Mas isso é apenas um dos prejuízos provocados pelas greves. Os exportadores pagam multas por descumprir os prazos de entrega e, eventualmente, podem até ter contratos cancelados e perder clientes duramente conquistados. Na importação, alimentos perecíveis estragam e empresas que trazem insumos de fora correm o risco de ver paralisadas suas linhas de produção.
Entre as categorias em greve ou em operação padrão, três afetam diretamente o comércio exterior: os fiscais da Receita Federal (responsável por autorizar a entrada e saída de produtos do país), os fiscais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa (que autoriza os barcos a atracar no porto e libera a entrada de uma série de produtos sensíveis à saúde da população) e os técnicos do Ministério da Agricultura - MAPA (responsáveis por autorizar a exportação e a circulação de produtos agrícolas).
Os técnicos do MAPA ficaram em greve por cinco dias e foram obrigados pela Justiça a voltar ao trabalho, mas as empresas relatam que a liberação dos produtos ainda é lenta. Na Receita Federal, está ocorrendo uma operação-padrão que já dura 59 dias. Os técnicos da Anvisa permanecem em greve há 31 dias. Se todos esses perídos fossem somados, chegaria a 94 dias de greve dos servidores públicos ligados ao comércio exterior (esse número é apenas ilustrativo porque os períodos das greves foram coincidentes).
As empresas estão entrando com uma "avalanche" de ações na Justiça. No escritório Bichara, Barata & Costa Advogados, já foram obtidas mais de 10 liminares para liberar produtos importados ou exportados pelas empresas. A diversididade dos setores envolvidos - eletroeletrônico, papel e celulose, pneus, siderurgia - mostra que os prejuízos provocados pelas greves são generalizados. "Estamos recebendo muitas consultas e o número de liminares deve crescer", diz a advogada Carol Monteiro de Carvalho.
De acordo com o advogado Luiz Gustavo Bichara, o Judiciário é bastante sensível ao apelo das empresas, já que esse tipo de situação é comum no Brasil. Levantamento realizado pela AEB mostra que os servidores de órgãos importantes para o comércio exterior realizaram greves todos os anos desde 2005, com a exceção de 2011. E isso apesar dos polpudos reajustes de salário concedidos ao funcionalismo público pelo ex-presidente Lula.
"Além dos reflexos econômicos, existem ainda os impactos intangíveis (das greves), representados pela projeção de imagem negativa do Brasil como um país não-confiável, em que operações internacionais podem ser interrompidas por prazos longos e imprevistos", escreveu José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, em nota divulgada esta semana para a imprensa. Todos os trabalhadores tem direito à greve, mas é triste que lobbies bem organizados de categorias privilegiadas do serviço público consigam prejudicar todo o País.