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A economia cresce. Quem atrapalha?

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Por Rolf Kuntz
Atualização:

As três melhores notícias divulgadas pelo IBGE, ontem, foram, pela ordem: 1) o Produto Interno Bruto (PIB) continua crescendo vigorosamente, 1,7% do segundo para o terceiro trimestre e 5,2% nos últimos quatro trimestres; 2) o consumo privado aumentou 5,6% em um ano, ou seja, a expansão da economia vem-se refletindo no padrão de vida das famílias; e 3) o investimento também se acelerou em quatro trimestres e foi 12,1% maior que no período anterior, isto é, a capacidade produtiva continua aumentando. Essa tendência já estava indicada nos últimos números do BNDES, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Os desembolsos, R$ 66,7 bilhões nos 12 meses até novembro, foram 35% maiores que os de um ano antes. Também as consultas e as aprovações de financiamentos cresceram. Esse quadro pode parecer estranho, quando se leva em conta o falatório costumeiro de economistas e empresários contra a política de juros do Banco Central (BC). A taxa básica foi reduzida pela última vez na reunião de 5 de setembro do Comitê de Política Monetária, o Copom. Nessa ocasião, passou de 11,5% para 11,25% ao ano. O Copom reuniu-se mais duas vezes depois disso e manteve a taxa nesse nível, sob os protestos habituais de seus críticos. Na polêmica sobre os juros, há bons argumentos à disposição de quase todos os participantes - quase todos, não todos, porque alguns não conseguem fazer mais do que juntar adjetivos sem muito significado, como "ortodoxo", "neoliberal" e "desenvolvimentista". Mas o pessoal do Copom, nesta altura, tem alguns pontos a seu favor. O primeiro e mais evidente é a robusta expansão da economia brasileira. Os juros, como têm dito diretores do BC, não têm sido um entrave ao crescimento da atividade - e essa atividade, vale a pena acrescentar, se tem intensificado sensivelmente. Há um ano, o crescimento acumulado em quatro trimestres era 3,3%. Nas apurações seguintes, a taxa passou para 3,8%, 3,9%, 4,9% e 5,2%. A tendência parece muito clara. Em segundo lugar, os juros básicos também não impediram a aceleração do investimento produtivo. A variação acumulada nos mesmos períodos foi de 8,4%, 10%, 9,3%, 10,9% e, finalmente, 12,1%. O investimento pode ainda ser baixo para as necessidades brasileiras, mas seu valor está evoluindo na direção correta e em ritmo apreciável. Em terceiro lugar, o consumo das famílias tem avançado, graças à criação de postos de trabalho, ao crescimento do rendimento médio real e da massa de salários e também da expansão do crédito. O aumento do salário real, é sempre bom assinalar, tem sido facilitado pelo controle da inflação, objetivo básico da política do BC. Estabilidade monetária é pelo menos tão importante por seus efeitos distributivos quanto os chamados programas sociais desenvolvidos pelo governo. Os autodenominados desenvolvimentistas nem sempre se lembram desse detalhe. Em quarto lugar, o pessoal do Copom tem chamado a atenção, de forma recorrente, para a famosa defasagem entre a variação dos juros e a manifestação de seus efeitos. Essa diferença, segundo alguns, equivale a uns seis meses no Brasil. Outros falam em nove meses. Se prevalecer a diferença de apenas seis meses, as conseqüências do último corte ainda se manifestarão no final do primeiro trimestre do próximo ano. Isso dá sentido à idéia de pausa para avaliação do cenário. Mas os próprios empresários, quando avaliam os principais obstáculos à sua atividade, conferem aos juros uma posição sem muito destaque. Os dirigentes de entidades empresariais costumam espinafrar o Copom, numa espécie de ritual, seja qual for o resultado de cada reunião. Ou criticam o corte por ser muito pequeno ou reclamam da manutenção da taxa. Também de forma ritual os meios de comunicação reproduzem a ladainha. Quando se trata de responder às consultas da Confederação Nacional da Indústria ou da Fundação Getúlio Vargas, a conversa é diferente. Invariavelmente, e há muito tempo, essas pesquisas têm mostrado a carga tributária como o principal entrave à expansão dos negócios e do emprego. Impostos pesados e de baixa qualidade, assim como a insegurança quanto à oferta de energia elétrica, têm aparecido, cada vez mais, como problemas importantes quando se trata de pensar no médio e no longo prazos. Ultimamente, a escassez de mão-de-obra com o mínimo de preparo indispensável tem sido apontada como fator de preocupação. Tudo isso indica deficiências graves na formulação e na execução de políticas essenciais ao desenvolvimento. Nenhuma dessas políticas é da alçada do Copom. *Rolf Kuntz é jornalista

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