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A Embrapa faz aniversário

São 47 anos e não faremos relatos, mencionaremos alguns nomes e daremos parabéns e augúrios de novos rumos

Por Murilo Xavier Flores , Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho
Atualização:

Acorde, Embrapa!

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A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está fazendo aniversário. São 47 anos. Foi criada em 26 de abril de 1973, na atmosfera estatizante do governo militar, nacionalista e positivista.

Aniversário de organização pública é de praxe lembrar a sua história. Não faremos relatos, mencionaremos alguns nomes e daremos parabéns e augúrios de novos rumos.

Entre outros, destacam-se os três notáveis da gênese da Embrapa: Renato Simplício, emblemática figura da extensão rural brasileira; Reinhold Stephanes, que se tornaria ministro da Agricultura; e o professor José Pastore, da Universidade de São Paulo (USP), o qual, indagado sobre o êxito da criação, afirmou que se deve “ao pragmatismo militar”.

Outro nome de raiz, Raimundo Araújo, antes de ser “embrapiano”, exercia modesta função no Ministério da Agricultura, quando foi chamado para uma missão simples, mas digna de referência: “No dia 26 de abril, o sr. ministro da Agricultura vai fazer uma solenidade para instalação da Embrapa. Nós precisamos de um local para a solenidade de instalação da empresa”.

Apesar de jovem, envelheceu. O tempo atual não é de silêncio obsequioso, louros corporativos e nostalgias passadas, mas de competição, protecionismo, resultados, transformações velozes e abruptas. Sustentabilidade organizacional sob a proteção do véu corporativo não é mais possível. A história repetida por vozes tradicionais de que “é a joia da coroa” não justifica os vultosos orçamentos vis-à-vis à enorme desigualdade social brasileira. É preciso reconhecer a sua importância para o País e a relevante contribuição para o desenvolvimento da agropecuária brasileira. O aumento da produção e produtividade das lavouras e dos animais. Tudo isso é verdade, mas não é para sempre.

Também há lacunas na área ambiental, protagonismo dos consumidores, agricultura familiar e sociabilidades rurais. Em várias áreas de sua missão, perdeu terreno perante a complexa produção agropecuária a partir do final da década de 90. Reduziram as aleluias de parabéns do globalizado e pluriativo novo rural brasileiro. Para o filósofo grego Heráclito de Éfeso, “nada é permanente, exceto a mudança”.

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Alguns atores dessa venturosa história estão ativos. Haverão de ter as suas versões e contribuem para o seu legado. Outros mudaram de plano, mas deixaram obras da sua gênese. O ambiente organizacional é uma construção social da história.

O primeiro presidente da Embrapa José Irineu Cabral, nordestino de Surubim, em Pernambuco, é falecido. Nem sempre recordado. Não era um pesquisador, mas um gestor experiente de organizações rurais. Deixou as suas versões no livro Sol da Manhã – título inspirado numa “variedade de milho criada pelos pesquisadores da Embrapa –, onde descreve os sonhos que impregnaram “os seus fundadores, sem, entretanto, perder de vista o pragmatismo e a determinação das ações que caracterizaram a sua implantação”.

Esquecidos, os registros de Luiz Fernando Cirne Lima: “Em 26 de abril o Brasil assistia ao surgimento da Embrapa, projeto que tive a felicidade de coordenar como ministro da Agricultura do então governo Médici. Menos de uma quinzena depois, em 10 de maio, entregava ao presidente da República minha carta de renúncia ao ministério”. O dr. Cirne também fez sua viagem estrelar.

Ainda em atividade, Eliseu Alves, diretor de início, presidente adiante e pesquisador na atualidade. Uma vida dedicada à Embrapa. Orlando Passos, pesquisador emérito da citricultura nordestina. E o ex-ministro da Agricultura Alysson Paulinelli, que continuou a missão iniciada por seu antecessor.

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Os presentes que ofertamos à Embrapa neste aniversário são imateriais. Retornar aos fundamentos de sua criação, a exemplo do “pragmatismo e das ações”, agora em sintonia com a agricultura da “revolução 4.0”. O futuro chegou. Cabe à Embrapa, para continuar estratégica para a produção agropecuária e celebrar futuros aniversários, apresentar modelos de integração com a iniciativa privada, estabelecer parcerias cujos resultados sejam voltados para a aceleração da inovação no processo produtivo e nas cadeias do negócio agrícola. Participar ativamente das redes de desenvolvimento científico, tecnológico e inovação no circuito mundial, colocando-se na vanguarda da oferta de tecnologia e inovação. Estabelecer um padrão de gestão por resultados, num novo arcabouço jurídico e institucional, desburocratizado, flexibilizando as ações dos grupos de excelência em pesquisa, gestão orçamentária e financeira, reduzindo gastos em favor do custeio e investimento em pesquisa e inovação.

Em época de mudança de paradigma, o velho resiste ao nascimento do novo, mas somente o novo renasce, floresce e comemora aniversários.

* ENGENHEIROS AGRÔNOMOS, SÃO, RESPECTIVAMENTE: EX-PRESIDENTE DA EMBRAPA (E-MAIL: MURILOFLORES1957@GMAIL.COM); EX-CHEFE DE UNIDADES DESCENTRALIZADAS DA EMBRAPA (E-MAIL: MANOELCMACEDO@GMAIL.COM);  E EX-DIRETOR EXECUTIVO DA EMBRAPA (E-MAIL: PARATOURINHO@GMAIL.COM).

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