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O blog do Caderno de Oportunidades

Qualidade nos processos ajuda a aumentar receita

Pequenos empresários que atuam no ramo de engenharia falam dos resultados alcançados depois da obtenção de certificações como ISO 9001

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Por Cris Olivette
Atualização:

Simone Queiroz, diretora da Construtora Garra Foto: Estadão

Em 2009, após trabalhar alguns anos em uma construtora, Simone Queiroz decidiu empreender em parceria com o marido, que é engenheiro. "Fundamos a Construtora Garra. Começamos fazendo reformas. Tínhamos dois funcionários no escritório e três nas obras."

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Ela afirma que desde o início sabiam da importância de obter a certificação da Norma ISO 9001, de gestão da qualidade, e o certificado do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). "Quem atua no ramo da construção civil e quer conquistar obras públicas, precisa ter os dois selos."

Simone diz que em 2010 eles obtiveram as certificações. "No início, foi um pouco complicado envolver a equipe na cultura da qualidade. Depois da fase inicial, foi muito bom. Melhoramos a qualidade dos produtos, aumentamos a produtividade e a lucratividade, porque reduzimos o retrabalho, o desperdício e o custo das obras. Além disso, conquistamos o reconhecimento dos clientes ao entregar um resultado final melhor."

Simone afirma que a dinâmica de trabalho evoluiu e hoje, além de reformas, a Garra constrói casas e prédios e faz obras públicas. "Estamos construindo duas escolas, uma unidade básica de saúde (UBS) e a reforma e ampliação de um hospital."

A diretora conta que, atualmente, a empresa tem 30 funcionários. "Estamos tocando obras pequenas. No início do ano, tínhamos 100 pessoas. Neste ano, não podemos falar em crescimento, mas 2014 foi maravilhoso. Dobramos o faturamento porque conseguimos obras maiores", diz.

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Ser uma empresa certificada dentro das normas que regem o setor de atuação é importante para fechar novos negócios. A diretora de franquias da AGQ, empresa de consultoria, treinamento, auditoria e assessoria com foco em sistemas de gestão, Ana Carla Campos, afirma que um dos passos da implementação do sistema de gestão é a medição constante dos índices da operação.

"Dentro desse processo é possível identificar o que deve ser melhorado, onde está havendo desperdício de custo e de tempo, e passar a operar de forma a otimizar o trabalho."

Diretor da Damata Engenharia, Diego Augusto da Mata conta que o negócio foi criado em 2001 e somente nove anos depois começou a pensar em certificação. "Mas não pensava na ISO 9001 com o objetivo de obter melhoria na organização da empresa, mas como oportunidade de participar de licitação de obras públicas, como o Minha Casa Minha Vida", diz.

Diego Augusto da Mata Foto: Estadão

 

Na época, fazia pós-graduação e discutiu o assunto com um professor. "Ele prestava consultoria nessa área e nos deu um orçamento. Como a empresa era muito pequena, ficamos com medo de fazer o investimento e não ter retorno."

A coragem veio em 2011, quando deram início ao processo de certificação. "Em abril de 2012 passamos por auditoria e obtivemos a ISO 9001 e a PBQP-H."

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Segundo ele, no decorrer do processo percebeu que a certificação era, na verdade, uma forma de melhorar a empresa e a organização de seus procedimentos.

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"Um negócio certificado passa a ser olhado como detentor de mais know-how. Antes, não tínhamos procedimentos de política de qualidade, missão, visão e valores da empresa. Abraçamos a causa com o intuito de fazer o negócio evoluir."

Hoje, três anos depois, a Damata tem, por exemplo, procedimentos para o pedreiro executar alvenaria e para o carpinteiro fazer um telhado. "Temos um responsável na obra que verifica se o serviço obedece os parâmetros."

A construtora também adotou novos documentos como 'termo de recebimento de obra' e 'termo de vistoria', que são assinados pelo cliente no ato da entrega do serviço. "Assim, tudo fica documentado. Também temos procedimento de atendimento na recepção e para recebimento de reclamação."

Desde 2013, a Damata participa do Minha Casa Minha Vida. "Hoje, o volume de serviços públicos representa 80% dos negócios. Sem a crise, estaríamos com oito obras. Mas estamos com três, suficientes manter a empresa com os seus 78 funcionários diretos."

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O diretor afirma que evita trabalhar com terceirizados justamente para manter a qualidade dos processos. "Recentemente criamos, por nossa conta, sistema de controle de utilização de frota e de uso de ferramentas. Ter procedimentos facilita o trabalho e evita gastos. O valor investido na certificação é infinitamente menor que o valor agregado a empresa."

Fundada em 1986, a Engeclam Engenharia, de Eduardo Moreira, obteve as certificações em 2005. "Não me aventurei a escrever os procedimentos sem que a empresa tivesse condições de aplicar. Passei cinco anos produzindo as instruções de trabalho e testando tudo."

Eduardo Moreira, Engenclan Engenharia Foto: Estadão

 

Moreira afirma que a certificação dá condições para a empresa se programar. "De 2000 para cá, a empresa triplicou de tamanho. Hoje, tenho uma média empresa que não faz obras públicas, só particulares. Trabalho com um público muito exigente. Com o tempo, a Engeclam passou a ser reconhecida e recebeu prêmio de excelência industrial. Ganhei porque comprovei ser possível um pequeno empresário conseguir produzir em escala industrial usando métodos construtivos com eficiência e qualidade", afirma.

