28 de abril de 2010 | 00h00
O Copom, qualquer que seja o aumento da Selic, que consideramos indispensável diante das perspectivas inflacionárias, não poderá reverter, de modo satisfatório, o ritmo da elevação dos preços só com essa medida. Embora possa ser acusado pela demora em tomar essa decisão, há que reconhecer que está longe de ser o maior culpado pela ameaça de inflação.
Nos últimos meses, o governo conduziu sua política econômica unicamente guiado por preocupações eleitoreiras. O Copom encontra-se na contingência de correr para consertar os vasos quebrados, não por ele, mas pelas opções governamentais.
Três fatores principais estão contribuindo para elevar as pressões inflacionárias: uma excessiva liquidez da economia, criada por oferta de crédito encomendada aos bancos oficiais; um aumento dos gastos de custeio com elevação do déficit nominal; um crescimento do número dos funcionários, assim como do ritmo de melhoria dos seus salários.
Criou-se, desse modo, por meios artificiais, uma elevação muito rápida do poder aquisitivo.
O problema é saber se o aumento da Selic será suficiente para conter pressões inflacionárias muito fortes.
A nosso ver seria essencial reduzir a expansão do crédito, refreando os bancos públicos que, até agora, graças aos recursos recebidos do Tesouro (R$ 100 bilhões no ano passado e R$ 80 bilhões este ano), aumentaram muito sua participação na distribuição de crédito, sem falar no do BNDES. Caberia, ainda, sem dúvida, regulamentar o uso dos cartões de crédito que, além de gerar um poder aquisitivo ilusório, contribuem para a elevação dos preços, pois, no proclamado "preço à vista", embute-se o financiamento da venda a prazo.
Ao contrário, seria preciso maior apoio aos investimentos privados, especialmente para permitir que a indústria brasileira volte a produzir alguns componentes hoje importados por causa do seu custo menor, o que contribui para criar um déficit comercial que aumenta o das contas correntes do balanço de pagamentos.
Em lugar de condenar a decisão do Copom, as entidades de classe deveriam pedir medidas que permitissem uma rápida queda da Selic.
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