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A concertação para o bom conserto

Por Marco Antonio Rocha
Atualização:

É cada vez mais evidente para as lideranças políticas experientes e amadurecidas do País, inclusive do próprio PT, que a concertação de um programa para consertar a economia e repô-la nos trilhos do crescimento sustentável, e, principalmente, confiável, não depende do sr. Joaquim Levy, nem do sr. Renan Calheiros, nem do sr. Eduardo Cunha, nem do sr. Temer. A tranca nesse caminho se tornou, sem a menor sombra de dúvida, a sra. Dilma Rousseff. Circulam nos meios políticos mais altos, com livre trânsito nos corredores de Brasília, do Congresso e do Planalto, a crescente convicção de que "com Dilma não dá". Por quê? Porque a frase resume a convicção, em geral comentada à boca pequena, de que mesmo um programa de ajuste posto em prática com presteza, firmeza e eficiência - e o do sr. Joaquim Levy já se provou trincado e cheio de vazamentos por diversos lados - não reconduzirá a economia ao nível de credibilidade e confiabilidade necessário a sua estabilização e retomada. Isso porque a nossa presidente continua demonstrando, a cada dia, uma evidente incapacidade de liderar sua própria equipe de assessores e de traçar para o conjunto do governo uma linha de políticas coerentes em direção a objetivos definidos. Aquela trapalhada verbal da sra. Rousseff, sobre metas que não seriam colocadas para ser alcançadas, mas que seriam dobradas quando fossem atingidas, provocou muitas piadas e perplexidades na internet. Mas, nos círculos políticos, mais íntimos ou menos íntimos, sobrolhos se elevaram, como se dizia antigamente. Percebeu-se que aquilo foi reflexo do vazio mental com que a situação atual e os seus possíveis rumos são vistos e analisados pela presidente. Há muito pouca coisa de positivo, portanto, a esperar da nossa líder máxima no resto do seu mandato, seja nos terrenos político, econômico e administrativo, pois, de alguma maneira, lhe falta boa dose de noção da realidade. A sua falta de assunto no terreno da diplomacia, tantas vezes apontada e criticada no seu primeiro mandato, se tornou norma na governança em geral. Em termos das grandes e profundas reformas que o País está precisando e reivindicando - política, administrativa, fiscal, trabalhista, jurídica e judicial, eleitoral, etc. -, ela não tem nada a dizer, simplesmente, e, pior, não tem o que sugerir aos grupos de trabalho que porventura sejam criados para tomar conta dessas tarefas. E o fato é que com ajuste, ou sem ajuste, com o ajuste do Levy dando certo ou sendo substituído por um outro, o Brasil precisará de um programa de governo gestado com altíssima competência, acima de querelas partidárias - acima de "projetos de poder" do PT, do PSDB, do PMDB. Precisará de um PND - Projeto Nacional de Desenvolvimento, integrado e conduzido com muita competência. Isso se quiser, de fato, tirar o pé do buraco em que Dilma o meteu - em parte por inépcia, em parte por soberba, em parte por ignorância - e se não quiser cair noutro depois. Ora, já ficou claro até para correligionários que a presidente Dilma não tem condições seja de liderar uma equipe que prepare um PND dessa envergadura, seja de reunir as forças políticas mais significativas do País em apoio a ele. E é evidente que semelhante projeto nacional (repito) exigirá união política do mais alto nível, independentemente de quem sejam seus idealizadores ou propositores. O que importa num projeto desses é que um consenso político em torno dele seja percebido com clareza por todos os setores responsáveis da sociedade e sua feasibility (como dizem os americanos) - exequibilidade, fazibilidade, ou o que queiram - esteja assegurada tecnicamente. Os PNDs dos governos militares foram concebidos de modo autocrático e impostos burocraticamente. Por isso não deram certo e deixaram para o Brasil dívidas colossais. Hoje, temos planejadores altamente qualificados e a democracia a pleno vapor. Só precisamos de liderança capacitada.* Marco Antonio Rocha é jornalista

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