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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A cavalgada da Bolsa

Analistas parecem propensos a recomendar aplicações em ações e há razões para apostar na continuação da alta

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Atualização:

O Ibovespa, o medidor dos preços dos principais papéis negociados na Bolsa, passou dos 110 mil pontos no pregão desta quarta-feira. Fechou nos 110.300,93 pontos.

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Esses 110 mil poderiam ser entendidos como um número como outro qualquer, com a diferença de que, além de ser considerado “redondo”, é recorde histórico de fechamento. Esse recorde tem de ser relativizado porque o Ibovespa é um composto de preços e os preços das ações também estão sujeitos à inflação. Nos últimos dez anos, por exemplo, a inflação acumulada foi de 75%. Portanto, se for para descontar o Ibovespa da inflação do período, o índice de fechamento desta quarta-feira equivaleria a 63 mil pontos.

Em todo o caso, convém examinar o que se passa pela cabeça de todos os que têm uma reserva para aplicar no mercado financeiro e sentem a coceira das ações. Até esta quarta-feira, a Bolsa acusa, neste ano, valorização de 25,5%. Hora de esperar por uma parada e um ajuste? Ou hora de montar nesse cavalo selado que passa diante da conta bancária de qualquer um?

Mesmo depois da forte alta, os analistas parecem propensos a recomendar aplicações em renda variável, portanto, em ações. As projeções variam segundo o grau de otimismo. Levantamento feito entre 16 analistas e publicado pelo jornal Valor Econômico nesta quarta-feira indica que, na opinião deles, em 2020 o Ibovespa avançará para alguma coisa entre 126 mil e 150 mil pontos. Se isso se confirmar, será bem mais do que proporcionarão aplicações conservadoras.

Apesar da saída de investidores estrangeiros, há razões para apostar na continuação da alta. A primeira é o comportamento dos juros. É muito provável que, a partir do dia 11, o Copom derrube os juros básicos para 4,5% ao ano. Como a inflação deve ficar acima dos 3,0% e os aplicadores em fundos de renda fixa ainda têm de morrer com Imposto de Renda mais tarifa de administração, segue-se que as inversões em renda fixa já estão muito próximas de retorno real de zero por cento ao ano.

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Essa é a principal razão pela qual o número de aplicadores pessoas físicas na Bolsa aumentou 150% nos últimos dois anos (até outubro), para 1,5 milhão de CPFs. Cresceu a demanda por títulos de renda variável e a continuidade de juros baixos tende a aumentar o afluxo.

Boa parte dos estrangeiros tomou decisão oposta, seja porque a disparada do dólar no câmbio interno diluiu o retorno em moeda estrangeira, seja porque temeram enfrentar as incertezas levantadas pelas atitudes políticas do governo Bolsonaro.

Índice da Bolsa de São Paulo renova máximas nesta quarta-feira. Foto: Werther Santana / Estadão

Outro fator que vem empurrando o aplicador para as ações é o aumento de confiança interna no desempenho da economia. Há uma nítida melhora do setor produtivo que o avanço do PIB no terceiro trimestre acaba de confirmar. O consumidor está voltando a sacar o cartão de crédito, o emprego dá sinais de melhora e isso sugere melhores resultados das empresas.

O que poderia dar errado nessas projeções? Entre fatores menores, poderia ser a imersão da economia mundial numa grave crise que pudesse deflagrar um movimento de pânico e, portanto, de fuga desorganizada das aplicações de risco; o recrudescimento da guerra comercial global; e uma eventual forte crise política no Brasil.

Tem gente que, nessas condições, prefere emitir sinais de alerta, do tipo: cuidado com a Bolsa; é preciso redobrar os cuidados; tudo o que sobe termina caindo. É lá um jeito de lidar com o imponderável. Melhor é levar em conta que toda aplicação no mercado financeiro envolve uma aposta. Quem prefere aplicações conservadoras aposta em que alguma coisa pode dar errado para quem optar pelo risco e, por isso, prefere se entocar. Quem monta o cavalo arriscado da Bolsa aposta em que vai se dar bem com isso. Nem sempre é assim e qualquer tombo é do jogo. 

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O que não se pode é arriscar na Bolsa um dinheiro de que se vai precisar a curto prazo. Até mesmo o bom cavaleiro sabe que tem de estar sempre preparado para uma queda da cavalgadura. 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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