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Opiniões do mercado estão divididas sobre o rumo da Selic

Risco de crise econômica global, provocado pelo coronavírus, e sinais de apática retomada do crescimento econômico brasileiro, como indicou o PIB (Produto Interno Bruto) de 2019, seriam motivos suficientes para o Banco Central (BC) reconsiderar a ideia expressa em janeiro, após a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), de interromper o ciclo de redução da Selic, que seria mantida em 4,25% ao ano por bom tempo.

Por Regina Pitoscia
Atualização:

O PIB de 1,1% em 2019 apontou uma piora na recuperação econômica de 2020, que vem passando por seguidas revisões para baixo, principalmente como consequência do avanço do coronavírus. A projeção atual de crescimento do País para este ano cedeu, pela primeira vez, abaixo dos 2%, e ficou em 1,99%, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central.

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Com a redução emergencial dos juros americanos pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), na última semana, o BC sinalizou que poderia dar continuidade à redução da Selic. Foi o bastante para alimentar expectativas no mercado financeiro sobre novos cortes do juro básico como forma de tentar destravar e estimular a economia. A ideia, contudo, divide opiniões, tanto em relação à decisão propriamente quanto ao tamanho da possível redução, que tem aposta majoritária de 0,25 ponto porcentual, com a Selic recuando para 4% ao ano, na próxima reunião do Copom, dias 17 e 18.

Uma corrente de analistas defende a ideia de manutenção da Selic, por considerar a redução do juro contraproducente como fator de estímulo, por causa da grande ociosidade existente (há máquinas e capital humano de sobra para dar conta da produção até uma retomada mais consistente).

Se não se esperam ganhos com juros baixos pelo lado de impulso à retomada econômica, esses analistas chamam a atenção para o aumento de pressão que a nova redução da Selic poderia gerar sobre o dólar, que vem batendo seguidos recordes de alta.

A principal causa, segundo especialista, está na redução da diferença entre os juros brasileiros (bastante elevados e, portanto, atraentes até tempos atrás) e os juros internacionais, mais baixos, o que vinha encorajando o investidor estrangeiro a aplicar em renda fixa no País. O juro baixo estancou não apenas o ingresso e a oferta de divisas como também fez com que o capital externo deixasse o Brasil.

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Parte dos analistas aponta também certa incongruência do BC na gestão da política monetária e cambial, caso seja mantido o ciclo de redução dos juros. Não faria sentido o BC reduzir os juros, que aumenta a pressão sobre o dólar ao inibir a atração de capital estrangeiro, e ao mesmo tempo fazer intervenções no mercado de câmbio para conter o avanço da moeda americana.

Outra dúvida está relacionada aos possíveis efeitos nocivos da alta do dólar, que poderia ganhar fôlego adicional com juros mais baixos, sobre a inflação. De um lado, a fraca atividade e o baixo consumo tendem a inibir o repasse da desvalorização do real aos preços. De outro, não seria possível conter esse repasse, ainda que parcial, se houver uma estilingada mais forte das cotações do dólar.

Os contratos de juro negociados no mercado futuro projetam taxas superiores à Selic, o que seria uma indicação de que os agentes econômicos e financeiros esperam uma elevação da inflação e dos juros.

Seja como for, existe uma certeza sobre quem vai arcar com os efeitos de possível Selic mais baixa. Será o aplicador na renda fixa, principalmente se depois dessa provável redução vierem outras ao longo do ano. Há estimativas que apontam para um juro básico de 3,75% e até 3,50% ao ano no fim de 2020, que, se confirmado, tenderia a esvaziar a renda fixa pelo elevado risco de rendimento negativo.

Senão por outros motivos, ao contrário do investidor estrangeiro que carrega o dinheiro para outras praças supostamente mais rentáveis, o aplicador doméstico tradicional da renda fixa não tem praticamente para onde mudar no segmento mais seguro de investimento.

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Só para traduzir em números: com uma Selic de 3,75% ao ano, a caderneta vai render 2,6% ao ano, ou 0,22% ao mês. Será um rendimento negativo toda vez que a inflação vier a superar esses níveis.

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