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A concentração do setor elétrico

Por Adriano Pires & Abel Holtz
Atualização:

Nos últimos meses temos presenciado movimentos suportados pelo governo para concentrar as atividades dos seguimentos do setor elétrico em alguns poucos grupos empresarias, incluindo-se aí as principais empresas estatais e as estaduais Cemig e Copel.Ao mesmo tempo, a reestruturação da Eletrobrás assegura posição diferenciada entre os players do setor, como é desejo do governo. Entretanto, o discurso afinado dá conta de que ela não será uma competidora e, sim, uma parceira estratégica dos players privados.O movimento entre as empresas privadas somente está avançando com a CPFL na expansão da distribuição e de investimentos em geração de energia com biomassa. A Tractebel se concentra na expansão da geração e vai ampliando seu portfólio incluindo fontes incentivadas, como as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH"s) e de energia eólica. A Endesa é objeto de desejo por parte de algumas das empresas, mas seus controladores negam a venda, apesar da pouca relevância desse ativo no seu portfólio. A EDP estaria manietada pelo desejo do governo português, que pretende arrecadar 1 bilhão com a privatização para reduzir seu déficit. A Neoenergia namora uma fusão com a CPFL, com apoio da Previ. O Grupo Rede, que atua em 34% do território nacional, tenta equacionar seus problemas financeiros, enquanto recebe propostas para associações ou compra.No caso da AES, suas operações no Brasil são bastante lucrativas. O lógico seria reinvestir os lucros, mas a empresa vem declarando que fará total distribuição entre os acionistas. A decisão não é estranha, pois 35% do lucro da matriz vem da operação no Brasil. Reverbera no mercado a informação de que a matriz deseja vender a empresa para recompor sua posição nos EUA, como fez recentemente para um fundo chinês.A Duke reafirma sua continuidade no Brasil e a vontade de ampliar seu parque gerador para recuperar a posição que teve, em passado recente, de terceira geradora privada. Ao mesmo tempo, tanto a AES como a Duke se movimentam para construir em São Paulo duas Usinas Termoelétricas (UTE"s) de 500 MW cada, para cumprir obrigações contratuais e não terem as suas concessões questionadas.Em posição privilegiada está a Petrobrás, que avança na geração de energia térmica, inclusive, para assegurar a utilização do "tsunami" de gás natural que virá com o pré-sal. É um player à parte e corre em "raia" separada. Claro que há um sem-número de players menores, que terão sempre seu lugar e estão dedicados a empreendimentos de PCH"s, centrais eólicas e de biomassa.O segmento de transmissão foi atacado pela Cemig, que comprou algumas das empresas. Há também novos sinais para consolidação com a entrada da Odebrecht Energia. A Abradee menciona que os três maiores grupos nacionais detêm não mais de 35% do mercado de distribuição e que, no exterior, as maiores companhias têm em suas mãos mais de 65% do market share. Na opinião da Abradee, as maiores empresas do setor no Brasil não só têm boas possibilidades de expansão, como estão fortes o suficiente para negociar com potenciais alvos. Lembra que há um fator relevante que, indiscutivelmente, obrigará a recomposição do setor no País: a regulação do mercado, cuja revisão de tarifas reduziu expressivamente as margens das empresas.Complementando, conclui-se que a contrapartida que desponta está relacionada à escala dos negócios. Sua busca é, hoje, elemento importante para ser um vencedor nesse segmento. Só a consolidação é capaz de, no longo prazo, criar empresas mais eficientes e que possam produzir e distribuir energia com maior qualidade. Esses são fotogramas de um filme que requer roteiro e direção por parte do governo. Elementos essenciais para a ação, já que o BNDES declarou receptividade para financiar os grupos que vierem a apresentar projetos viáveis no processo de concentração esboçado para o setor elétrico. DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA E ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS DA ABEL HOLTZ & ASSOCIADOS, RESPECTIVAMENTE

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