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O blog do Caderno de Oportunidades

Conjuntura favorece criação de clínicas

Doutores criam franqueadoras que oferecem especialidades médicas e exames a preços populares para atrair classes B, C e D

Por Cris Olivette
Atualização:

Tiago Alves. Foto: Rafael Wesley

A crise econômica brasileira já deixou 13,5 milhões de pessoas sem emprego e, consequentemente, sem plano de saúde. Tal fato, aliado à incapacidade de o Sistema Único de Saúde (SUS) suprir a demanda crescente, abre espaço para a criação de franqueadoras de clínicas de especialidades médicas, que também oferecem exames laboratoriais e de imagem, com preços mais acessíveis.

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Esses negócios são direcionados, principalmente, à classe C, mas também atraem pessoas das classes B e D. O investimento para ser um franqueado varia conforme o tamanho da clínica e, em alguns casos, conforme a quantidade de habitantes do município. O custo de algumas marcas parte de R$ 285 mil podendo chegar a R$ 850 mil, com previsão de retorno que varia entre 18 e 36 meses.

Sócio-diretor da Vecchi Ancona - Inteligência Estratégica, Paulo Ancona alerta para alguns riscos que devem ser considerados pelos candidatos a franqueados. "Um deles é a falta de público-alvo suficiente na localidade para gerar o fluxo necessário de clientes ou, ainda, a escolha de uma rede de franquias mal estruturada ou mal formatada, que não garante a transmissão de todo o know how necessário aos franqueados."

Segundo ele, esse know how deve abranger absolutamente todos os aspectos da gestão do negócio: instalações, treinamentos, sistemas de tecnologia, gestão administrativa e financeira, atendimento de clientes, marketing local etc.

"Outro aspecto importante é o próprio franqueado avaliar se tem o perfil financeiro, profissional e pessoal para tocar e administrar o negócio com sucesso, bem como isso também deve ser avaliado e aprovado pelo franqueador", ressalta.

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Na região do Triângulo Mineiro nasceu a Medic Mais, idealizada pelo dentista Tiago Alves que, ao longo de dez anos, chegou a ter oito unidades próprias na região. "Com o tempo, percebi que estava havendo um movimento de fusão de clínicas com o objetivo de agregar todo o serviço de especialidades médicas em um único local."

Alves estudou o mercado e há três anos vendeu seis unidades odontológicas e manteve duas. "Em seguida, desenvolvi o projeto da Medic Mais com o intuito de torná-la franqueadora. Primeiro, coloquei o plano de negócio em ação em uma das unidades odontológicas. Só lancei a marca após comprovar que o modelo funcionava e tinha boa rentabilidade." Segundo ele, o diferencial da Medic Mais é oferecer, além das especialidades médicas e exames, atendimento odontológico.

"Oferecemos as 25 especialidades médicas mais procuradas, uma vez que a medicina possui atualmente mais de 50 especialidades registradas."

Alves afirma que em 18 meses de atividade, a clínica piloto fez 30 mil consultas. "Se incluirmos exames e procedimentos foram mais de 50 mil atendimentos. Recebemos, em média, 200 a 250 pacientes por dia em unidades com dez salas."

Lançada em fevereiro deste ano, a Medic Mais já vendeu dez unidades, quatro delas são conversões de clínicas odontológicas. "Saúde não é uma moda, as pessoas sempre vão precisar."

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Ele diz que o porcentual repassado aos médicos por consulta é de 30% a 50%, conforme a especialidade. "O salário dos médicos varia de acordo com a disponibilidade de suas agendas. Os que trabalham conosco em tempo integral chegam a retirar 30 mil por mês. Outros, que atendem em tempo parcial, recebem cerca de R$ 5 mil."

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Com consultas a partir de R$ 75, a Global Med Clínica, que tem entre os sócios o radiologista Alexandre Francisco, tem cinco unidades em operação e outras quatro vendidas, que estão sendo reformadas. "Até o final do ano esperamos estar com 15 unidades em atividade e vender mais 20 para serem implantadas no ano que vem. Pretendemos fechar 2018 com 35 unidades, todas com foco na qualidade, no atendimento humanizado e personalizado", diz Francisco.

