Mesmo com dois sócios da concessionária citados na Lava Jato, presidente diz que não houve piora no desempenho dos negócios
Por LUIZ GUILHERME GERBELLI E RICARDO GRINBAUM
Atualização:
Dos três maiores sócios do Grupo CCR, dois estão envolvidos na Operação Lava Jato: as construtoras Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez - cada uma com 17% da composição acionária do grupo. Nem por isso o presidente da CCR, Renato Vale, diz ter sentido uma piora na liberação de crédito ou no desempenho dos negócios. "A CCR não é uma empresa que necessita mais de aporte de acionistas", afirmou. As dificuldades atuais, disse ele, ocorrem por causa do quadro geral da economia: recessão, inflação elevada e deterioração da confiança. Recentemente, depois de 20 anos, a CCR sofreu um revés. Em março, perdeu a concessão da ponte Rio-Niterói para a EcoRodovias.
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A seguir os principais trechos da entrevista ao Estado.
Embora a CCR seja uma concessionária, muitas construtoras dizem que os bancos fecharam as portas para o crédito. Como está a situação?
O grupo Andrade Gutierrez e a Camargo Corrêa são nossos acionistas, mas os investidores dessas duas empresas na CCR não têm nada a ver com construção. Inclusive as pessoas que frequentam o nosso conselho de administração não têm a ver com construção. A nossa empresa foi montada para ser uma 'viabilizadora' de investimento, serviços e infraestrutura. Evidentemente o mercado está mais difícil para todo mundo. Tem um cenário macroeconômico muito complicado com a expectativa de uma recessão de mais de 1% e inflação acima de 8%.
O fato, então, de a Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez serem citadas na Operação Lava Jato não muda nada para a CCR?
Por enquanto, zero. Pode algum dia ter algum tipo de contágio? Até imagino que possa por causa dessa confusão que é muito normal, de que a gente é uma empresa do mesmo grupo. Nós não somos uma empresa do mesmo grupo. Eles têm um investimento aqui. A gente tem tido um cuidado para deixar isso muito claro para todos. Fizemos roadshow específico nesse sentido, para mostrar como as coisas funcionam. O grupo Camargo e Andrade foram mentores da criação da CCR, que hoje é um investimento que tem vida própria.
Alguns bancos fecharam completamente as portas para construtoras. O negócio da CCR é concessão, mas não houve problemas?
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Com os bancos que são nossos parceiros - com quem mais atuamos - nós tivemos zero de problema. Mas todo mundo está mais restritivo, quer estudar melhor o negócio.
Houve mais demora para liberar o crédito? Não demora mais porque nós trabalhamos com planejamento de longo prazo. Então, sabemos, hoje, o dinheiro que vamos precisar daqui a 18 meses.
Mas longo prazo não fica comprometido? Não, de novo, não. Nós assinamos um contrato com a MSVia, que é nossa empresa, com a ANTT para a concessão da BR-163, no Mato Grosso do Sul. Nós assinamos (o contrato) no ano passado e começamos os investimentos. Temos um ano para fazer 10% dos investimentos para começar a cobrar pedágio. O empréstimo do BNDES já saiu, nós recebemos o empréstimo ponte negociando o longo prazo. Isso é razoável? Puxa, é muito bom.
Nada atrasou do BNDES?
Atraso normal. Demorou mais 15 dias, absolutamente razoável.
Como fica a situação dos seus investidores daqui para frente? A empresa depende dessas empresas que estão sofrendo problemas por causa da Lava Jato? Eu não dependo deles. A Camargo e a Andrade têm uma participação de 17% cada, participam do bloco de controle da CCR e definem o que a gente chama de objetivos gerais e diretrizes de cinco anos. Nós trabalhamos dentro desses objetivos. A partir daí, a gente não precisa de nenhum dos controladores para nada. Precisamos deles para a governança, tomar as decisões. A CCR não é uma empresa que necessita mais de aporte de acionistas. Pelo contrário. No ano passado, nós pagamos R$ 1,5 bilhão de dividendos.
Não está no horizonte a venda de uma participação da Camargo e da Andrade? Nada. Zero no horizonte.
No início da conversa, o sr. disse que não vai mexer no plano de investimento? Nada. São R$ 5 bilhões.
E esse montante é destinado a quais investimentos? Basicamente são investimentos na duplicação da rodovia BR-163, no metrô da Bahia, a Transolímpica no Rio de Janeiro e no BH Airport.
E a ponte Rio-Niterói: por que a CCR perdeu a concessão? É um caso clássico de sucesso. Há 20 anos nós entramos na ponte Rio-Niterói e ela estava caindo aos pedaços. Se vocês conhecessem o que estava por debaixo da ponte, ninguém passaria por lá. Cumprimos todas as obrigações contratuais e recuperamos a ponte. Todo mundo me pergunta se estou triste por ter perdido. Eu digo que não. Estou feliz de a gente ter cumprido o contrato e dado uma prova de que o contrato de concessões realmente pode ser uma solução. Agora, ganhar ou perder é oportunidade de quem está com mais vontade ou apetite. Espero que daqui a 30 anos os novos concessionários entreguem uma ponte melhor.
O sr. acha que os concorrentes foram agressivos demais? Os concorrentes foram muito mais agressivos. E esse negócio é muito engraçado. Quando a gente conhece bem um assunto, você sabe exatamente o que ele custa e o trabalho que ele dá. É assim mesmo. E a pessoa que conhece menos o assunto pode ser dar ao luxo de arriscar algumas opiniões. Nós não podemos. Depois de eu estar lá há 20 anos, se eu errar no tráfego, eu sou maluco.