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A era dos pneus inteligentes chega ao Brasil

Fabricantes apostam em tecnologia de gestão de frotas e tentam ampliar seu papel como fornecedoras de serviços para transporte

Por Marina Gazzoni
Atualização:

A cifra bilionária envolvendo a aquisição da Sascar pela Michelin, anunciada este mês, indica que a corrida de tecnologia e oferta de novos serviços deve ficar mais acirrada no mercado de pneus. A fabricante francesa pagou R$ 1,6 bilhão para levar a companhia brasileira de rastreamento de veículos, trazendo para dentro de casa uma empresa de tecnologia aplicada ao setor automotivo. A aposta da Michelin é se transformar em uma fornecedora de soluções para transportes e não apenas fabricante de pneus, um movimento seguido pelas suas concorrentes. "Com a Sascar, a Michelin entra em uma fase mais digital. Teremos uma oferta mais completa para as transportadoras e a integração dessa tecnologia ao nosso negócio nos permitirá até mesmo propor novos serviços", disse o presidente da Michelin na América do Sul, Jean-Philippe Ollier. A tecnologia da Sascar de monitoramento de frotas deve ser aplicada para dar informações sobre o pneu, como temperatura e pressão. O pneu é o segundo maior custo de um caminhão, depois do combustível. E metade das vezes que um motorista para na estrada é por problemas no pneu, segundo estimativas de mercado. Além disso, a qualidade do pneu influencia entre 20% e 30% no consumo do combustível. "Com mais informações, é possível fazer uma gestão melhor do pneu e reduzir o custo para as transportadoras", explicou Ollier. A Pirelli também se aliou à indústria de TI para oferecer novos serviços. Em novembro de 2012, a empresa lançou um sistema de monitoramento constante de temperatura e pressão de pneus de caminhões, batizado de Cyber Fleet, em parceria com a Autotrac, empresa concorrente da Sascar e que tem entre os acionistas o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet. Ao todo, 20 frotistas usam o serviço - o pneu e o chip que vai dentro dele são vendidos, enquanto o serviço de monitoramento de dados é alugado. "O pneu se tornou um produto embarcado de muita tecnologia. Não é uma commodity", disse o diretor comercial da Pirelli na América do Sul, Vicente Marino.Pacote completo. Ao trazer uma empresa de tecnologia para dentro de casa, a Michelin se prepara para oferecer um "serviço completo" no setor de transportes. Em alguns países da Europa e dos Estados Unidos, a companhia já oferece aos clientes a venda de pneu por quilômetro rodado e não por unidade. Ou seja, a empresa fecha um preço por quilômetro e assume para si a responsabilidade de fazer todas as trocas de pneu que forem necessárias. Na América do Sul, a Michelin já testa esse modelo de custo por quilômetro na oferta de pneus para máquinas de mineradoras no Brasil e no Chile. "Podemos vender menos pneus, mas ganhar mais melhorando a performance do produto." A oferta de serviços pelas fabricantes de pneu foi uma alternativa que as grandes marcas encontraram para fugir de uma disputa unicamente por preço. Na década passada, as grandes fabricantes, como Michelin, Bridgestone, Pirelli e Goodyear estavam focadas em negociar vendas a montadoras, apostando que os donos de veículos iriam manter a marca original nas trocas de pneu. "Com a competição com os importados, a diferença de preço se tornou relevante e os clientes testaram outras marcas", disse o consultor Robert Wieselberg, sócio da Mindpartners, focada em estratégia de negócios. A concorrência trouxe uma competição por preços e o negócio de fabricar e vender pneus passou a render margens mais baixas. "As grandes fabricantes reagiram com a aposta em tecnologia e na oferta de serviços", disse o coordenador do Centro de Pesquisa em Estratégia do Insper, Luiz Fernando Turatti. A Goodyear investiu US$ 100 milhões para instalar em 2008 na sua fábrica no Brasil uma máquina capaz de entregar pneus padronizados, patenteada pela empresa e disponível em apenas três países. De lá para cá, gastou mais US$ 250 milhões em inovação no País. Segundo o gerente de marketing para a área de pneus comerciais, Fábio Garcia, a empresa tem investido para melhorar a performance do pneu e apostado na criatividade para comprovar e comunicar isso ao cliente. A empresa lançou neste ano no Brasil seis aplicativos para o iPhone e para os celulares com sistema Android com informações técnicas, depoimentos de clientes e diversos comparativos. Nesses aplicativos, o motorista consegue calcular, por exemplo, quanto economiza de combustível, em litros e em reais, usando o pneu da marca.

Oficinas mecânicas. Para ir além da venda de pneus, a Bridgestone quer montar uma rede de oficinas mecânicas no Brasil. A empresa trouxe ao País, em agosto de 2011, a rede de oficinas CarClub Firestone, que presta serviços como troca de óleo, reparos elétricos, balanceamento e, claro, venda de pneus da marca. Até o momento, são apenas quatro unidades no Brasil, todas na Grande São Paulo. A meta, no entanto, é reforçar a rede e abrir de cinco a dez unidades por ano. Com as oficinas, a Bridgestone tenta se aproximar do cliente, reforçando sua marca no segmento de pneus, mas também passa a disputar o mercado de serviços de manutenção de veículos. "Não somos só uma fabricante de pneus. Somos uma empresa de serviço", disse o diretor de vendas e marketing da Bridgestone, Alexandre Lopes. Nos Estados Unidos, o CarClub Firestone é uma rede de 1,2 mil lojas próprias. No Brasil, o modelo ainda está sob avaliação e uma das possibilidades é tentar a expansão por meio de franquias. "Esse setor de oficinas ainda é hiper pulverizado no Brasil e não há uma grande rede. Uma marca forte pode, sim, diferenciar uma unidade de qualquer outra lojinha e trazer confiança para o consumidor", disse o consultor Robert Wieselberg, sócio da Mindpartners. "A Bridgestone está tentando usar a marca, forte em pneus, para ganhar dinheiro em novos negócios." Ela, no entanto, não é a única a tentar fazer isso. A seguradora Porto Seguro, por exemplo, uma das mais fortes no setor automotivo, também está construindo uma rede de oficinas mecânicas com a sua marca. Conveniência. Na tentativa de ampliar seu leque de serviços aos consumidores, a fabricante de pneus também lançou neste mês uma espécie de oficina "delivery", chamada Bridgestone em Casa. Os mecânicos vão até o endereço fornecido pelo cliente - no momento restrito à Grande São Paulo - para fazer troca de pneu e outros reparos rápidos no veículo. Além da marca, uma das apostas da empresa para disputar o segmento de reparos mecânicos é a conveniência, disse Lopes. As oficinas CarClub Firestone têm espaço kids, wi-fi grátis e tecnologia que permite ao cliente acompanhar o conserto do carro via webcam. "Esses serviços nos aproximam dos clientes e fortalecem a marca", disse Lopes.

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