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Petróleo rompe barreira dos US$ 110 e fecha em forte alta de 7% com guerra na Ucrânia

O Brent, padrão adotado pela Petrobras, terminou cotado a US$ 112,9, maior valor desde 2014, enquanto o WTI atingiu o maior patamar desde 2011

Por Ilana Cardial e Sergio Caldas
Atualização:

Os contratos do petróleo seguiram o ritmo de valorização visto nos últimos dias e voltaram a registrar forte valorização nesta quarta-feira, 2, com os barris rompendo a marca de US$ 110. Os novos desdobramentos envolvendo a guerra na Ucrânia e dados do setor contribuíram para manter a commodity em alta.

O Brent para maio - negociado em Londres e o padrão utilizado pela Petrobras -, fechou em alta de 7,58%, a US$ 112,93 o barril - no maior valor desde junho de 2014. Em Nova York, o WTI para abril teve ganho de 6,95%, cotado a US$ 110,60 - maior patamar desde maio de 2011. Os papéis chegaram a subir mais de 8% ao longo do dia, com o Brent batendo em US$ 114 na máxima do dia, e o WTI, em US$ 112,5.

Exploração de petróleo na Rússia; preço do barril ultrapassa os US$ 110 Foto: Sergei Karpukhin/Reuters

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Na tentativa de aliviar as cotações do petróleo, pressionados pelo conflito no Leste Europeu, organizações internacionais estão aumentando a oferta do ativo no mercado. Hoje, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) vai elevar a oferta da commodity em 400 mil barris por dia (bpd) em abril. Ontem, membros da Agência Internacional de Energia (AIE) já haviam concordado em liberar suprimentos de suas reservas emergenciais de petróleo.

O acréscimo da Opep+, porém, teve pouco impacto nas cotações de petróleo, e foi lido como modesto pelos mercados em face da disparada recente nos preços. Segundo a Opep+, "os fundamentos atuais e a perspectiva apontam para um mercado de petróleo equilibrado", e a "volatilidade" recente se dá pelo cenário geopolítico, e não por mudanças nos fundamentos.

Em relatório, a Capital Economics diz que nunca esperou que a Opep+ fosse reverter totalmente seus cortes de produção até o fim deste ano. "Mas agora estamos ainda mais céticos, à medida que a produção russa terá dificuldades com desafios operacionais associados às sanções", diz o economista para commodities, Edward Farned.

O movimento acontece depois das refinarias começarem a se recusar a comprar petróleo russo, enquanto os bancos se recusam a financiar embarques de commodities russas, segundo executivos de petróleo, banqueiros e traders. As empresas estrangeiras de energia também estão se afastando do país: a Shell planeja sair de suas joint ventures com a gigante russa de energia Gazprom, e a BP pretende se desfazer de sua participação de quase 20% na produtora de petróleo estatal russa Rosneft.

Na avaliação do Commerzbank, o mercado precifica cada vez mais uma interrupção nas importações do petróleo russo, diante das sanções. Hoje, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reforçou que nenhuma opção está descartada em relação às sanções a Moscou.

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Nesse cenário, o recuo de 2,6 milhões de barris nos estoques americanos na semana passada - acima da previsão de analistas -, informados pelo Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês), também contribuiu para a valorização do petróleo. O dado ajudou a reforçar a percepção de que a commodity está ficando mais escassa no mercado.

Inflação

Os países agem para tentar evitar uma valorização ainda maior do petróleo, já que a alta dos barris pode agavar ainda mais a inflação, um dos maiores problemas enfrentados por economias de todo o mundo. Entre analistas, a percepção é a de que a alta da commodity pode forçar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a aumentar o ritmo de elevação dos juros a partit de março, aumentando potencialmente o risco de recessão no próximo ano.

Sobre o tema, presidente do Fed, Jerome Powell considerou um aperto monetário mais agressivo, enquanto o dirigente James Bullard disse que o atual conflito na Europa pode provocar um cenário em que a Rússia continue a conseguir vender seu  petróleo, mas com desconto. Uma regra prática afirma que uma alta de US$ 10 no preço do barril de petróleo aumenta a inflação geral dos EUA em 0,4 a 0,5 ponto porcentual.

Já o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, disse que a guerra deverá ajudar a impulsionar a inflação e a reduzir o ritmo de crescimento da zona do euro nas próximas semanas.

A Rússia é um dos principais fornecedores de petróleo e gás natural e um ator importante em algumas outras commodities, incluindo vários metais. Hoje, os contratos de cobre fecharam em alta de 1,50% em Nova York e de 1,72% em Londres. /COM DOW JONES NEWSWIRES

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