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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A conta de luz subiu. Vale a pena optar pela solar?

Alternativa para reduzir os gastos com a conta de energia elétrica, a procura por sistemas de geração de energia solar fotovoltaica cresce em todo País

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Atualização:

A conta de luz ficou mais cara. Só em julho, a paulada é, em média, de 8,12% para o consumidor final, segundo cálculo do economista André Brazcoordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). E não é coisa apenas ocasional. O sistema elétrico tem graves problemas estruturais cujas soluções levarão tempo. Vale a pena instalar energia solar em casa ou no estabelecimento comercial? Nesta Coluna vão algumas indicações dos custos e do retorno de um investimento desses.

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O interesse em projetos de geração distribuída (GD), em que a energia elétrica é gerada próximo ou no local de consumo por meio de sistemas de captação de luz solar instalados em telhados de residências, condomínios, casas de comércio, fábricas e edifícios está aumentando e deverá crescer ainda mais com o encarecimento do quilowatt-hora. Apenas de janeiro a maio, a procura por instalações no País cresceu 117%, como informa o Portal Solarmaior marketplace de energia solar do País.

Mesmo com o aumento dos custos, consequência da alta do dólar, 132,7 mil usinas fotovoltaicas foram instaladas no País no primeiro semestre deste ano, o que corresponde a um acréscimo de 1,3 gigawatts (GW) de potência instalada. A geração solar distribuída atingiu a marca de 6 GW no fim de junho, o valor é equivalente a 42% da capacidade de Itaipu, que é de 14 GW, e representa um crescimento de 28% em potência instalada em relação aos 4,6 GW de capacidade registrados em dezembro de 2020, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar).

Embora os preços da tecnologia tenham caído, o custo de um projeto completo de energia solar fotovoltaica residencial varia entre R$15,8 mil e R$36,0 mil, com tíquete médio entre R$ 25 mil e R$ 29 mil, como informa Rodolfo Meyer, sócio-fundador do Portal Solar e conselheiro da Absolar. (Veja tabela.)

O cálculo do valor dos projetos leva em consideração o custo de instalação, homologação do sistema, garantias dadas aos equipamentos e manutenção. Como variam a localização, o tipo do imóvel e a tecnologia utilizada, o preço final e o prazo de retorno do investimento também variam.

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Tendem a valer mais a pena nos estabelecimentos comerciais, porque quanto maior capacidade de instalação, ou seja, a potência em quilowatt-pico do sistema, melhor e menor será o custo da energia gerada.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, um sistema de R$ 29 mil, mais apropriado a residências, deve pagar-se em cerca de cinco anos, avalia Rodolfo Meyer. O mesmo sistema instalado em Minas Gerais ou na Região Nordeste terá retorno mais rápido, de aproximadamente 3,5 anos, porque conta com mais incidência solar e enfrenta tarifas mais altas da energia convencional.

Como os painéis estão mais eficientes e tendem a ter entre 25 e 30 anos de vida útil, nas condições atuais sobram duas décadas de rentabilidade.

A energia solar ultrapassou a marca de 6 gigawatts (GW) de potência instalada em telhados, fachadas e pequenos terrenos de residências, comércios, indústrias, produtores rurais, prédios públicos no Brasil no fim de junho. Foto: Tiago Queiroz/ Estadão. 

Boa parte desses investimentos pode ser financiada por meio de crédito direto das linhas para desenvolvimento de energias sustentáveis oferecidas pelos bancos ou cooperativas de crédito. O crescimento do mercado fez emergir novo nicho: o das startups especializadas em financiar os equipamentos.

“Temos percebido redução no perfil de renda do público que tem buscado financiamento. As pessoas estão sendo pressionadas pela alta da conta de luz e se dando conta de que o investimento compensa. Em cerca de 70% dos casos, a parcela do financiamento é mais baixa do que o que se paga mensalmente pela energia. Em nossa carteira, o prazo médio para o pagamento do financiamento varia entre 50 meses e 84 meses e vem cabendo no orçamento do consumidor”, observa Rodolfo Meyer.

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Segundo Rodolfo Meyer, sócio-fundador do Portal Solar e conselheiro da Absolar,a parcela do financiamento é mais baixa do que o que se paga mensalmente pela energia na conta de luz em cerca de 70% dos casos. Foto: Felipe Rau/Estadão. 

Com o mercado aquecido, novas soluções vêm aparecendo. Uma delas é a de aluguel de painéis. A modalidade é oferecida pela Solar21, startup que atua em projetos residenciais em Brasília, Região Metropolitana de São Paulo, Campinas e projetos-piloto em Salvador.

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Todo o processo, desde a contratação até o cancelamento do uso do sistema, é feito de forma online e a mensalidade inclui os custos com a elaboração do projeto, compra de equipamentos, instalação, manutenção e eventuais despesas extras durante a utilização do sistema. “Após todo o processo de avaliação e escolha do plano que melhor se adapte ao perfil do cliente, ele estará com o sistema ativo entre 20 e 30 dias após a assinatura do contrato”, diz Vinicius Ferraz, CEO da empresa.

O valor da assinatura varia de acordo com o perfil de consumo de cada um, mas Ferraz estima que a cada R$ 100 gastos com a conta de luz, cerca de 60% correspondem ao valor da assinatura, 10% vão para a distribuidora – já que não é possível zerar a conta por causa dos custos de utilização do sistema –, e 30% ficam para o cliente como economia.

Apesar das reduções de custos com o barateamento da tecnologia e da maior oferta de serviços, Julien Dias, diretor da EconomizeEnergia, empresa que oferece serviços de gestão, financiamento e fusões e aquisições no segmento de energia, adverte que, em parte dos casos, investir em sistemas fotovoltaicos para consumo próprio não é a melhor solução.

Existe a possibilidade de revisão do contrato com a distribuidora para escolher a modalidade tarifária (tarifa branca ou tarifa convencional monômia para os consumidores de energia elétrica de baixa tensão e tarifa verde ou azul para consumidores atendidos em média ou alta-tensão) mais adequada ao perfil de consumo ou migrar para geração distribuída.

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Uma das quatro modalidades na geração distribuída é o modelo de geração compartilhada, em que um grupo de consumidores (pessoa física ou jurídica) situados na mesma área de atendimento da concessionária pode se unir em consórcio ou cooperativa para instalar uma usina em local diferente das unidades consumidoras e todos utilizarem da energia e dos créditos gerados pelo saldo positivo de energia elétrica inserida na rede.

“Isso pode resolver o problema dos altos custos com energia elétrica, porque a adesão aos consórcios e cooperativas é de graça e todas as despesas com a manutenção do sistema fotovoltaico são compartilhadas. A instalação de painéis solares para consumo no local envolve outros custos que precisam ser colocados no papel, por isso a necessidade de pensar em outras opções de gestão de energia sem precisar fazer grandes investimentos”, pontua Dias./COM PABLO SANTANA

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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