PARA DIFUNDIR O CONCEITO, MARCA VIRA FRANQUIA

undada em 2005, a AGQ Brasil nasceu com o objetivo de difundir entre pequenas e médias empresas os conhecimentos relacionados a gestão da qualidade e seus processos, que tornam as operações mais eficientes.

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O fundador da consultoria, Evandro Ribeiro, diz que a ISO 9001 é uma norma mundial que surgiu em 1987 e passou por algumas atualizações, a última em 2008. "A norma promove a implantação de processos dentro das empresas com o objetivo de aumentar a satisfação do cliente e produzir melhorias na própria empresa."

Na prática, o que melhora? Segundo ele, ocorre a redução do desperdício, porque a empresa certificada passa a fazer o controle de tempo e de materiais. "Também ocorre o aumento da produtividade. Pessoas bem treinadas aumentam a produção, impulsionando o crescimento do negócio." Ribeiro afirma que algumas empresas exibem a certificação como estratégia de marketing. "Esse aspecto pode e deve ser explorado, afinal, ser certificado por uma norma mundial prova ao mercado que a marca tem um diferencial."

Evandro Ribeiro,  AGQ Brasil Foto: Estadão

Segundo ele, órgãos federais, estaduais e municipais, além de algumas empresas privadas, exigem de seus fornecedores a certificação como pré-requisito. "É a chamada certificação compulsória. A ISO abre as portas para o mercado nacional e internacional", destaca.

O empresário diz que a AGQ presta consultoria às pequenas e médias empresas para que obtenham as certificações. "Esse é o nosso público-alvo, já que os negócios de grande porte têm departamentos próprios para cuidar das certificações e programas de qualidade. Essas empresas investem pesado nisso e as pequenas e médias não têm condições de montar essa estrutura", afirma.

Ribeiro conta que já atendeu um empreendimento no qual, além do dono, havia apenas um funcionário. "Não importa o tamanho do negócio, as diretrizes da qualidade podem ser adotadas por empresas de qualquer porte. Hoje, apenas uma a cada 850 empresas tem certificação no Brasil."

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Após obter a certificação, o consultor afirma que todas conseguem melhorar o desempenho. "Mas algumas atingem desempenho magnífico. Tenho clientes que após três anos de certificação transformaram a empresa em uma potência. Ao organizar os processos, tudo passa a funcionar de forma azeitada e os cronogramas são cumpridos no prazo. Não tem como dar errado", avalia.

Neste momento de crise, Ribeiro diz que existem dois grupos de empresários. "Tem aqueles que consideram a qualidade uma despesa e estão cortando o processo de certificação. Outros, estão apostando nela como diferencial em relação aos demais. Depende do ponto de vista."

O consultor conta que desde 2012 a AGQ virou franqueadora. "Somos a primeira franquia de consultoria. Eu estava muito preso viajando para pontos distantes do Brasil. A franquia foi uma solução. Ganho menos, mas ganho em escala."

Para ser um franqueado, o investimento fica entre R$ 20 mil e R$ 50 mil.

Empresa de engenharia florestal contrata 80 pessoas em dois anos

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Especializada em inventário florestal, a Inventar GMB, instalada em Lavras (MG), foi fundada em 2006 e obteve a certificação ISO 9001, voltada à gestão da qualidade, em 2010.

"Posteriormente, em 2012, obtivemos a ISO 14001, de gestão ambiental, que orienta o desenvolvimento e práticas de metas ambientalmente sustentáveis, importantes para uma empresa de engenharia florestal", diz o diretor, Tiago Moreira.

Segundo ele, conquistar as certificações foi fácil pelo fato de a empresa ser pequena. "Tínhamos 12 funcionários e dois clientes. Não tivemos muitas dificuldades justamente por isso. Outro fato que nos ajudou foi o de já seguirmos padrões estabelecidos por nossos clientes, porém, nada era documentando." Moreira afirma que a partir da certificação a empresa criou procedimentos operacionais, de gestão da qualidade, e tudo passou a ser documentado. "Isso agregou muita eficiência ao negócio. Não tínhamos, por exemplo, um cadastro adequado e a ISO 9001 exige qualificação de fornecedores."

Tiago Moreira, Inventar GMB Foto: Estadão

O diretor afirma que a Iventar passou a ter critérios para a escolha dos fornecedores, ação que impede que as atividades parem por atraso na entrega de material. Ele diz que os procedimentos preconizados pela certificação passaram a fazer parte do dia a dia dos funcionários.

"Hoje, estamos com 90 colaboradores. Crescemos muito a partir de 2013, depois de complementamos o processo de certificação com a ISO 14001. Por trabalharmos com engenharia florestal, nosso negócio está ligado diretamente com questões ambientais. Ter certificação é um dos requisitos exigidos por nossos clientes."

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Segundo ele, fazer um inventário florestal implica em quantificar e avaliar a qualidade da floresta. "Inventariamos as florestas a partir do sexto mês após o plantio, até o momento do corte, que ocorre em cerca de cinco anos. A avaliação qualitativa é para verificar se não está ocorrendo ataque de pragas e se o crescimento das árvores está dentro do previsto", explica.

Moreira conta que a madeira das florestas monitoradas pela Inventar são usadas na produção de celulose ou para produzir carvão utilizado por siderúrgicas. "Minas Gerais tem muitas siderúrgicas e todas estão sendo muito afetadas pela crise econômica. Felizmente, o segmento de celulose está ótimo. Hoje, clientes desse segmento demandam 80% dos serviços. Atendemos clientes do Espírito Santo e Bahia."

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