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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A crise hídrica se agravou em julho

Novas medidas, como deslocamento da produção de grandes polos industriais para a madrugada, estão sendo tomadas para evitar que o nível dos reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste chegue abaixo dos 10% em novembro

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Atualização:

Vai dar para passar o ano sem racionamento e sem apagão? Provavelmente, sim. Mas a crise hídrica ficou pior do que se previa há dois meses, porque se esperava chuva no Sul para julho, que não veio.

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Para uma ideia melhor do que vem aí, é preciso esperar pelo período úmido, que vai de outubro a abril, no Centro-Sul. Se o tempo das águas se agravar em relação ao que está ficando para trás, não será possível atender à demanda de energia no ano que vem. E, além de falta de luz, poderá faltar água.

É a advertência que faz o presidente da Câmara de Comércio de Energia Elétrica (CCEE), Rui Altieri: “Estamos raspando o tacho”. Algumas medidas estão sendo tomadas para evitar que o nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste – subsistema responsável por 70% da geração hidríca do País, chegue a novembro abaixo dos 10% previstos. Entre elas, aumento da geração de energia pelas usinas termelétricas e deslocamento da produção de grandes polos industriais do horário de ponta (início da tarde até as 21 horas) para a madrugada ou para os fins de semana. Essa opção é pedido antigo da indústria, mas ainda está sendo preparada.

O consumo de energia elétrica no Brasil vem crescendo, em média, 3,7% ao ano. Temos hoje a maior folga de operação que já tivemos em 20 anos. Se não fosse por isso, esta crise hídrica seria muito grave”, afirma Altieri.

A folga que o executivo menciona é a possibilidade de utilizar outras usinas geradoras de energia elétrica, como as termelétricas, que correspondem a cerca de 24% da matriz elétrica do País, e estão sendo acionadas para socorrer o setor elétrico. Parques geradores anteriormente desativados, seja por falta de matéria-prima seja por questões comerciais, estão sendo colocados novamente em operação para dar conta do fornecimento de energia, como foram os casos das usinas Termo Norte I e II, em Rondônia; e Araucária e Cuiabá, no Mato Grosso.

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Não é hora de incentivar mais investimentos em energias renováveis, especialmente em eólica e solar? “Estas iniciativas são sempre bem-vindas. O problema é que esses investimentos levam de um ano a um ano e meio para entrar em operação. Para enfrentar esta emergência, não ajudariam. Mas não se devem colocar todos os ovos na mesma cesta, porque não se sabe até quando se pode contar com ventos excelentes e com boa insolação. Ou seja, também é preciso investir em térmicas mais eficientes.”

Não dá para afirmar o quanto os problemas ambientais estão apressando e agravando a crise hídrica, a mais grave dos últimos 90 anos, afirma Altieri. A Austrália passou por situação semelhante que durou cerca de 10 anos, mas agora voltou à normalidade. Mas não se sabe se essa normalidade é sustentável.

Altieri é também um defensor de que não se pode perpetuar os incentivos dados aos pequenos investimentos em energia solar, esses que instalam painéis fotovoltaicos sobre os telhados das casas, dos condomínios e dos estabelecimentos comerciais.

“Esse consumidor não paga pelo uso da rede, cujo custo é rateado entre todos. Até quem tem casa na praia e não consome energia quando a casa está fechada tem de pagar pela rede. Por que não tem de pagar quem produz energia de geração distribuída?”

“Estamos raspando o tacho”, afirma Rui Altieri, presidente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), sobre o acionamento do parque de usinas termelétricas, solares e eólicas para geração de energia em meio à crise hídica.Foto: Bruno Namorato / CCEE Foto:

O Brasil está preparado para a eletrificação dos veículos leves? Está, sim, afirma Altieri. “Os carros elétricos levam uma vantagem sobre a maioria dos consumidores de energia elétrica: as baterias da maior parte deles serão recarregadas de madrugada, quando sobra energia. Os investimentos em infraestrutura de recarga não devem ser tão pesados quanto parecem.”

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Altieri chama também a atenção para um problema de agora menos mencionado: o da inadimplência. Muitas empresas perderam capital de giro ao longo da pandemia, já vinham tendo dificuldades para honrar suas contas de energia elétrica e agora levaram mais a pancada com o reajuste da bandeira tarifária. Mais um problema que todo o setor vem enfrentando.*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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