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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|A Bolsa e as eleições

Fatores que estão afetando negativamente o Ibovespa devem seguir até fim do ano

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O Ibovespa enfrenta uma tempestade perfeita no curto prazo: depois de passar o mês de agosto sofrendo com ruídos políticos e com piora do risco fiscal brasileiro, setembro trouxe também a influência negativa das Bolsas internacionais, em particular os índices acionários dos Estados Unidos, que passam por uma correção após atingirem recordes históricos de alta.

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O problema é que os fatores domésticos e externos que estão afetando negativamente o desempenho do Ibovespa não devem melhorar até o fim deste ano em razão de um mesmo obstáculo político: eleições.

Aqui, por causa da eleição municipal, com o 1.º turno marcado para 15 de novembro e o 2.º para 29 de novembro, dificilmente o Congresso e o governo irão resolver as principais questões fiscais que afligem os investidores, como o Orçamento de 2021, o novo programa de transferência de renda (quer seja Renda Brasil ou qualquer outro nome) que venha substituir o auxílio emergencial, e a manutenção ou não do teto de gastos.

Com as atuais incertezas globais, fica difícil do Ibovespa retomar o patamar de alta registrado em julho. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Lá fora, o risco de curto prazo é a eleição presidencial americana, marcada para o dia 3 de novembro. A disputa eleitoral entre Donald Trump e Joe Biden é o principal obstáculo para que os partidos republicanos e democratas cheguem a um acordo para aprovar mais um pacote fiscal.

O benefício emergencial de desemprego, de US$ 600 por semana, acabou em julho e desde então republicanos e democratas estão numa queda de braço quanto ao novo valor para o socorro fiscal. Os analistas dizem que é cada vez menos provável que o Congresso aprove um novo pacote de estímulo antes da eleição presidencial americana.

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Nos EUA, os últimos indicadores de atividade mostraram uma perda de fôlego, refletindo o impacto do fim do benefício emergencial de desemprego. Todavia, os investidores também temem que a zona do euro enfrente uma ameaça à incipiente retomada econômica pós-pandemia do coronavírus. Isso porque uma nova onda de contaminação da covid-19 está levando muitos países europeus, como a Espanha e o Reino Unido, a reintroduzirem medidas de distanciamento social.

Só para lembrar: ao longo da maior parte do mês de agosto, o Ibovespa oscilou entre 100 mil e 105 mil pontos, sob a influência de notícias sobre as fontes de financiamento para o novo programa de transferência de renda e sobre o avanço de reformas, como a administrativa, além de rumores sobre a saída do ministro Paulo Guedes do governo. No último pregão de agosto, o Ibovespa perdeu o patamar dos 100 mil pontos e registrou sua primeira queda mensal (-3,44%) após três meses de fortes ganhos (alta de 8,27% em julho, 8,76% em junho e 8,57% em maio).

Com a influência negativa do exterior, o Ibovespa seguiu em queda em setembro. Até a segunda-feira, dia 21, quando fechou a 96.990,72 pontos, a Bolsa brasileira registrava perda de 2,39% no mês. Nos EUA, o índice S&P 500 acumulava queda de 6,26% no mesmo período. E o índice Nasdaq, baseado em ações de empresas de tecnologia, apresentava queda de 8,46% em setembro até a segunda-feira.

A maioria dos gestores de fundos concorda que o pano de fundo para os mercados globais de ações ainda é positivo e favorável a alta dos índices. Isso porque, para combater os efeitos da pandemia, os principais bancos centrais do mundo, em particular o Federal Reserve (Fed), injetaram uma quantia sem precedentes de liquidez no mercado internacional. Com vários países praticando taxas de juros reais negativas, esse excesso de dinheiro em circulação acaba sendo canalizado para ativos de risco, especialmente as Bolsas de Valores.

Sem falar que, para os países emergentes, a recuperação mais acelerada da economia da China, o primeiro país a entrar e a sair da pandemia, representa preços de commodities, como minério de ferro e soja, mais altos, o que, por tabela, favorece as Bolsas desses países.

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Mas enquanto as incertezas fiscais e o risco político persistirem no Brasil e o Congresso americano não aprovar um novo estímulo econômico, levando os indicadores de atividade nos EUA a frustrar expectativas, fica difícil antever o Ibovespa retomar o patamar registrado em julho, quando superou os 105 mil pontos, seu maior nível pós-pandemia do coronavírus. Ou seja, alta pontual dos índices, como observada no pregão de ontem, pode até acontecer, mas provavelmente terá fôlego curto até o fim do ano.

*COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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