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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|A economia sob novo impacto

A variante Ômicron tem provocado uma série de incertezas na economia mundial, que viverá grandes mudanças com as retiradas dos estímulos e aumento dos juros pelos grandes bancos centrais

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Atualização:

Os cientistas ainda não dominam as características da nova variante da covid-19, a Ômicron. Sabem que se espalha rapidamente e que produz sintomas mais leves, mas seu nível de letalidade ainda segue em análise. Também pouco se sabe até que ponto as vacinas ou os remédios são eficazes para controlá-la e se os plenamente vacinados estão imunes a ela.

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A partir destas incertezas, as consequências sobre a economia do mundo e do Brasil também estão envolvidas em mais incertezas. No entanto, pelo sim ou pelo não, na semana passada, três dos maiores bancos centrais do mundo decidiram fazer o que está a seu alcance.

As autoridades sanitárias de muitos países já começam a restringir não apenas viagens internacionais, mas, também, aglomerações de pessoas. Muitos analistas acreditam que, outra vez, a recuperação da atividade econômica será contida por três fatores: pela necessidade de manter funcionários em casa; por novas paralisações ou retardamentos nos fluxos globais de mercadorias, que, por sua vez, podem atrasar a chegada de matérias-primas e produtos intermediários às linhas de produção; e pela redução do ritmo de contratação de mão de obra.

O banco central americano anunciou que reduzirá suas compras mensais de títulos em US$ 30 bilhões ao mês. Do total, US$ 20 bilhões se referem aos títulos de do tesouro americano e US$ 10 bilhões a títulos lastreados em hipotecas (títulos imobiliários). Foto: Leah Millis/Reuters Foto:

Do ponto de vista da inflação, a nova onda lança incertezas em ambas as direções. Tanto pode derrubar o consumo e os serviços (como viagens e refeições em restaurantes) e, nesse caso, pode conter a alta de preços; como pode puxar pelos custos de produção, pela desorganização dos fluxos e paralisação parcial das linhas de montagem.

Nos Estados Unidos, a inflação subiu 0,8% em novembro, na comparação mensal, e alcançou 6,8% no acumulado dos últimos 12 meses, maior patamar registrado no país desde 1982. Na zona do euro, a inflação também bateu recordes em novembro, segundo a Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia (UE), e chegou a marca histórica de 4,9% nos últimos 12 meses. 

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Independentemente dessas incertezas, os grandes bancos centrais passaram a agir, como se estivessem coordenados. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos)  avisou que elevará os juros três vezes ao longo de 2022 e começará o tapering, ou seja, começará a paralisar o atual despejo de recursos na economia. Na quinta-feira, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) elevou os juros pela primeira vez em três anos, passando de 0,10% para 0,25%. E o Banco Central Europeu (BCE) avisou que, em março, vai parar de comprar títulos e, assim, deixará de lançar dinheiro nas praças.

A partir daí, o mercado financeiro global operou com o breque de mão puxado. Só não deslizou de uma vez, no pressuposto de que o diagnóstico básico é de que o risco de aumento de inflação está ligado ao aumento de custos (e não ao aumento da demanda) e, por isso, a alta dos juros deverá ser moderada. Afora isso, se houver significativa desaceleração da atividade econômica, novas baixas nas cotações do petróleo e das commodities podem ocorrer – o que ajudará a conter a inflação.

De todo modo, o impacto sobre a economia do Brasil será inevitável, embora não se saiba ainda em que proporção. 

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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