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De olho na agricultura digital, Embrapa aproxima startups de investidores

O presidente da estatal, Celso Moretti, defende parcerias com o setor privado como forma de aumentar a produtividade e também para levar tecnologia nacional para o exterior

Por Paulo Beraldo
Atualização:

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem potencial de levar consigo ao exterior empresas brasileiras de áreas como genética animal, vegetal e do setor de máquinas agrícolas. A ideia representa uma oportunidade para o setor privado brasileiro explorar melhor novos mercados com a difusão de tecnologias tropicais - nas quais o Brasil é líder.

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A avaliação é do presidente da entidade, Celso Moretti, no cargo desde dezembro 2019. Confira a entrevista concedida à TV Estadão, na qual Moretti ainda falou sobre o programa Pontes para Inovação, plataforma que aproxima startups de investidores, e dos planos de parcerias com o setor privado.

Um dos pilares de sua gestão é o foco em agricultura digital. Pode detalhar um pouco mais esse trabalho?

A Embrapa vai trabalhar com a questão da agricultura digital fomentando a aproximação dos nossos pesquisadores e dos centros de pesquisa com startups e eventuais fundos de investimento. Esse é um trabalho que viemos desenvolvendo desde 2017 através do Pontes para a Inovação. É uma iniciativa que coloca startups e agtechs junto com potenciais investidores. Essa semana tivemos o evento em Piracicaba, a terceira edição dessa iniciativa. 

E como a Embrapa faz para catalisar esse movimento? Muita gente lembra que a Embrapa foi responsável pela revolução da agricultura nos anos 1970. Estaríamos vivenciando outra agora?

Isso é muito cristalino para nós. Temos duas grandes revoluções acontecendo. Uma impulsionada pela sustentabilidade e pelos sistemas integrados de produção. E uma outra muito clara que se mistura com a primeira, que é a agricultura digital, o agro 4.0, com a chegada de veículos autônomos, drones, sensores. A Embrapa vem trabalhando em vários dos seus centros com agricultura digital e essa aproximação com o setor produtivo e com investidores é estratégica.

Em entrevista ao 'Estado' no passado, o senhor disse que o setor privado deveria ir junto com a Embrapa para o exterior. O senhor tem viagens marcadas este ano para a África. Temos boas possibilidades no continente?

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A África é um continente que tem vários países estratégicos para se tornarem parceiros do Brasil e da Embrapa. O continente africano está no meio do caminho entre o Brasil e o sudeste asiático, a China, um dos grandes parceiros brasileiros. A Embrapapode servir como ponta de lança para o setor privado brasileiro, ela pode oferecer tecnologia por meio de cooperação e levar o setor privado brasileiro de genética animal, genética vegetal e de máquinas agrícolas. É uma grande oportunidade que vamos explorar mais em 2020. 

E os planos para o sudeste asiático?

Estudos indicam que até 2030 50% da classe média global vai estar no sudeste asiático. Alguns países do Oriente Médio estão investindo na produção de alimentos e estão iniciando a produção no sudeste asiático. Um exemplo é a Malásia, que está na altura de Belém, localizada no cinturão tropical. Estudando um pouco as condições malaias, vimos que se assemelham muito ao que temos no Norte do Brasil. O Brasil é um dos únicos países do mundo que têm tecnologia para agricultura tropical. É natural pensar que tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e seus parceiros no mundo tropical podem ser adaptadas e utilizadas no Sudeste Asiático. 

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Como é o trabalho do grupo da Embrapa que pesquisa problemas do futuro da agricultura?

Nossa programação de pesquisa está mudando. Temos um conjunto de projetos para atender as demandas atuais do agronegócio, que representa 23% do PIB, em um balanço de algo em torno de 60% dos projetos focando em demandas para solução dos problemas atuais. Mas é importante, num país onde o agro é tão relevante para a economia, não perder de vista o futuro. Estamos modelando que algo em torno de 40% vão trabalhar por indução tecnológica mirando problemas que ainda nem são realidade. Tem uma doença do arroz que não chegou no Brasil, a ideia é que nosso programa de melhoramento genético do arroz prepare variedades para que, quando essa doença que está no sudeste asiático chegar aqui, a rizicultura esteja pronta para enfrentá-la. 

O presidente da Embrapa, Celso Moretti. Foto: José Cruz/Agência Brasil - 10/1/2020

Gostaria de ouvir um pouco sobre as parcerias com o setor privado, como a criação dos chamados fundos checkoffs.

Esses fundos (que arrecadam recursos dos produtores rurais para apoiar o setor, geralmente uma cadeia específica, como soja, milho, leite, boi) são muito explorados principalmente nos Estados Unidos. No norte, na região de Illinois, a associação dos produtores de soja tem um checkoff em que alguns centavos por bushel de soja vão para o fundo. Ele é gerenciado por produtores e, a cada ano, eles se reúnem e indicam quais são as prioridades para (a pesquisa) resolver. Estamos querendo, não só para a soja, mas também para outras cadeias produtivas, estruturar esses fundos gerenciados pelo setor privado com participação da Embrapa e das universidades.

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Em quais cadeias produtivas o sr. vê potencial para isso?

No ano passado, o Brasil produziu 34 bilhões de litros de leite. Imagina se fizesse a desoneração de um centavo de real por litro de leite. Seria um fundo de R$ 340 milhões. Na soja, poderia trabalhar nessa direção também. E na proteína animal. A formação desses fundos daria mais musculatura não só para a Embrapa mas para a pesquisa agropecuária ajudar o setor a resolver problemas. 

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