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A crise Argentina pode respingar no Brasil

Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, alerta para as poucas opções que restam à Argentina para sair das dificuldades econômicas. Se faltar habilidade de negociação, pode haver uma crise séria e os efeitos serão sentidos no Brasil.

Por Agencia Estado
Atualização:

A recente crise política na Argentina reacendeu os piores temores. É difícil prognosticar o desfecho, mas sabe-se que a desvalorização cambial está fora de cogitação. Dado o elevado grau de endividamento em moeda estrangeira do governo, das empresas e dos indivíduos, a desvalorização seria um desastre. O risco se desloca, assim, para um eventual alongamento compulsório da dívida pública, que também teria dramáticas conseqüências, inclusive para outros países da América Latina. Há muito em jogo. Por isso, é provável que os líderes argentinos tentem uma negociação para evitar o pior. Suponha, entretanto, que os acontecimentos fujam do controle, em virtude de intransigência, inabilidade nas delicadas negociações ou um evento que dispare uma situação de pânico. Os efeitos sobre o Brasil seriam grandes. Uma crise de confiança dos investidores na Argentina terminaria contaminando o Brasil e outros países que precisam ter acesso aos mercados internacionais de capitais. Os investidores colocariam todos no mesmo saco. O prêmio de risco aumentaria, o que significaria juros mais altos, interna e externamente. Pressões se formariam sobre os fluxos cambiais, acarretando uma maior desvalorização do real. A percepção do aumento do risco tenderia a se aprofundar diante das expectativas em relação ao comércio exterior da região, particularmente ao Mercosul. Uma crise argentina obrigaria o país a criar defesas contra as importações, independentemente de sua origem. Isso afetaria as exportações brasileiras para a Argentina. O prêmio de risco subiria influenciado também pelo lado do balanço de pagamentos. A provável reação da política econômica brasileira seria a de evitar que a pressão na taxa de câmbio se transformasse em inflação permanente. Medidas seriam adotadas, no campo fiscal e monetário (juros) para deter a propagação dos efeitos da crise sobre o sistema de preços. O resultado seria uma desaceleração da atividade econômica e do emprego. A opinião pública diminuiria seu apoio ao presidente da República. Em resumo, um colapso econômico na Argentina teria graves conseqüências. Não seria o fim do mundo, mas poderia abortar o atual processo de recuperação da economia brasileira e gerar efeitos sociais e políticos nada desprezíveis. A torcida é grande, portanto, para que os irmãos argentinos saiam dessa situação da melhor maneira possível.

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