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O blog do Caderno de Oportunidades

'Sempre evito a palavra crise no trabalho'

Executivo prevê que mercado interno de implantes dentários vá duplicar em cinco anos e também planeja aumentar as exportações

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Atualização:

Bianca Soares, especial para O Estado

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O alemão Matthias Schupp, de 53 anos, tem uma trajetória profissional fortemente baseada em experiências internacionais. Formado em administração em seu país de origem, o atual CEO da Neodent, fabricante de implantes dentários, já trabalhou em multinacionais no Equador, em El Salvador, Portugal e na Suíça. "Após um período na América Latina, voltei à Alemanha. Naquela época, eu achava que minha carreira estava muito focada em países latinos, queria fazer algo diferente, que me abrisse novos horizontes", conta. Foi aí que aceitou o convite para liderar a operação da grupo de cosméticos Wella em solo russo.

Schupp conta que o período foi delicado, já que a ex-União Soviética ainda sentia as mudanças liberalizantes introduzidas na era do presidente Gorbachev e a posterior crise econômica do governo de Bóris Yeltsin, no final dos anos 1990. "Cheguei durante uma fase muito delicada, de forte recessão, e tive de liderar a operação. Aquele momento me recorda a atual situação do Brasil."

Em 2007, entrou para o grupo Straumann, líder mundial de implantes dentários. Posteriormente, seu caminho voltou a passar pela América Latina: a empresa suiça comprou a nacional Neodent, maior player brasileiro do segmento. E em 2014, ele mudou-se para Curitiba a fim de dirigir a companhia no Brasil. Mais uma vez, assumiu um negócio em meio a um ambiente econômico turbulento.

Dessa vez, a missão foi aceita porque ele a enxergou como uma possibilidade de fixar raízes no país onde cresceu. Schupp passou a adolescência com os pais no Rio de Janeiro, onde estudou no colégio alemão da cidade. Depois, aos 18, retornou à Alemanha para começar os estudos universitários.

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CEO da Neodent, Matthias Schupp Foto: Fernando Ziviani

Apesar da aquisição pela Straumann, a Neodent mantém sua identidade, uma ideia do próprio Schupp, que organizou toda a operação de compra. Também foi ele quem, durante a recessão brasileira, liderou a expansão da marca em um projeto dividido em duas etapas. Na primeira, foram investidos R$ 60 milhões. Atualmente, está em andamento a segunda fase, com aporte de mesmo valor e contratação de 120 funcionários.

A marca possui 1.200 colaboradores em 21 filiais distribuídas, além do Brasil, por Chile, Argentina, Colômbia, México, Portugal, Espanha, Estados Unidos, Itália, Alemanha e Canadá. Os investimentos feitos e a criação de novas filiais procuram aumentar a capilaridade da Neodent pelo mundo. O objetivo é produzir anualmente 9 milhões de de peças, componentes e implantes dentários. Segundo Schupp, já em 2018 a empresa pretende exportar pelo menos 50% de sua produção.

Chegada. Antes de 2012, que foi o ano em que compramos 49% da Neodent, a América Latina praticamente não existia para nós, da Straumann. Depois, em 2013, vim para o País para analisar melhor a empresa. Foi quando decidimos pela aquisição total para a internacionalização da companhia. Foi também aí que começou o meu projeto para essa etapa.

Condições. Eu não queria sair novamente da Europa, estava trabalhando na nossa sede na Suíça. Quando surgiu a oportunidade da internacionalização, apresentei o meu projeto para o conselho da Straumann. Minha proposta era manter a autonomia da Neodent e, aproveitando a nossa rede de logística, transportar a imagem da empresa a nível internacional. Somente aceitei o cargo de CEO aqui depois que eles aceitaram a minha sugestão.

Estratégia inicial. Desde o primeiro dia, deixei muito claro para onde vamos, o que queremos alcançar e quais as estratégias para isso. Para mim era, e ainda é, fundamental não fazer uma segunda Straumann, mas manter a imagem da Neodent, mostrar para o mundo que o produto feito aqui é de altíssima qualidade. Aliás, o Brasil tem os melhores dentistas do mundo. Hoje, com os resultados que estamos atingindo, estou ainda mais seguro disso.

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Experiências internacionais. Sem dúvida (as temporadas em países diferentes), me deram uma bagagem muito importante, que me fez entender diferentes culturas e aprender com dia a dia em situações diferentes. E a minha vivência plural não é só no âmbito profissional. Por causa da minha trajetória, a minha família acabou sendo multicultural também: minha mulher e um filho são salvadorenhos e uma filha é alemã.

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Crise e expansão. Cheguei à Rússia num momento muito difícil da economia, que comparo com a atual situação do Brasil. Mas nunca gostei de ouvir a palavra crise: quem trabalha comigo sabe disso. Sempre a evito no ambiente de trabalho. Aqui, apostamos na compra dos concorrentes e na expansão num momento de recessão. Tem dado certo porque, há três anos, a Neodent detinha 42% do mercado brasileiro; hoje, temos mais de 50%.

Foco interno. No médio e longo prazo queremos aumentar as exportações, mas sempre com a ideia muita clara de que o Brasil é, e vai continuar sendo, o nosso maior foco. Nos próximos quatro ou cinco anos o mercado interno vai duplicar. Atualmente, ele é o segundo maior, com 2,3 milhões de implantes vendidos por ano. Fica atrás apenas dos Estados Unidos, com 2,5 milhões.

Futuro. Nos próximos anos, o Brasil vai ultrapassar os EUA. E estimamos que, em cinco anos, o Brasil será o maior mercado de implantes dentários. O motivo é que a sua população está envelhecendo (até 2025, o Brasil será o sexta país mais envelhecido do mundo) e 20% dos brasileiros já perderam pelo menos um dente.

Cenário. Nosso objetivo é levar tratamento dentário para todas as faixas, não apenas classes A e B. Temos um projeto chamado Neo Sorriso. Com ele, viajamos dentro de uma trailer oferecendo tratamento gratuito para pessoas carentes. Descobrimos pacientes que, aos 40 anos, nunca tinham ido ao dentista. E não apenas porque não têm recursos financeiros, mas também porque têm medo e estavam mal informadas.

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Desafio. Então, nosso desafio é fazer divulgação, mostrar que ir ao dentista não é super caro, que nosso produto tem um preço acessível. Aliás, o Brasil tem um preço muito atrativo, inclusive na comparação com outros países latinos. O implante dentário aqui custa metade do valor praticado nos Estados Unidos. Um tratamento dentário idêntico custa entre quatro e cinco vezes mais na Rússia.

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