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80% dos credores da Boi Gordo são pequenos investidores

Maioria dos investidores aplicaram menos de 20 mil; esquema prometia 42% em 18 meses e chegou a ter comercial em horário nobre

Por Alexa Salomão
Atualização:

Boi Gordo parecia o investimento mais sensacional do mundo. Chegou a ter comercial no horário nobre com o “Rei do Gado” Antônio Fagundes. Dava até 42% de retorno em 18 meses – o tempo para engordar um boi. Cerca de 32 mil pessoas aderiram, até gente famosa, como a atriz Marisa Orth e o ex-treinador da seleção brasileira de futebol, Luiz Felipe Scolari. 

A Oklahoma, voltada à criação e venda de gado nos Estados Unidos, Austrália e Canadá, e a Floresta Agropecuária, que cuida do mercado brasileiro, também pertencem à J&F. Foto: José Patrício/Estadão

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Ocorre que não havia gado para tanta gente. Os investidores antigos eram pagos pelo ingresso de novos, não pelo retorno conseguido com a venda dos animais – ou seja, era um esquema de pirâmide. A época foi próspera em investimentos alternativos no agronegócio. Houve também um surto de aplicações em avestruzes e também em porcos, que igualmente deram em prejuízos. 

José Luis Peres, ex-corretor da Boi Gordo, diz que o negócio degringolou, em 2001, com o atentado das torres gêmeas, quando o mercado financeiro se retraiu. A empresa, então, entrou em concordata: “Até ali, era uma maravilha, eu ganhava de 7% a 9% de comissão e os investidores recebiam os cheques. Todos foram pegos de surpresa.” Inclusive o pai de Peres, que tinha sido convencido pelo filho, meses antes, a investir todo dinheiro da venda da casa em que morava para comprar um imóvel melhor com o rendimento.

O pai morreu em 2003. A mãe, aos 86 anos, mora de aluguel e, desde a falência da Boi Gordo, em 2004, pergunta ao filho quando vem o dinheiro. 

Trágico. “Sinceramente, não sei como tantos caíram nesse negócio e chega a ser trágico porque 80% das pessoas aplicaram menos de R$ 20 mil – eram economias, a poupança de famílias”, diz o advogado José Garcia. Ele representa 6,5 mil credores que se organizaram na ALBG, Associação dos Lesados pela Boi Gordo. Tem clientes no Brasil e em 18 países. Tem cliente até no Japão. 

O que mais impressiona Garcia é a certeza de que a lição não será aprendida. “As pessoas sempre estão em busca de retorno altos, rendimentos fáceis, alternativas de poupança. Tenho certeza que em cinco ou 10 anos, um negócio desses volta e veremos tudo outra vez”, diz. 

Nem todos procuraram ajuda. Cerca de 17 mil credores não se apresentaram. Os 15 mil que foram à Justiça começam a ser reembolsados se o megaleilão vingar.

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