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‘A carga tributária é um grande polvo’, diz empresário

Para donos de empresas, modelo tributário do País tira competitividade da indústria e aumenta preços

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Por Eduardo Rodrigues
Atualização:

“A carga tributária brasileira é um grande polvo com vários tentáculos que agarram tudo que a gente faz.” É assim que Ramiro Sanchez Palma, dono da Anfra Tecidos, que atua no setor têxtil de decoração, resume o seu dia a dia em torno da burocracia para o pagamento de tributos municipais, estaduais e federais. “Quem assina o cheque sente todos os dias o peso dos impostos”, acrescenta.

O empresário do setor têxtil Ramiro Sanchez Palma. Foto: Werther Santana/Estadão

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Palma ressalta que o setor têxtil – com exceção das maiores empresas – não é verticalizado. Por isso, cada companhia da área participa de uma longa cadeia de suprimentos.

A criação de uma cortina de poliéster, por exemplo, começa na produção do polímero pela Petrobrás, que vai para uma companhia que transforma o insumo em fibra, passa por outra que executa o fio, vira tecido em outra, chega à fábrica do empresário – que realiza a confecção – e só então é enviada para o consumidor final.

“São cobrados tributos em cada etapa. O modelo tributário brasileiro causa um estrago no preço final do produto”, acrescenta Palma, que cita ainda os impostos pagos na folha de salários e em outros insumos, como energia e transporte.

Com isso, o executivo relata que não consegue nem cogitar exportar parte da produção. “Não dá para ser competitivo. O Brasil é o quinto ou sexto produtor mundial do setor têxtil, mas exportamos menos de 1% da produção. Não é falta de qualidade ou design. O mundo adora a moda brasileira, mas o modelo tributário não nos permite disputar mercados.”

Ricardo Gracia, um dos proprietários da Kidy Calçados Infantis, aponta que a alta carga tributária acaba com a capacidade de as empresas investirem em inovação e tecnologia para seus produtos.

“Os impostos praticamente inviabilizam a evolução dos negócios. Não dá para repassar tudo no preço, porque um país em crise deixa a população sem dinheiro para consumir. Então, as companhias acabam reduzindo a margem de lucro”, afirma.

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Vivendo com uma lucratividade baixa, apenas no limite da sobrevivência das firmas, boa parte parque industrial passa por um processo de sucateamento. “Quase não sobra para modernizar a estrutura, então acabamos ficando estagnados. E depois precisamos competir com os chineses, que estão rapidamente automatizando e robotizando suas linhas produtivas.” 

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