Com geadas prejudicando a produção, estimativas de inflação já superam os 7%

Preços dos alimentos podem levar o IPCA de 2021 ao ponto mais alto desde 2015, quando chegou a 10,67%; até o momento, as produções de café, hortaliças e frutas foram as que tiveram as maiores perdas

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Por Luciana Dyniewicz
3 min de leitura

As geadas da semana passada e as esperadas até amanhã vão pressionar o preço dos alimentos e se somar a um cenário já complexo para a inflação, que está fazendo economistas reverem as projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2021. As estimativas começam a ultrapassar os 7%, quase dois pontos porcentuais acima do teto para a inflação perseguido pelo Banco Central. Se isso se verificar, o País registrará neste ano a maior inflação desde 2015, quando foi de 10,67%.

O Santander, por exemplo, prevê hoje um IPCA de 6,7%, mas, diante da alta esperada nos alimentos e da crise hídrica – que deve pressionar os preços em geral –, os economistas do banco já falam em patamares mais elevados. “Com todos os riscos atuais, a cara do IPCA é mais para 7,3%”, diz o economista Daniel Karp.

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De 15% a 20% das principais regiões de café do Estado de SP sofreram com geada. Foto: Luis Gonzaga - 21/2/2021

A consultoria Tendências projeta atualmente 6,1%, mas, segundo o economista Marcio Milan, esse número será revisto nos próximos dias. “Claramente, o viés é de alta”, diz. 

A XP, que ainda projeta 6,7%, divulgou um relatório ontem em que afirma ver a possibilidade de que o aumento dos preços ultrapasse os 7%. Segundo a economista Tatiana Nogueira, autora do documento, a empresa deve esperar o início da semana que vem para analisar o impacto das geadas que devem ocorrer até amanhã e, então, mudar oficialmente sua estimativa para a inflação.

As projeções atuais contrastam com o que se esperava no início do ano, quando se tinha a expectativa de que os preços aumentassem por volta de 3,5% em 2021. Até agora, a principal alavanca da inflação foi a gasolina, que, segundo a Tendências, deve subir 24,5% com o aumento da demanda global decorrente do reaquecimento econômico.

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Nos últimos meses, a crise hídrica também passou a ser motivo de preocupação. Diante da falta de água e dos consequentes reajustes na conta de luz, a alta na energia já acrescentou 0,68 ponto porcentual ao IPCA e poderá adicionar mais 0,13 ponto caso um novo reajuste seja aprovado – como é esperado –, de acordo com o Santander. 

Agora, é a vez de a geada dar mais um impulso à inflação. Por enquanto, as produções de café, hortaliças e frutas foram as que tiveram as maiores perdas. Com a redução da oferta, os preços devem subir rapidamente. A XP calcula que esse efeito possa significar mais 0,1 ponto porcentual ao IPCA. “Apesar de ser um aumento menor, esse risco é o mais provável. Os agricultores já estão reportando perda na produção. Isso vai bater provavelmente nos preços coletados na semana que vem”, diz Tatiana, da XP. O outro risco no radar da economista é uma elevação maior nos preços dos serviços em decorrência da reabertura da economia. Segundo ela, esse movimento pode acrescentar mais 0,2 ponto porcentual à inflação.

Prejuízo no campo

No Santander, o impacto da geada fez os economistas elevarem a projeção do IPCA de alimentos de 7% para 8,2% neste ano. Só no Estado de São Paulo, a perda na produção deve ficar, em média, entre 15% e 20%, de acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesp). O vice-presidente da entidade, Tirso Meirelles, classificou a geada da semana passada como a pior desde 1975 para o setor.