EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|A eleição e os mercados

Para investidor, importante é que o desfecho da eleição nos EUA não se arraste na Justiça

PUBLICIDADE

Foto do author Fábio Alves
Atualização:

Na reta final para a eleição presidencial nos Estados Unidos, marcada para a próxima terça-feira, muitos fundos de investimentos no Brasil não descartam possível turbulência e maior volatilidade nos mercados globais caso as pesquisas de intenção de voto apontem para uma disputa acirrada pelo comando da Casa Branca.

PUBLICIDADE

Mas há também quem está na expectativa do chamado rali de alívio para os ativos de risco, como as Bolsas de Valores e as moedas de mercados emergentes, caso o cenário mais pessimista não aconteça: a contestação do resultado do pleito.

Para os investidores, o que está em jogo não é apenas quem vencerá a eleição presidencial, se o republicano Donald Trump ou o democrata Joe Biden. Igualmente crucial será como ficará o comando do Congresso americano, em particular do Senado, hoje nas mãos dos republicanos.

Mercado quer eleição tranquila e sem drama nos Estados Unidos. Foto: Morry Gash/Pool via Reuters

É que, para cada ativo financeiro, a perspectiva de desempenho muda dependendo dos seguintes desfechos: a vitória de Biden e o controle do Senado pelos democratas – “blue sweep” ou “onda azul”, como dizem os analistas americanos, numa referência a cor usada pelo partido dos democratas; a vitória de Biden, mas o Senado seguindo nas mãos dos republicanos; a reeleição de Trump e o Senado controlado pelos democratas; ou a reeleição de Trump com o Senado republicano.

Por causa da pandemia do coronavírus, um número recorde de eleitores já votou antecipadamente a distância – via correios – ou presencialmente. Até a noite de segunda-feira, cerca de 62 milhões de votos haviam sido registrados antecipadamente, correspondendo a mais de 45% do total de votos contabilizados na eleição de 2016.

Publicidade

Em razão do número recorde de eleitores que estão enviando seus votos pelos correios, há o receio de um atraso na contagem e no anúncio do resultado oficial da eleição, que poderá não sair no próprio dia 3 de novembro. E se, no dia do pleito, as pesquisas de intenção de voto apontarem um desfecho indefinido tanto para o comando da Casa Branca, quanto para o Senado, o temor é de contestação do resultado na Justiça. O presidente Trump vem questionando a lisura da votação a distância.

Para o economista-chefe de um importante fundo de investimento, se as pesquisas de boca de urna mostrarem uma diferença a favor de Biden de apenas dois pontos porcentuais, por exemplo, uma eventual contestação judicial do resultado por Trump ganharia respaldo. Nesse caso, a volatilidade nos mercados dispara, aumenta a aversão a risco e os investidores migram para a segurança do dólar, levando a uma forte valorização da moeda americana.

Da mesma forma, o nervosismo entre os investidores aumentará se a votação nos Estados americanos considerados decisivos – nos quais as votações nas últimas eleições foram apertadas demais a favor de republicanos ou democratas – se mostrar dividida entre os dois candidatos até os últimos momentos.

Um gestor de um fundo de investimento paulista disse que trabalha com um cenário de vitória de Biden e dos democratas no Senado, mas com contestação do resultado por Trump.

Um “blue sweep” resultaria num dólar mais fraco perante outras moedas internacionais. Isso porque, além de minimizar as políticas protecionistas adotadas por Trump, estimulando a melhora do comércio internacional, Biden, com o apoio do Senado democrata, elevaria o estímulo fiscal na economia americana no curto prazo.

Publicidade

Isso é bom para o crescimento econômico mundial, o que diminuiria a atratividade do dólar e, por tabela, favoreceria os países emergentes. O banco Goldman Sachs estima que a vitória ampla dos democratas nas eleições poderá abrir caminho para um pacote fiscal de US$ 2 trilhões logo após Biden tomar posse, em janeiro.

PUBLICIDADE

Já para o desempenho da Bolsa de Valores, uma “onda azul” como desfecho da eleição é controversa. De um lado, Biden promete elevar as alíquotas de impostos das grandes corporações, as quais foram reduzidas por Trump. Isso é ruim para a Bolsa. De outro, Biden quer incentivar energias renováveis e limpas, além de aumentar os investimentos em infraestrutura, o que favoreceria as ações de empresas que atuam nesses setores.

Faltando uma semana para o pleito, a vantagem de Biden ainda é confortável, de quase oito pontos porcentuais, na média das pesquisas nacionais. Para os investidores, o importante é que, mesmo que a margem de vitória seja apertada, o desfecho da eleição não se arraste na Justiça. 

*É COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.