A debandada do time dos sonhos de Guedes

Vinte meses após o início do governo, restam apenas 2 dos 7 secretários especiais originalmente escolhidos pelo ministro para auxiliar na sua guinada liberal

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Por Lorenna Rodrigues e Eduardo Rodrigues
3 min de leitura

BRASÍLIA - Logo após a eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República, o então conselheiro econômico do candidato, Paulo Guedes, anunciou que estava formando o seu “dream team” (time dos sonhos) para o superministério, que abarcaria Fazenda, Planejamento, Trabalho, Indústria e Comércio Exterior. Apenas 20 meses após o início do governo, restam somente dois dos sete secretários especiais originalmente escolhidos por Guedes para auxiliar na sua guinada liberal.

Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro Foto: Gabriela Biló/Estadão

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Do time titular que entrou em campo em janeiro de 2019 continuam em suas cadeiras apenas o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos Alexandre Da Costa, e o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues.

Carlos da Costa seguiu em alta com o ministro, que aposta na aprovação de novos marcos regulatórios para turbinar a retomada dos investimentos no pós-pandemia. A aprovação do novo marco do saneamento e a agenda de votações de leis para os mercados de gás natural, petróleo e energia elétrica prometem longevidade ao secretário no cargo.

No entorno do ministro, seguem firmes os membros do seu seleto time de “assessores especiais”, que conta com dois ex-ministros de governos anteriores: Esteves Colnago e Guilherme Afif Domingos.

Também nesse grupo de confiança de Guedes, a economista Vanessa Canado ganhou protagonismo com o envio da primeira proposta do governo para a reforma tributária, ao lado do secretário especial da Receita Federal, José Tostes Neto.

Debandada

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O reconhecimento, em agosto, pelo próprio ministro Guedes de que há uma debandada na pasta veio com as primeiras justificativas explícitas de insatisfação dentro da equipe. No caso do secretário especial de Desestatização, Salim Mattar, o motivo foi a lentidão das privatizações, estagnadas na pandemia, mas travadas desde antes por pressões políticas.

O secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, preferiu deixar o cargo a permanecer “engavetado” no ministério junto com a proposta de reforma administrativa,que acabou saindo pouco depois.

A primeira baixa no “dream team” de Guedes também foi motivada pelas reformas. O ex-secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, acumulou desgastes com a ala política do governo em diversas frentes da reforma tributária e deixou o cargo em setembro do ano passado. A proposta de recriação da CPMF para bancar a desoneração da folha de salário minou o caminho do economista na pasta. Ironicamente, quase um ano depois, o plano para inventar um novo imposto sobre transações financeiras continua sobre a mesa de Guedes.

O ministro também perdeu dois auxiliares que foram “promovidos” justamente por avançarem em suas agendas. O ex-secretário especial de Comércio Exterior, Marcos Troyjo, foi indicado em junho para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento - o “Banco do Brics”, com sede em Xangai, após o sucesso na conclusão do acordo entre Mercosul e União Europeia no ano passado.

O ex-secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, colheu os louros da aprovação da reforma da Previdência - o maior feito do atual governo na economia até agora - e foi alçado ao posto de ministro do Desenvolvimento Regional. Agora aliado à ala militar do Planalto, ele tem sido o maior “rival” de Guedes no embate sobre a abertura da torneira de gastos do governo no pós-crise.

O ministro acumula ainda perdas nos bancos públicos. O liberal ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy foi defenestrado por Bolsonaro do comando do BNDES em junho de 2019, porque, supostamente, resistiria a abrir a “caixa preta” do banco de fomento. Em pouco mais de um ano à frente do banco, Gustavo Montezano não sofreu a mesma pressão do presidente.

Também o ultraliberal Rubem Novaes deixou a presidência do Banco do Brasil, alegando dificuldades em mudar a cultura da instituição de capital aberto - que transita entre o mercado e o Estado. Novaes deve em breve ser incorporado ao time de assessores especiais do Guedes.

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Por outro lado, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, continua em ascensão após ter concentrado o pagamento do auxílio emergencial a mais de 66 milhões de pessoas durante a pandemia. Responsável também pela gestão do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), Guimarães tem trânsito garantido na alta cúpula do governo.

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