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Economista e sócio da MB Associados

Opinião|A China mostra suas fragilidades

A gripe suína africana e a emergência do Coronavírus passaram a dominar as preocupações e o cenário

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Atualização:

A China tem décadas de um crescimento extraordinário. Entretanto, os últimos meses têm sido difíceis. A gripe suína africana desorganizou o mercado de carnes no país, obrigou a uma busca pelo produto no mundo inteiro e, talvez, tenha sido o maior determinante para a assinatura da fase 1 do acordo com os EUA. Logo em seguida, a emergência do Covid-19 passou a dominar as preocupações e o cenário.

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Esses movimentos colocaram luz em muitas fragilidades do país. Discutiremos algumas das que nos parecem mais relevantes. 

– O crescimento do PIB chinês certamente será o mais afetado de todos os países do mundo. Ainda é cedo para números mais seguros, mas pelo menos um grande banco internacional que tem presença na China estima uma redução do crescimento de 6% para 4,5% em 2020. 

– Hábitos tradicionais e economia urbana moderna nem sempre combinam bem. Quase metade da criação de suínos era feita por unidades familiares em péssimas condições de higiene e foi aí que a gripe suína se desenvolveu e se espalhou, gerando perdas de produção que vão somar a espantosa quantia de 20 milhões de toneladas. Não dá mais para alimentar uma população gigantesca com essa precariedade na oferta.

Da mesma forma, é seguro que o Covid-19 se espalhou pela venda e consumo de animais silvestres, comercializados em mercados de grandes cidades. Esse hábito vai ter de mudar meio que à força. Essas mudanças necessárias na oferta de alimentos vão beneficiar muito o Brasil, que é capaz de produzir carnes em grande volume e condições sanitárias de primeira qualidade. 

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– Uma ditadura de partido único coloca severas limitações na governança pública, quando comparada à democracia. Aparentemente, o reconhecimento do vírus foi retardado pela tentativa dos dirigentes partidários locais de esconder a doença. Além disso, parece que só seria aceito em hospitais quem passasse antes pela célula do partido. Não é difícil perceber o quanto essa burocracia deve ter facilitado o espraiamento de um vírus de muito fácil contágio, especialmente no inverno. Além disso, a maior parte dos analistas desconfia que os números divulgados não são corretos, o que eleva a incerteza global, tornando mais difícil a adequada resposta de empresas e países frente às ameaças geradas pelo surto. 

– O país tem grande dificuldade em lidar com minorias, como os uigures e, naturalmente, com ideias democráticas, como a crise de Hong Kong revelou fartamente.

– A gestão da crise mostra, sem nenhuma surpresa, um Estado excessivamente pesado. Isso vale também para as empresas públicas.

– A China tem um meio ambiente muito vulnerável e severos problemas quanto à qualidade da água e do ar. Um grande esforço está sendo feito para melhorar a matriz energética: 26% da energia elétrica, em 2018, provinham de fontes renováveis, como eólica e solar. Entretanto, o carvão ainda era fonte de 38,5% da energia consumida.

– O país depende em larga medida da importação de outros energéticos e, em particular, do petróleo. A expansão de veículos elétricos pode melhorar essa equação.

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– A disputa tecnológica com os Estados Unidos, naturalmente, afeta a trajetória de crescimento do país. Em particular, a questão da manutenção ou não das cadeias globais de produção fortemente dependentes da China é uma questão que traz enormes dificuldades para todos.

– Finalmente, a moeda chinesa não é conversível, o que é um formidável obstáculo ao aspirante à potência global hegemônica. 

Os acontecimentos recentes sugerem que a disputa entre as duas grandes potências vai reacender, assim que a crise trazida pelo Covid-19 se dissipar.

Evidentemente, o Brasil só terá a ganhar se mantiver a posição de se relacionar com todos os grandes parceiros.

* * * * * O partido pode ser Novo, mas o que o governador Zema fez é populismo dos mais antigos, e talvez garanta uma gestão medíocre, decorrente da crise fiscal. Além disso, é um péssimo exemplo para outros Estados e pode criar grandes problemas para o ajuste fiscal do País como um todo. * ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS. ESCREVE QUINZENALMENTE

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Opinião por José Roberto Mendonça de Barros
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