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2009 e suas incertezas

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

Quem estiver à cata de certezas para o planejamento econômico de 2009, talvez não encontre grande coisa. A paisagem está carregada de incertezas. A maior economia do mundo, os Estados Unidos, começa o ano sob nova administração. Barack Obama chega com esperanças demais, e isso não parece bom. À medida que fizer suas escolhas, contrariará grandes interesses, e grandes interesses tendem a semear desesperanças. Um de seus primeiros atos será lançar um pacote fiscal que pode alcançar US$ 850 bilhões. Terá por objetivo reativar o consumo e a produção industrial. Mas os analistas já adiantam que essas intervenções, ainda que bem-vindas, são insatisfatórias se o objetivo é evitar a recessão. Se as montadoras americanas precisam de US$ 34 bilhões apenas para não pedirem concordata, imagine-se o que será preciso para atender à demanda dos demais setores da indústria. O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, advertiu há dias que "a reação dos governos está sendo diminuta, mal inspirada em seu desenho e de efeitos duvidosos". Os Estados Unidos ao menos se mexem. Enquanto isso, os 27 membros da União Europeia, depois de muita negociação, decidiram liberar 200 bilhões de euros (US$ 280 bilhões), o que não passa de 1,5% do PIB, volume claramente insignificante para dar novo empurrão em sua economia. Os preços dos imóveis nos Estados Unidos caíram 8,8% (de abril de 2007 até outubro de 2008) e, enquanto não pararem de cair, não dá para contar com a recuperação do mercado de hipotecas cujo estoque alcança US$ 12 trilhões. E, sem essa recuperação, o consumidor americano se sentirá vulnerável e pouco propenso a consumir. Entre as decisões tomadas em novembro pelo Grupo dos 20 está a de desbloquear até o final de 2008 (isso mesmo, até o final de 2008) as negociações da Rodada Doha. O prazo se esgotou e não houve avanço nessa matéria, o que mostra não só os limites do poder dos senhores do mundo, mas também a incapacidade das reuniões de cúpula de avançarem além das boas intenções. Em 2009, a economia brasileira dependerá mais do vigor do mercado interno do que da recuperação da demanda externa e isso é, por si só, fator positivo. Mas enfrentará pelo menos duas fortes incertezas. A primeira tem a ver com as contas externas. A perda de vitalidade das exportações e a provável redução dos investimentos estrangeiros indicam que o País enfrentará um déficit de, pelo menos, 2% do PIB em suas contas correntes. A questão está em saber quanto dele o mundo estará disposto a financiar, num ambiente de recessão e bloqueio do crédito. De toda forma, há US$ 208 bilhões em reservas que podem ser usadas para cobrir esse rombo. A segunda incerteza tem a ver com o comportamento das despesas públicas. O governo Lula já não conta com as duas avenidas pelas quais pensava desfilar seu candidato à sucessão em 2010: o PAC e o pré-sal. Ambas estão sendo solapadas pelo estancamento do financiamento externo e pelo encolhimento da arrecadação. As pressões por mais verbas públicas crescerão e será preciso ver até onde e até quando o governo Lula conseguirá manter o equilíbrio das contas públicas. Mas aí já estamos falando do fator político, tema de uma próxima análise. Confira Derrubada - Um dos melhores resultados do ano foi a queda da dívida pública em relação ao PIB. O fator que mais ajudou na virada foi a alta do dólar, que aumentou em reais as reservas externas de US$ 206 bilhões.

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