A missão oficial brasileira ao Oriente Médio no fim de outubro foi considerada importante para o estreitamento de relações com alguns dos principais países parceiros do agronegócio brasileiro, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Entre 2003 e 2017, as exportações brasileiras para os países árabes cresceram, em média, 14% ao ano, de acordo com a Câmara de Comércio Brasil Árabe. O agronegócio domina as exportações, com vendas de US$ 10,2 bilhões ao bloco em 2017.
Para o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Árabe, Rubens Hannun, a missão foi importante porque os árabes valorizam muito a relação pessoal. “Os árabes dão valor ao relacionamento olho no olho”, diz. Ele reconhece que as declarações feitas pelo presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, no começo do mandato, sobre a troca na embaixada em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém, causaram apreensão no mundo árabe. “O perigo era o de se quebrar a relação de confiança, pois até aquele momento o Brasil tinha uma posição de neutralidade.”
Jogando junto
Assim, desde que Bolsonaro tomou posse, a Câmara Árabe vem fazendo um trabalho junto ao governo para demonstrar a importância do bloco e quanto o comércio com a região agrega ao Brasil. Tradicionalmente, o principal produto exportado aos árabes é o açúcar. Mas neste ano as proteínas (de aves e bovinos) superaram o açúcar e hoje perfazem 30% dos embarques.
“Nós estamos saindo da pauta de matérias-primas e começando a agregar cada dia mais valor. Estamos começando a mandar o produto já cozido ou semicozido, epecialmente para os países do Golfo Pérsico", diz o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Tamer Mansour.
Hannun complementa, dizendo que a expectativa dos árabes é que a relação não seja vista apenas como de compra e venda de produtos, e sim como uma parceria estratégica.
O recente anúncio da brasileira BRF, de investir US$ 120 milhões na construção de uma fábrica de produtos processados de frango na Arábia Saudita, vai de encontro a essa expectativa.
Fortalecimento
O diretor de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, reforça o sentido político da viagem. De acordo com o executivo, a visita foi muito positiva para o fortalecimento das parcerias já firmadas. Ele cita, ainda, o grande potencial da exportação de produtos halal – para países com predominância da religião islâmica.
Segundo a Câmara, em 2022 o mercado halal deve alcançar US$ 3 trilhões, englobando setores como alimentos e bebidas, moda, turismo, mídia, recreação, fármacos e cosméticos em mais de 53 países. Em 2050, a população global que seguirá a religião islâmica deve ser de aproximadamente 2,8 bilhões de pessoas. Em 2017, o Brasil foi o maior exportador de proteína animal halal do mundo, sobretudo carnes bovina e de frango.
Ali Saifi, diretor-executivo da Cdial Halal, a maior certificadora do ramo no Brasil, diz que 100% das proteínas animais que saem do Brasil com destino ao Oriente Médio têm a certificação. Segundo ele, 50% das carnes de bovinos e de aves abatidos no Brasil são halal.