De acordo com ele, em dois anos, quase 2,6 milhões de pessoas perderam o plano de saúde. "São pessoas que estavam acostumadas com atendimento humanizado, feito por profissionais formados em grandes universidades. Para não migrar direto para o SUS, essas pessoas buscam alternativas, mas não estão dispostas a pagar, por exemplo, R$ 500 em uma consulta."

O empresário afirma que além do salário, os médicos da rede têm um bônus por qualidade. "Eles podem receber até 10% a mais pelas avaliações que obtêm dos pacientes e pelas avaliações internas, feitas pela clínica", conta.

A ideia de criar a Clínica Dr. Família surgiu quando o oncopediatra Cristiano Gomes estava fazendo mestrado profissional de gestão e sistemas de saúde. "Durante uma aula, ouvi falar sobre o modelo americano de clínicas populares. Achei que poderia ser uma oportunidade interessante e comecei a estudar o segmento."

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Cristiano Gomes. Foto: Hélvio Romero/Estadão

Segundo ele, o mercado está favorável para esse tipo de negócio por conta da grande demanda que o SUS não consegue atender. "A consulta com um especialista pode demorar até 120 dias para ser marcada. E antes da crise 75% da população brasileira não tinha convênio médico. Agora, está ainda pior, com 82% da população sem plano de saúde." É essa parcela o principal alvo dessas clínicas, mas não só.

O sócio-diretor da Vecchi Ancona - Inteligência Estratégica, Paulo Ancona, acrescenta outro fator que colabora para o crescimento desse mercado.

"Há um conceito que cada vez mais atrai os consumidores. A cultura do compartilhamento está crescendo fortemente, bem como uma nova forma de se relacionar e buscar respostas em uma rede, de se sentir seguro quando é atendido por uma marca que cresceu, que se torna conhecida. Isso gera credibilidade", afirma.

Ancona aponta, ainda, um outro lado dessa questão, relativo aos profissionais médicos, que com a redução de despesas do público e consequente "fuga" de consultórios mais caros, buscam nesse modelo de clínica um porto seguro para exercerem a profissão. "Além disso, essas clínicas absorvem os profissionais mais jovens, ainda sem nome suficiente para terem consultório próprio e que permitem boas receitas."

Gomes ressalta que nem todos podem pagar consultas que variam de R$ 80 a R$ 120, dependendo da especialidade. "Mas há um nicho de mercado interessante que consegue ser atendido. Vale lembrar que o modelo não oferece atendimento de alta complexidade, apenas de baixa e média complexidade." Segundo ele, 28% dos pacientes da Dr. Família têm convênio médico. "Esses clientes preferem passar em uma de nossas unidades, porque o atendimento é mais rápido e depois podem pedir reembolso da consulta. Afinal, mesmo no convênio não está fácil agendar consultas."

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O empresário afirma que os franqueados têm de seguir protocolos clínicos de atendimento e auditorias de campo são realizadas periodicamente. "Também realizamos pesquisa após o atendimento."

Os médicos são contratados como prestadores de serviço e recebem, em média, de 50% a 70% do valor da consulta. "A média mensal do salário depende do número de períodos que se dedicam a esse trabalho. Mas garanto que é um valor bem acima do oferecido a eles pelos convênios. Tanto, que temos hoje 352 médicos e não para de chegar currículo de interessados."

"Esse tipo de negócio consegue crescer pelo volume de pacientes e baixo custo, uma vez que os médicos que atuam nesses estabelecimentos não recebem altos valores por consulta", diz Ancona. "O franqueado tem de observar todos os aspectos do negócio. Suas possibilidades, números, potencial de mercado, concorrentes, investimentos necessários, receitas previstas, bem como o tempo de retorno do investimento e lucratividade esperada e possível."

Gomes afirma que até o final do ano pretende inaugurar mais seis unidades. "Nossa estratégia é atingir 100 unidades dentro de cinco anos, sendo 40 próprias e 60 franqueadas."

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