
ESTADÃO ECONOMIA,
01 de Setembro de 2015 | 00:00
Atualizado 30 de Setembro de 2015 | 15:36
As empresas brasileiras têm enfrentado momentos difíceis devido ao crédito restrito e queda no consumo, dentre outros fatores que comprometem seu desempenho.
Diante do aperto financeiro, muitas companhias enfrentam dificuldades e precisam reduzir custos, muitas vezes cortando pessoal.
Entretanto, o mais importante é investir em formas de melhorar a eficiência das operações, um trabalho que vai além dos esforços para combater a crise financeira.
Nesse sentido, boas práticas de governança corporativas implantadas na raiz dos processos podem fortalecer as bases de uma organização.
Especialistas consultados pelo Estado dão opiniões e exemplos de como usar governança para enfrentar a crise. Dê sua opinião e participe também.
Jairo Martins
FNQ
Qualquer organização, independente de ser pública ou privada, é responsável por utilizar seus recursos para gerar valor. Seu desempenho é medido por seu nível de eficácia e excelência em utilizar esses recursos.
Quem deve cuidar disso é a liderança, uma vez que esses princípios estão diretamente ligados à produtividade de uma empresa. E produtividade é isso: gerar mais valor com menos recursos.
A produtividade pode ser explicada por uma simples fração: o numerador é o dinheiro recebido, e o denominador, o que é gasto. Como esses valores podem ser bem administrados é o ponto principal.
Ter os processos bem desenhados, evitar o desperdício, ter pessoas capacitadas, ter um sólido sistema interno de informação e ter um planejamento estratégico bem feito geram resultado. Quem harmoniza isso é a liderança, através da governança corporativa.
O correto em uma empresa é já ter um sistema de gestão implementado para que, em momentos de crise, ela saiba quais pontos atacar. Quem não tem uma boa gestão se perde nessa situação. A empresa começa a cortar pessoas e, às vezes, se desfaz de conhecimentos importantes na organização. No momento da retomada, a companhia terá a sua própria crise, pois não terá musculatura para se reerguer.
Em primeiro lugar, é preciso olhar par quais processos é preciso manter, mantendo o foco no que o mercado exige, do cliente para dentro da empresa. A organização precisa garantir que os seus processos principais, em especial os que trazem receita, não sejam desestabilizados. Assim, é preciso fazer uma análise criteriosa e cortar o que não agrega valor, o que é supérfluo. Esse processo precisa ser sistemático, não empírico. Geralmente, as empresas só olham para isso na hora da crise.
presidente-executivo da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) desde 2011, é, também, Juiz do Prêmio Iberoamericano de la Excelencia de la Gestión, membro da Rede Iberoamericana de la Excelencia en la Gestión (Redibex) e do Global Excellence Model Council (GEM). Atua, ainda, como membro dos Conselhos de Administração da Jacto Agrícola, do Movimento Brasil Competitivo (MBC), do Fórum de Inovação da Fundação Getúlio Vargas (FGV - SP), do Global Reporting Iniciative (GRI) e do Instituto Besc - Habitat do Cidadão.
Décio Cunha
Luz Soluções Financeiras
Gestão de riscos é uma área intimamente ligada a governança corporativa, mas ela não reduz custos. Pelo contrário, requer investimento, pois a criação de novos processos implica em novos custos que até então não existiam. O ponto é: qual é o retorno que se tem?
Em teoria, para entender essa diferença, o correto seria estudar duas empresas exatamente iguais, uma com uma boa estrutura de governança e outra sem. Como isso não é possível, também não há a possibilidade de dizer o quanto se ganha.
O que se tem, no caso, é a percepção do mercado sobre uma organização que tem boa governança: a de que, quanto melhor é essa governança, mais a empresa tem controles, compliance e auditoria adequados, não há conflitos de interesse, etc.
Assim, os financiamentos se tornam mais baratos e melhora a avaliação feita pelas agências de classificação de risco, o que faz com que os custos de captação dessa empresa diminuam.
Em momentos de crise, a gestão de riscos é muito mais palpável. Por exemplo: uma empresa exportadora que esteja perdendo dinheiro em seu negócio vai notar os benefícios desse controle de maneira muito mais rápida.
Por outro lado, a implantação da governança corporativa é um processo muito mais lento, pois os frutos são colhidos no longo prazo. Além disso, o processo é contínuo e precisa começar na própria diretoria da empresa (não é rara a troca de executivos), para depois ir até os demais níveis.
Porém, muitas companhias têm governança apenas "para inglês ver", na tentativa de aproveitar a percepção positiva do mercado. A governança é um produto de marketing dentro de muitas companhias no Brasil.
diretor de consultoria da Luz Soluções Financeiras
Luiz De Luca
IBGC
é coordenador da Comissão de Governança em Saúde do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e superintendente corporativo do Hospital Samaritano de São Paulo.
Matthew Govier
Accenture Strategy
diretor da Accenture Strategy, com 14 anos de experiência em fusões e aquisições, planejamento estratégico, redução de custos, gestão de performance e sustentabilidade nos setores de Bens de Consumo, Energia, Químico, Petroquímico, Recursos Naturais e Agronegócios.
Luiz Edmundo Rosa
ABRH-Brasil
Existem várias formas de reduzir custos, sem necessariamente reduzir pessoal. É possível fazer isso, por exemplo, melhorando a produtividade dos trabalhadores. A partir deste método, as pessoas que saem não são repostas e, assim, melhora-se o rendimento dos que ficam.
No Brasil, temos pouca experiência em formar pessoas polivalentes, que conseguem ir além do habitual. O desafio é reorganizar o trabalho de forma inovadora. Quando as tarefas são feitas de forma mais inteligente, consegue-se reduzir custos pela não reposição de trabalhadores. Essa é a maneira mais suave fazer essa redução.
A segunda alternativa é atuar sobre os principais custos de Recursos Humanos, além da própria folha de pagamento. O segundo maior custo de uma empresa é com assistência médica. Em épocas de crise, esses custos tendem a aumentar, pois as pessoas estão sob pressão e com medo de perder o emprego. Com a própria redução dos quadros pelas empresas, a carga de trabalho aumenta de maneira desordenada e as pessoas acabam usando mais os planos médicos, o que faz os custos subirem.
A crise é sempre um convite para as empresas inovarem e pensarem diferente. Hoje, a maior parte do que uma empresa gasta na área da saúde é com planos médicos. E nós estamos no caminho errado quando não investimos para evitar que as pessoas tenham doenças. É preciso investir mais na promoção da saúde e na prevenção.
Também a falta de diálogo faz com que as pessoas fiquem tensas. Em tempos de crise, é muito importante que a área de RH e a liderança da empresa estejam mais próxima das equipes e mantenham o diálogo.
Às vezes, o caminho para diminuir a tensão é muito simples. Depende de a empresa falar a verdade e não deixar o clima de boataria predominar, pois isso também se reflete nos custos.
Comunicar-se bem com as equipes é mais barato. A falta de comunicação reduz a produtividade, além de reduzir a autoestima das pessoas e não ajudar a resolver os conflitos internos. Portanto, cortar pessoal é a forma mais simples de reduzir custos, mas não a mais eficiente.
diretor da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) - Brasil
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