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Trégua na crise política anima o mercado financeiro. Até quando?

(*) Com Tom Morooka

Por Regina Pitoscia
Atualização:

A perspectiva de uma trégua na crise política, pela aproximação entre o presidente Jair Bolsonaro e líderes do Congresso e governadores, relaxou aparentemente o clima de tensão entre os Poderes e animou o mercado financeiro. O sentimento de alívio dos investidores ficou estampado na recuperação da bolsa de valores, que embicou em alta que levou o Ibovespa (Índice Bovespa, o principal da B3) a 83 mil pontos, e na queda do dólar ao menor preço desde o início do mês.

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A melhora do clima político, internamente, juntou-se ao tom positivo vindo do exterior, pela retomada de atividade econômica em alguns países da Europa e na China. A dúvida que persiste é quanto vai durar o clima de conciliação e entendimento entre os governantes domésticos.

A semana, relativamente tranquila, foi encerrada em clima de apreensão nos mercados com a derrubada do sigilo de vídeo da reunião ministerial em que, de acordo com o ex-ministro Sergio Moro, o presidente Bolsonaro teria feito pressão para a troca de comando da Polícia Federal

Parte dos analistas veem esses eventos como específicos, que influenciam positiva e momentaneamente os mercados e beneficiam ações setoriais de empresas favorecidas por eles. Apontam como exemplos a reabertura da economia em alguns países que estimulou a alta das ações de empresas exportadoras de commodities, como Petrobras e Vale, e a retirada do projeto, em debate no Senado, sobre a criação de um teto para as taxas de juro cobradas  no cartão de crédito e no cheque especial, além do adiamento do pagamento temporário de prestação do crédito consignado, decisão que contribuiu para a valorização de ações de bancos.

Foi nesse ambiente de melhora circunstancial de humor dos investidores que a bolsa de valores rompeu a linha acima de 80 mil pontos e o dólar despencou e se aproximou de R$ 5,50, após ter encostado em R$ 6,00, uma semana antes. O ensaio de recuperação, contudo, não seria indicação de que os mercados vão seguir caminhos menos turbulentos daqui para a frente, avaliam especialistas.

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O motivo são as numerosas incertezas, no cenário doméstico, que persistem em três frentes; na do combate ao coronavírus, na da busca do entendimento político mais robusto entre as três esferas de Poder e na do equacionamento do rombo das contas públicas, agravado pelos gastos no socorro aos efeitos provocados pela pandemia.

Uma expectativa mais otimista com o exterior tende a influenciar positivamente o mercado financeiro doméstico, embora não possa ser suficiente para colocar os mercados em novos patamares, com valorização mais acentuada das ações e queda do dólar, avalia o administrador de investimentos Eduardo Santalucia.

"A principal incerteza aqui está na política", aponta. Reflexo dela está nas altas circunstanciais da bolsa de valores, puxada em geral por fatores pontuais com origem no exterior e traduzida em um desempenho que está bastante atrás da americana.

Em 12 meses, até dia 20, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, acumula queda de 11,53%, comparada com uma valorização de 4,71% do principal índice da bolsa americana, o Standard & Poor's (S&P), no período.

"A política influencia a economia no curto prazo, mas seu efeito, quando negativo, dilui no médio prazo", acredita. Por aí, ainda que esteja em recuperação do tombo que levou para algo em torno de 63 mil no auge do pânico do coronavírus, em 23 de março, a B3 deve buscar novo patamar, em torno de 90 mil pontos, apenas no médio prazo, prevê Santalucia.

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Nessa perspectiva, a bolsa de valores, um investimento que pede tempo e paciência para o investidor que busca retorno com menos risco na renda variável, poderá exigir permanência maior abraçado em ações, além da prevista antes da crise, para que materialize ganhos.

A B3 fechou sexta-feira com queda de 1,03%, em 82.173 pontos, mas acumula valorização na semana de 5,95%, que fica reduzida para 2,07% no mês, até o momento.  A perda nominal no ano está em 28,95%.

O dólar foi cotado por R$ 5,57, com baixa de 4,62% na semana. A valorização acumulada no mês, até agora, está em 2,40%, que sobe para 30,25% no ano.

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