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Startups reinventam serviços tradicionais

Publicidade móvel em bicicletas e fretamento via aplicativo ganham adeptos

Por Cris Olivette
Atualização:

Marcelo Burle, fundador da Carona Verde. Foto: Studio Kripa/Divulgação

O coordenador do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios (CENN) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), professor Marcus Salusse, afirma que a maior parte dos serviços e produtos já existentes são passíveis de se tornarem mais eficientes com o uso de tecnologia.

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"Serviços como Uber, Airbnb e Spotify romperam com setores tradicionais. Em comum, todos têm a questão da tecnologia muito forte. O uso da tecnologia permite que os empreendedores satisfaçam as necessidades do público de maneira melhor, mais rápida, mais barata e escalável, beneficiando maior quantidade de pessoas."

Foi nesse contexto que a Carona Verde, de Marcelo Burle, achou brecha para inovar no mercado de publicidade e de mobilidade urbana. A empresa, que iniciou a operação há sete meses, desenvolveu triciclos que circulam na ciclovia da Avenida Paulista dando carona gratuita às pessoas que precisam cruzar a avenida.

A receita vem de publicidade móvel estampada no uniforme dos condutores, no toldo do triciclo e de anúncio de cupons de desconto de comerciantes da região, enviados pelo aplicativo da empresa, pelo qual os usuários solicitam a carona. "O negócio nasceu para incentivar o uso das ciclovias e colaborar com a mobilidade urbana sustentável, porque ajuda a reduzir a emissão de poluentes."

A operação começou com dois triciclos, hoje são 12. O produto tem fabricação própria, é registrado e patenteado. A ideia surgiu quando a ciclovia começou a ser construída. Ele e a irmã são engenheiros e trabalham com o pai, que é advogado, fazendo regularização de documentação técnica, como alvarás e licenças de funcionamento, na Prefeitura.

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"Temos diversos clientes na região da Paulista e pensamos que usar bicicleta seria boa alternativa, porque cruzamos a avenida várias vezes por dia. Mas a logística de levar a bicicleta até lá seria complicada. Em viagem à Los Angeles, vimos um serviço semelhante e resolvemos replicar por aqui. Achamos a ideia muito boa por atender quem não sabe ou não têm condições de pedalar", avalia.

Burle aproveitou seus conhecimentos de legislação municipal para definir o modelo de negócio. "Nossa publicidade atende a legislação e paga os custos da empresa. Investimos pouco mais de R$ 300 mil e estamos perto de recuperar o valor."

O empresário afirma que a partir do próximo dia 15, quatro triciclos começam a operar na ciclovia da Avenida Faria Lima. "Atuamos de acordo com as necessidades do patrocinador. Faremos promoção de um evento cultural que ocorrerá naquela região. A demanda é grande. Já recebemos pedidos vindos de Montevidéu, Rio de Janeiro, Campo Grande e Brasília."

Marcus Salusse, professor do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV. Foto: arquivo pessoal

Na avaliação do professor Salusse, a Carona Verde é "uma ideia incrível e sustentável", que segue os conceitos da ONU. "O negócio tem uma série de atrativos e encontrou nova forma de gerar valor aos clientes. O modelo de marketing deles, feito a partir do momento que o usuário baixa o aplicativo, envolve mídia push (notificação de promoções). Então, além de ter a publicidade no triciclo, o usuário também recebe cupons e propagandas pelo aplicativo."

Salusse lembra que os empreendedores estão sempre em busca de um problema a ser resolvido ou de uma necessidade a ser satisfeita. "Ao identificar uma oportunidade, a pessoa deve se perguntar: eu consigo resolver isso de maneira melhor, mais rápida e mais barata que a solução já existente?"

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No caso dos fundadores da plataforma Buser, que aproxima empresas de fretamento de ônibus de turismo a grupos de pessoas que querem viajar, a resposta foi sim. A ideia surgiu a partir de experiência pessoal.

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"Meu casamento foi realizado em Arraial D'Ajuda, no litoral sul da Bahia. Mas cerca de 30 parentes meus não tinham condições de comprar passagens áreas para irem à cerimônia. Cotei quanto custaria comprar 30 passagens de ônibus na rodoviária e o valor de ônibus fretado. Vi que a diferença de preço era grande e conclui que se funcionava para mim, funcionaria para as outras pessoas", conta Marcelo Abritta, que se associou a Marcelo Vasconcellos para criar o negócio.

