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A agricultura sente a crise

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Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
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A produção de grãos no Brasil pode estar mais ameaçada do que até agora admitido pelo governo e do que vem sendo apontado pelos levantamentos oficiais de safra. Amanhã, o IBGE e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deverão divulgar a segunda e a terceira estimativas, respectivamente, da safra desta temporada, provavelmente com quedas maiores do que as projetadas pelos últimos levantamentos, entre 1,4% e 3,3%. A agricultura não enfrenta apenas o tombo das cotações das commodities agrícolas (veja gráfico), parcialmente compensado com a alta do dólar no câmbio interno. Enfrenta também a perspectiva de quebra da produção. "Desde a metade deste ano, quando iniciamos nossas projeções, os números estão sendo constantemente ajustados para baixo", observa Jacqueline Bierhals, gerente de Agroenergia da consultoria AgraFNP. É o caso da soja, que pesa 40% na produção nacional de grãos. Com base nos dados hoje disponíveis, a expectativa da consultoria é de queda de 0,7% na produção quando comparada com a do ano anterior. E de redução de 1,9% na produtividade. A falta de crédito, principalmente nas regiões do Cerrado e Norte do País, parece ter tido forte influência na diminuição tanto da área plantada como no uso de defensivos e fertilizantes. O mercado do milho enfrenta o problema dos altos estoques. A boa produção do ano passado não encontrou escoamento no mercado interno e as exportações pretendidas não se confirmaram. Isso sugere que o Brasil ainda não se firmou como fornecedor internacional de milho. O setor de insumos agrícolas, que até setembro registrava recordes de vendas, de carona nos resultados da última safra, já sente a virada das condições. As estimativas da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda) feitas em outubro apontam forte queda, de 35,5%, na entrega física de fertilizantes ao consumidor final, em comparação com o mês anterior. A produção nacional de fertilizantes intermediários recuou 18,3% e as exportações caíram ainda mais, 39,9%. Em novembro, as vendas de máquinas agrícolas, que já vinham em retração, despencaram 21,1% (sobre outubro), como divulgou a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A redução da aplicação de adubos torna a safra mais vulnerável a adversidades climáticas, alerta o analista José Carlos Hausknecht, da MB Associados. Ele pondera que os aguaceiros que têm castigado o Vale do Itajaí, em Santa Catarina, deverão prejudicar irremediavelmente as safras da região. Cerca de 5% da produção nacional de arroz deve ter sido perdida. E ainda adverte que o impacto das chuvas só será devidamente mensurado nos próximos meses, uma vez que as pesquisas da Conab e do IBGE são feitas no início do mês. E, nas duas primeiras semanas de novembro, o problema ainda não existia. Outros Estados estão enfrentando um tipo diferente de problema. Em certas regiões do Rio Grande do Sul não chove há um mês e no Paraná há 20 dias. Se esse quadro vier a ser confirmado, o PIB de 2009 não estará enfrentando apenas retração da indústria. Acusará balanço negativo também na agricultura. COLABOROU NÍVEA TERUMI Confira Não é, mas é - Henrique Meirelles não aceita a crítica de que o Banco Central, que ele dirige, esteja sendo tímido demais no câmbio. Ele argumenta que o Banco Central não atua para puxar ou derrubar o dólar. E que, quando intervém, é apenas para impedir a excessiva volatilidade das cotações. Mas não é o que acontece. Sexta-feira, por exemplo, as cotações saltaram para R$ 2,60 por dólar. Depois que o Banco Central interveio como peso pesado, desabaram para R$ 2,47. Se isso não é volatilidade provocada pelo Banco Central, fica difícil saber o que é.

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