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Indo além da superfície plana

Num futuro próximo, dispositivos móveis talvez possam ser operados com gestos não só na própria tela

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Por Redação
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Novas tecnologias estão sendo criadas para que gestos possam ser usados numa interação 3D com computadores e outros dispositivos Foto: Soluções da Fogale Sensations

Nos dias atuais, a terceira dimensão está em toda parte. Softwares poderosos permitem que designers realizem trabalhos em 3D; óculos especiais possibilitam que seus usuários mergulhem numa ilusão ultrarrealista, na qual caminham e apanham objetos; e as impressoras 3D são usadas para fazer uma variedade crescente de coisas, incluindo edifícios. No entanto, a tarefa de manipular e dar forma a objetos em 3D num computador apresenta algumas dificuldades e geralmente exige um hardware dedicado, utilizado à maneira de um cursor, como um mouse, uma caneta stylus ou um controlador especial, operado por joystick. Algumas empresas, porém, estão desenvolvendo ferramentas para que gestos feitos com as mãos e com os dedos possam ser usados numa interação verdadeiramente 3D com computadores e outros dispositivos digitais. É possível até que essa venha a ser a tecnologia que finalmente aposentará o mouse - criação surgida na década de 60 que, para os padrões da informática, pode ser considerada pré-histórica. Alguns sistemas já estão disponíveis no mercado, como o controlador plug-in 3D da empresa californiana Leap Motion. Usando câmeras infravermelhas, ele rastreia o movimento das mãos. A estratégia de outros desenvolvedores é incorporar nos dispositivos sensores baseados em gestos. O Project Soli, do Google, por exemplo, utiliza radares para detectar movimentos específicos, como a aproximação e o contato do dedão com um outro dedo, comunicando a intenção do usuário de pressionar determinado botão. O Google diz que o sensor pode ser instalado num chip minúsculo.Inovação. Em vez de recorrer a estratégias de input totalmente novas, a Fogale Sensations, uma pequena startup de Genebra, na Suíça, encontrou uma maneira de integrar o controle por gestos às atuais telas sensíveis ao toque. Essas telas são impressas com uma malha de condutores transparentes. Quando não há nada nas proximidades, o campo eletroestático criado entre os condutores é liso e uniforme. Quando um objeto condutor, como o dedo do usuário, se aproxima da tela (tocando-a, ou mantendo-se a alguns milímetros de sua superfície), o campo é perturbado, produzindo uma pequena alteração na capacitância (medida da capacidade de armazenamento de uma carga) entre condutores específicos da malha. Isso fornece as coordenadas do dedo que está posicionado imediatamente sobre a tela ou que a está tocando. Também é possível detectar alguns gestos, como o de "beliscar e dar zoom" (pinch and zoom), mas só com os dedos que estão sobre a superfície do monitor. No caso de um smartphone de tamanho mediano, porém, a tecnologia da Fogale é capaz de rastrear simultaneamente a localização e o movimento de até cinco dedos posicionados a uma distância de até cinco centímetros da tela, além de detectar toques e outros movimentos nas laterais do aparelho. E, em telas maiores, na utilização de funcionalidades como um teclado touchscreen, a tecnologia detecta até dez dedos a distâncias superiores a cinco centímetros. O sistema da Fogale substitui a malha de condutores com uma série de sensores transparentes, cada um dos quais microscopicamente conectado às extremidades da tela. Medindo a mudança na capacitância entre os sensores mais próximos, o sistema "triangula" a localização de um dedo ou de uma mão sobre a tela. Várias técnicas são utilizadas para eliminar eventuais sinais falsos e o "ruído" gerado pela parafernália de dispositivos eletrônicos em funcionamento sob a tela. Por ser capaz de detectar e rastrear múltiplos pontos sobre a tela, em seu redor e em sua superfície, o sistema pode acrescentar novas funcionalidades aos dispositivos móveis. Para ficar no mais simples: o usuário pode dar um zoom num pequeno ícone, que aumenta de tamanho conforme seu dedo se aproxima da tela. As telas dos smartphones estão cada vez maiores, e a contrapartida disso é a dificuldade crescente em manuseá-los só com uma mão. Com as laterais sensíveis ao toque, a tela detecta quando o usuário estica o polegar, trazendo para mais perto o botão que ele está tentando alcançar. As potencialidades 3D da tela da Fogale abrem novas possibilidades para desenvolvedores de games e outros aplicativos. Em vez de simplesmente determinar quando um dedo toca a tela, torna-se possível identificar de onde ele vem e sua velocidade de aproximação. Assim, é viável, por exemplo, chutar uma bola ou disparar uma arma virtual em direção específica e com força crescente. Variando a altura de um dedo mantido acima da tela, o usuário pode dar um zoom em bibliotecas de músicas ou fotos, ou controlar a velocidade com que uma lista de contatos desliza pelo visor. Como a tela da startup suíça também é capaz de acompanhar gestos, pode-se pensar em destravar um telefone com um movimento complexo da mão, que o usuário faria ao mesmo tempo em que pronunciasse em voz alta uma senha: "Alohomora", como diria Harry Potter. E a mágica não para por aí. Embora o foco da Fogale Sensation no momento seja ingressar no altamente competitivo mercado de dispositivos móveis, a empresa também vê possibilidades em outras áreas, tais como desenvolver a tecnologia para que as pessoas possam usar seus dedos e mãos de maneira mais natural e intuitiva ao montar, dar forma e manipular objetos virtuais em computadores. Facilitar ainda mais a utilização desse tipo de software sem dúvida contribuiria para aprimorar o trabalho manual de quem quer criar coisas na terceira dimensão.© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.

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