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Cuide das finanças pessoais

Tensão política deve seguir  ditando rumo da bolsa e do dólar

(*) Com Tom Morooka

Por Regina Pitoscia
Atualização:

O mercado de ações pode dar continuidade, em maio, à recuperação iniciada em abril, quando acumulou valorização de 10,47%, apesar do aumento de ruídos políticos em Brasília e de tensão crescente na relação entre os poderes Executivo, Judiciário e Legislativo.

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Embora essa seja a expectativa na largada do no mês, não dá para esperar uma trajetória linear e tampouco de menos volatilidade em função das novas fontes de incerteza que devem influenciar investidores e mercado.

Alguns sinais de que o pior do coronavírus passou na Europa e países do Velho Continente ensaiam a retomada econômica melhoram o humor dos investidores, mas não assegura otimismo ao mercado de ações.

E isso, especialmente por causa do risco político, como o acirramento da crise entre os poderes, e das dúvidas com o rumo das contas públicas, cujo rombo previsto na conta primária (sem a inclusão dos gastos com juros da dívida) para este ano subiu de R$ 129 bilhões, anteriormente estimado, para mais de R$ 600 bilhões, na nova projeção.

Mais que com os números em si, o mercado teme que as despesas extraordinárias para o socorro no combate à pandemia percam seu regime de transitoriedade e se tornem permanentes após o término do período emergencial. Uma mudança na política de ajuste fiscal, iniciada com a reforma Previdência Social, que poderia levar as contas públicas novamente na direção de um rombo crescente, segundo analistas.

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O clima de tensão política contribui para reforçar essa preocupação, porque são medidas que passam pelo crivo do Congresso, que tem estado em embate quase permanente com o Executivo, cujo guardião do cofre e da política de austeridade fiscal é o ministro Paulo Guedes. Senão por outros motivos, porque alguns analistas têm o sentimento de que o ministro da Economia estaria fragilizado no âmbito dessa disputa.

É esse cenário de instabilidade política e econômica que sugere a perspectiva ainda de muita volatilidade no mercado de ações, apesar do ensaio de recuperação desenhado em abril. Compras, para quem acha que as ações estão baratas, são indicadas apenas para os investidores que pretendem retorno em prazos longos, acima de três ou mais anos. Já o administrador de investimentos Fabio Colombo entende que o momento é de venda gradual das ações, após a forte valorização em abril.

Em vez da compra individual de ações para a formação de carteira própria, a forma mais indicada pelos especialistas para investimento em bolsa de valores é por meio dos fundos de ações. Especialmente em momentos de grandes incertezas e instabilidade no mercado.

São fundos que têm na gestão profissionais especializados com o mercado de ações, que acompanham o dia a dia da bolsa de valores e das empresas e estão capacitados para fazer as melhores escolhas, nas decisões de compra e venda de papeis, para entregar o melhor resultado ao cotista.

Pressão sobre o dólar

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Embora tenha encerrado abril com ajuste das cotações para baixo, em R$ 5,43, após bater sucessivos recordes nominais e alcançar R$ 5,74, o mercado de dólar começa maio às voltas com incertezas ampliadas que podem pressionar as cotações para cima.

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O temor com o coronavírus, sobretudo com seus efeitos econômicos no exterior parece ter cedido lugar às preocupações com o avanço doméstico da pandemia e, mais recentemente, às incertezas com os efeitos fiscais, traduzido no rombo das contas públicas, provocado pelas medidas de combate à pandemia.

A insegurança com o equilíbrio das contas públicas que garanta a sustentabilidade da dívida federal (ou a manutenção da capacidade do Tesouro de continuar honrando os compromissos com os detentores de títulos da dívida) é a volta de um temor que parecia ter ficado para trás após a aprovação da reforma previdenciária, no ano passado.

Esse sentimento de dúvidas que incomoda investidores e mercado é temperado ainda pelo clima de acirramento da crise política. O receio é o de que a deterioração do ambiente político, além do risco de desembocar em crises mais graves, crie dúvidas sobre a capacidade do governo de retomar a agenda de reformas, condição necessária, ainda que não suficiente, para recolocar as contas públicas na trilha do ajuste fiscal.

A conjunção dessa frente de  incertezas (sanitárias, fiscais e políticas) tende a ser um fator crescente de insegurança que pode incentivar o investidor a procurar proteção para seu patrimônio no dólar, pressionando as cotações.

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Se a previsão se confirmar, o Banco Central (BC) continuará tendo muito trabalho no mercado, com oferta de dólares, para tentar estabilizar as cotações e impedir bruscas oscilações, além de frear uma escalada indesejável dos preços da moeda americana.

Desde o início das turbulências causadas pela crise do coronavírus, o BC colocou no mercado R$ 49,84 bilhões, através de vários instrumentos de intervenção, como venda à vista de dólares, por meio de leilões de linha, com compromisso de recompra, e oferta de contratos de swap cambial, um título que oferece proteção contra bruscos vaivéns do dólar.

Pelo volume de munição, mais de US$ 320 bilhões estocados nas reservas internacionais, e pelos instrumentos de que dispõe o BC para   intervenções no mercado, especialistas consideram os fundos cambiais um investimento de alto risco. São produtos vistos com reservas e cautela porque entregam ganho ao investidor apenas quando o dólar sobe.

Em um mercado permeado por intensa volatilidade, como agora, da mesma forma que embicam em alta, as cotações podem passar por fortes quedas, o que pode redundar em severos prejuízos ao aplicador.

Embora se destaque em desempenho no ano, com valorização acumulada de 36%, o dólar tem a compra recomendada apenas para quem precisa de proteção, contra variações cambiais, para obrigações financeiras vinculadas à moeda americana. Estratégias especulativas embutem altíssimo risco, alertam os especialistas.

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