Segundo ele, a média de economia é de 50%, mas em alguns casos pode chegar a 70%. A Buser mantém parceria com empresas de fretamento de ônibus, que costumam atender companhias de turismo.

"Essas empresas são fiscalizadas pelos órgãos competentes, só trabalham com motoristas profissionais que são obrigados a fazer reciclagem da carteira de motorista periodicamente etc. Já usamos mais de 20 empresas diferentes. Em nossa base temos 50 empresas cadastradas. Fazemos a seleção dos ônibus disponíveis no portfólio das empresas pessoalmente."

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Marcelo Abritta (à dir.) e Marcelo Vasconellos, fundadores da Buser. Foto: Isadora Fonseca/Divulgação

Abritta diz que quem quer viajar (não apenas de turismo) deve entrar na plataforma e digitar o destino e a data. "Caso a pesquisa indique que ainda não há nenhum grupo formado, o interessado clica em criar grupo e define data e destino desejados. Caso a viagem não tenha demanda suficiente para ser confirmada, os interessados são avisados com 36 horas de antecedência, para que possam comprar passagem na rodoviária."

Segundo ele, a quantidade de pessoas necessárias para confirmar uma viagem envolve muitas variáveis. "Em alguns casos, com oito pessoas é possível confirmar. A ferramenta usa inteligência artificial para fazer projeções e informar qual é o porcentual de chance de determinado grupo ser confirmado. A rota Belo Horizonte-São Paulo é uma que tem muita procura. Caso alguma viagem não ocorra, o valor pago é reembolsado."

Ele afirma que a possibilidade de a viagem não ocorrer fica bem clara para o público. "Ninguém nunca reclamou. As pessoas preferem trocar a certeza da viagem pela incerteza, desde que paguem valor menor. É uma nova forma de viajar. Quanto mais usuários tivermos, mais fácil será confirmar."

O empresário teve dificuldade para caracterizar a empresa, porque órgãos reguladores consideraram o negócio como empresa de transporte de linha regular, quando na verdade é empresa de tecnologia. "O fretamento sempre existiu, mas era feito por grupos inteiros. Agora, com a internet, é fácil juntar 30 pessoas para montar uma viagem."

Em operação desde março, a empresa já fez 500 viagens e transportou 13 mil pessoas. "Até o final de 2019 queremos transportar três mil por dia."

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Teldoctor promete agilizar atendimento

Por falta de legislação específica, a inovação pode ter de ser postergada. A startup Teldoctor passou por isso. "Em 2015, conheci dois médicos de Harvard que tinham projeto de telemedicina e tentamos implantá-lo no Brasil. Mas as regras não eram claras e eles desistiram, tanto por não falarem a língua quanto por acharem a burocracia muito complicada", diz o CEO, Marcelo Callegari.

Marcelo Callegari, CEO da Teldoctor. Foto: Jasen Delgado/Divulgação

O contratempo não tirou o foco do CEO, que continuou trabalhando na ideia. Em 2017, depois de obter os pareceres de órgãos de saúde que eram necessários para lançar o serviço, começou a operação em sociedade com o médico Luis Henrique Pereira.

"A telemedicina tem dois princípios: o preventivo, quando o paciente passa por triagem eletrônica, e o médico dá orientações e faz encaminhamento para exames, e a teleassistência, quando o médico faz o atendimento por meio de vídeo", explica Callegari.

A Teldoctor atua nas duas frentes. O serviço começou com 50 atendimentos por dia. Hoje, a média é de mil pessoas. A consulta custa R$ 69.

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"Queremos popularizar a telemedicina como ocorre nos Estados Unidos. Lá, em dois anos, 17 empresas movimentaram US$ 1 bilhão."

A consulta é feita por meio do site. O paciente preenche sua ficha clínica e a ferramenta de inteligência artificial faz avaliação prévia e direciona o paciente ao médico especialista. Ele conversa com o paciente e em poucos minutos define prescrições de conduta e exames a serem feitos, inserindo assinatura eletrônica no pedido.

Segundo ele, a telemedicina pode desafogar clínicas e o SUS, reduzir custos e incentivar a medicina preventiva. "Temos 25 médicos que podem atender até 150 mil pessoas por mês. Agora, estou buscando investimento para triplicar o número de médicos e montar centrais no Nordeste e Centro-Oeste."

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