da Fenaprevi (Federação Nacional da Previdência Privada e Vida). Com isso, 13,5 milhões de brasileiros possuem hoje uma aplicação nesse segmento.

Por Regina Pitoscia
Atualização:

O receio das mudanças que viriam com a reforma da Previdência Social, de maior dificuldade para obter a aposentadoria, e redução do seu valor, deu um bom empurrão para esse desempenho do setor. Se a tentativa de se tornar cada vez menos dependente do benefício pago pelo governo já era importante antes da reforma, ela ganhou mais peso desde novembro do ano passado.

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Os temores se confirmaram: foi fixada idade mínima para a concessão do benefício (62 anos para a mulher e 65 para o homem), o tempo de contribuição foi esticado (40 anos) para a aposentadoria integral, e seu cálculo será sobre todas as contribuições, o que tende a reduzi-la.

Nesse contexto, é prudente pensar em investimentos que venham a permitir uma renda complementar nessa fase da vida, em que há uma queda considerável do poder aquisitivo. Os planos de previdência privada se colocam entre as opções mais indicadas para a composição de um pé-de-meia, em prazos mais dilatados, por ao menos três boas razões: benefícios fiscais, praticidade na transmissão de herança e possibilidade de trocar de plano (portabilidade) sem perder as vantagens.

"É importante que as pessoas tenham maior consciência sobre a importância de iniciar a formação de uma poupança de longo prazo, assim que entram no mercado de trabalho", diz Henrique Pocai, chefe de Produtos da XP Corretora de Seguros.

Mas igualmente relevante, segundo ele, é saber em que ativos o dinheiro será aplicado de forma a atingir os objetivos e conseguir um retorno confortável para o orçamento no futuro, além de identificar que tipo de fundo é o mais indicado ao seu ao perfil de investidor: se conservador, moderado ou agressivo.

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"Hoje, algo em torno de 83,9% dos recursos da indústria dos fundos de previdência privada estão alocados em renda fixa", informa o executivo. A preocupação com essa concentração se justifica no cenário de juros baixos, com uma Selic de 4,25% ao ano, que reduz consideravelmente o rendimento a ser proporcionado pelas aplicações em renda fixa.

Por esse motivo e também pela flexibilidade que esses fundos passaram a ter desde 2017 para montar suas carteiras, é preciso considerar uma diversificação entre eles, na opinião do especialista. "A legislação permite aplicar entre 70% e 100% em ações, dependendo do tipo de fundo, e desde dezembro do ano passado é possível também ter aplicações no Exterior."

Essas condições possibilitam ao gestor promover uma mescla entre os fundos de ações e os multimercados em busca de rendimento mais alto. "Com a diversificação, é possível criar bons produtos, carteiras de previdência privada com vários tipos de fundos, e a formação de um portfólio completo, que tenha ao mesmo tempo condições de proteger o patrimônio e proporcionar um retorno interessante".

Pocai explica que, por ser um produto de longo prazo é possível correr mais risco na renda variável. Isso porque, embora seja mais suscetível a variações, em períodos mais dilatados eventuais prejuízos podem ser compensados, além de abrir a possibilidade de obter ganhos mais robustos.

Mesmo em fundos de perfil mais conservador, ele que afirma que é possível obter uma remuneração diferenciada e mais alta do que o juro DI, o que anda colado à Selic. A estratégia é formar carteiras de crédito privado, com papeis como debêntures, emitidos por empresas, CDBs, pelos bancos, por Tesouro Direto IPCA, emitido pelo governo e vinculado à inflação, além de juros ativos, operações que permitem ganhar em cima das oscilações dos juros.

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Com essa receita, relata Henrique, os fundos de previdência privada oferecidos pela XP com carteira de renda fixa vêm sendo capaz de proporcionar um retorno de 6,3% ao ano. Já os fundos de perfil moderado ou agressivo, que incluem ativos de renda variável, como ações, juros, moedas e outros ativos estão rendendo mais, entre 11,7% e 14,9% ao ano, respectivamente.

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Além da rentabilidade a ser obtida no longo prazo, há particularidades na previdência privada que também devem ser consideradas. A questão tributária é uma delas. Há dois tipos de plano, o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). O primeiro permite a dedução de até 12% sobre os rendimentos do contribuinte na declaração anual, no modelo completo, e tem o imposto cobrado sobre o capital aplicado mais os rendimentos; o segundo não oferece essa condição, mas tem o imposto aplicado somente sobre os rendimentos.

Nos dois é possível optar pelo sistema regressivo de imposto, quanto maior o prazo da aplicação, menor o imposto. Nele, a alíquota inicial é de 35%, e vai caindo de modo a chegar em 10% para aplicações de, pelo menos, 10 anos. Já na tributação pela tabela progressiva de imposto, as alíquotas vão de zero a 27,5%, dependendo do valor a ser tributado.

Henrique ressalta que a redução de imposto permitida pelo PGBL na declaração e a aplicação da tabela regressiva, para aplicações de prazo mais longo, é relevante e tem de ser considerada. A vantagem é perceptível a partir do sexto ano de aplicação, segundo ele. Essa condição é mantida mesmo que o participante mude de plano no meio do caminho, pelo processo da portabilidade. O mesmo que permite que o aplicador insatisfeito com o resultado de seu fundo mude para outro gestor, sem ser tributado na troca.

Outra vantagem dos planos de previdência privada está ligada à transmissão da herança em caso de morte do titular. Pocai explica que, sobre o patrimônio que estiver nesses fundos, os herdeiros não terão de arcar com custos como o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD), nem honorários de advogados, ou taxas e custos de cartório. Despesas que podem resultar em uma beliscada em torno de 12% sobre o total. O que estiver em previdência privada será automaticamente repassado aos herdeiros, uma vez comprovado o óbito.

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O aumento de concorrência no setor também tem levado a uma redução nas taxas de administração cobrada por esses planos, e muitos deixaram de cobrar taxas de carregamento.

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