Em abril, mês que seguiu ao do pânico e das turbulências que varreram o mercado financeiro, provocadas pelo temor com a pandemia do coronavírus, a caderneta de poupança teve uma captação líquida de R$ 30,5 bilhões. O saldo positivo é a diferença entre depósitos no valor total de R$ 215,4 bilhões e saques de R$ 184,9 bilhões naquele mês.
Em maio, a captação líquida foi ainda maior e bateu recorde desde o início da série histórica de seu desempenho, em 1995: os depósitos superaram os saques em R$ 37,2 bilhões. Assim, a entrada líquida de recursos no segmento alcançou o total de R$ 63,9 bilhões nos cinco primeiros meses do ano.
Nada mal para uma aplicação que nos dois primeiros meses do ano registrou um total de retiradas superior ao de depósitos em R$ 15,9 bilhões. Isso como reflexo de um movimento de investidores que, decepcionados com a remuneração da própria caderneta, abaixo da inflação, partiu para a bolsa de valores em busca de um retorno diferenciado.
A chegada do coronavírus começou a mudar esse cenário com a queda acentuada das bolsas e instabilidade em outros investimentos que remuneram à base de juros, como os Títulos do Tesouro. Assim, em março, o aplicador parece ter feito o caminho de volta à procura de refúgio na caderneta. Foi quando o segmento passou a apresentar saldo positivo de R$ 12,2 bilhões.
Vale lembrar que esses resultados podem apresentar alguma distorção, já que incluem os depósitos de auxílio emergencial de ajuda em tempos de pandemia que a Caixa fez na conta-poupança para muitos de seus clientes. Foram R$ 31,3 bilhões na primeira rodada de pagamento, mas presume-se que boa parte do que entrou, por essa rubrica, tenha saído pelo resgate dos correntistas.
Na avaliação de especialistas, o vigor da captação positiva da caderneta parece refletir também o ingresso de recursos que migraram principalmente dos fundos de renda fixa. Embora seja uma modalidade de renda fixa, esses fundos e alguns fundos DI tiveram fortes perdas em março com as turbulências que atingiram os mercados, incluído o de juros.
Quem saiu desses fundos em busca de um porto mais seguro, como a poupança, está perdendo a oportunidade de compensar os prejuízos materializados com os saques. Cessado o período mais intenso de resgates, que desvalorizaram os títulos e levaram, por tabela, à perda do valor das cotas dos fundos de renda fixa e de alguns fundos DI, ocorre agora uma recomposição de valores que passou a tingir de azul o desempenho da maioria esses fundos.
Embora os investidores mais afoitos tenham deixado o rendimento pelo caminho com resgates precipitados em fundos de mais risco, os especialistas consideram a caderneta opção mais seguras para fazer a travessia do período de turbulências e receios trazido pelo coronavírus.
Rentabilidade baixa
Com seu rendimento atrelado à Selic, a taxa básica da economia, e correspondendo a 70% dela, a caderneta pagou de junho do ano passado a maio deste ano, 3,35% ao investidor, segundo dados do Banco Central. No mesmo período, usando a variação do IPCA-15, que é uma prévia da inflação oficial do País, a inflação acumulada ficou em 1,96%.
Em termos práticos, isso significa que a poupança, embora com rentabilidade quase no chão, conseguiu proteger o dinheiro contra os efeitos corrosivos da inflação, além de proporcionar um ganho real de 1,36% ao investidor.
Atualmente, a caderneta está pagando menos ainda, com uma Selic de 3,0% ao ano: seu rendimento acumulado em um ano é de 2,10%, e no mês, de 0,17%. Só que as projeções indicam novos cortes no juro básico da economia, que pode chegar ao final do ano em 2,25%, segundo estimativas estampadas no Boletim Focus do Banco Central e representam as expectativas dos analistas de mercado. Com uma taxa dessa, o rendimento da caderneta seria de 1,58% ao ano ou 0,13% ao mês.