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A crise e a balança comercial brasileira

Por Antonio Corrêa de Lacerda
Atualização:

Os efeitos da crise internacional sobre o desempenho exportador brasileiro são significativos, dado que as commodities têm um peso relativo direto e/ou indireto expressivo na pauta de vendas externas. A crise tem provocado queda nos preços internacionais das commodities, reduzindo a receita dos exportadores desses produtos. Nos últimos dois meses os preços das commodities caíram em média 30%, de acordo com índice CRB (Commodity Research Bureau). No entanto, é ainda precipitado concluir daí que o saldo da balança comercial brasileira vai se deteriorar na mesma proporção. Isso porque se o processo de deflação de preços no mercado mundial afeta a receita exportadora, o mesmo ocorre com os preços dos produtos importados. Além disso, como veremos, há uma série de variáveis que devem ser levadas em conta para avaliação do comportamento futuro da balança comercial. A receita de exportações brasileiras serão negativamente afetadas pelas quedas nos preços dos produtos no mercado internacional e pela retração nos mercados externos. No entanto, o mesmo efeito ocorrerá com os preços das importações. Além disso, elas tendem a ser desestimuladas pela desaceleração da demanda interna e pela desvalorização do real. Os preços dos produtos exportados pelo Brasil vinham crescendo nos últimos anos, com destaque para o período posterior a 2006. Dois fatores explicam esse desempenho, especialmente no que se refere aos produtos básicos. O primeiro é decorrente do crescimento da demanda internacional e o segundo, das especulações no mercado. As commodities se transformaram em ativos financeiros, que atraíram aplicações de fundos de hedge, nas operações carry trade, estimuladas pelas taxas de juros baixos no mercado internacional, muitas vezes negativos em termos reais. Esse fator influenciou a subida dos preços de algumas commodities e especialmente do barril de petróleo, que chegou a atingir mais de US$ 150. Os preços das exportações brasileiras cresceram 54,1% no acumulado até setembro de 2008, período anterior à recente queda observada, comparativamente à média de 2006, segundo os dados do Boletim de Comércio Exterior da Funcex. Isso significa que, se o Brasil tivesse exportado a mesma quantidade de produtos, a receita cresceria 54% somente pelo efeito do aumento dos seus preços em dólares no mercado internacional. No período, o índice acumulado de quantum das exportações, que indica o desempenho da quantidade física, cresceu apenas 13%. Sob o ponto de vista das classes de produto, o maior aumento foi o dos produtos básicos, cujos preços cresceram 84,5%. As demais classes de produtos também tiveram aumento de preços, como os semimanufaturados, com 57,4%, e os manufaturados, com 33,4%. Mas, se as exportações brasileiras tiveram impacto positivo do aumento de preços nos últimos anos, o mesmo ocorreu com as importações. Na comparação com a mesma base média de 2006, os preços médios em dólares dos produtos importados pelo Brasil cresceram 40,4%. Dentre as categorias de uso se destacam os crescimentos dos preços dos bens de consumo não-duráveis, com 46,2%, e o dos combustíveis, com 83,4%. O índice de quantum dos bens importados cresceu 62%, estimulado pelo real apreciado e também pelo nível de atividade doméstica aquecido. Portanto, diferentes variáveis determinarão o comportamento da balança comercial brasileira nos próximos anos: os preços dos produtos exportados e importados, as demandas internacional e doméstica e o nível do câmbio real. No que se refere ao mercado vale destacar que, apesar de as principais economias mundiais, como EUA, Europa e Japão, estarem em recessão, isso não significa que o mercado de exportação deixou de existir. Esses países e outros que não estarão em recessão continuarão a importar trilhões de dólares em produtos e serviços. A concorrência vai aumentar, porque todos estarão disputando um mercado que não estará se expandindo. Mas os exportadores brasileiros têm muito mais potencial do que o pífio 1,2% que representa nosso market share nas exportações mundiais! *Antonio Corrêa de Lacerda, professor doutor da PUC-SP, é doutor em economia pela Unicamp, economista-chefe da Siemens e co-autor, entre outros livros, de Economia Brasileira (Saraiva) E-mail: aclacerda@pucsp.br

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