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A era Goldman e o fim dos 4 gigantes

Um ano após o fim do Lehman Brothers e a venda do Merrill Lynch, JP Morgan e Goldman Sachs reinam em NY

Por Gustavo Chacra
Atualização:

Quatro bancos de investimentos simbolizaram Wall Street por décadas. Os nomes Goldman Sachs, Merrill Lynch, Lehman Brothers e JP Morgan eram as marcas do capitalismo mundial. Superaram guerras, recessões, quebra na Bolsa de Valores, os atentados de 11 de Setembro e a competição dos fundos de investimentos. Estudantes de economia e administração sonhavam com um emprego nesses lugares que davam um status superior a qualquer outro em Nova York, até 15 de setembro de 2008. A partir dessa data, uma dessas instituições não conseguiu sobreviver, outra passou para as mãos de um banco comercial, a terceira se manteve estável e a quarta se tornou a grande vencedora da crise, ao bater recordes de lucros meses depois do dia do "grande pânico". Alguns analistas dizem que o fim da era dos bancos de investimentos começou um pouco antes, em 1999, quando o então presidente Bill Clinton aprovou uma lei que abolia as restrições impostas 66 anos antes pelo ato Glass-Steagall, que obrigava os bancos a serem comerciais ou de investimentos. Os quatro grandes sempre escolheram a segunda opção. Mas, há dez anos, foram autorizados a atuar na área comercial, tendo acesso a um volume bem maior de dinheiro e de risco. As restrições a certas transações também foram eliminadas no governo Clinton. O mercado de derivativos se intensificou. O ex-presidente também incentivou os bancos a emprestarem para as pessoas pobres comprarem suas casas. Depois do 11 de Setembro, já durante o governo George W. Bush, esse mercado de subprime cresceu. Com juros mais baixos, os gigantes de Wall Street foram incentivados a buscar riscos e compravam pacotes de dívidas desses clientes agregados pelas financiadoras de imóveis. Quando os juros subiram e os calotes começaram, quem estava menos preparado passou a correr risco de quebra. Bear Sterns, um irmão menor dos gigantes, foi eliminado do jogo ainda em março do ano passado. O JP Morgan assumiu o que restou do banco, levando muitos a crer que o governo não permitiria a quebra de instituições financeiras. Tudo mudaria no fim de semana anterior à quebra do Lehman Brothers. Durante o sábado e o domingo, como relata o editor de economia do Wall Street Journal, David Wessel, no livro In Fed We Trust, o presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), Ben Bernanke, o ex-secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o atual, Timothy Geithner, que na época dirigia o Fed nova-iorquino, tentaram achar comprador para o Lehman. A saída estava no inglês Barclays, mas não houve acordo, apesar da pressão do governo americano. Era o fim de um dos quatro grandes de Wall Street. O episódio, que vai virar filme e se tornou assunto de vários livros, poderia ter sido evitado na avaliação de Lawrence Mcdonald, um antigo vice-presidente do Lehman Brothers e autor do livro A Colossal Failure of Common Sense, que, assim como outros funcionários, culpa o então diretor executivo (CEO) Richard Fuld Jr. pela quebra. Segundo ele, "o CEO foi alertado várias vezes dos riscos dos investimentos ligados ao subprime, que seriam um grande iceberg mais adiante". Fuld também teria entrado em choque com Paulson, a quem considerava rival por ter dirigido por anos o Goldman Sachs. Se não houve salvação para o Lehman, o governo conseguiu impedir o fim do Merrill Lynch, obrigando o Bank of America a comprar "uma das instituições mais tóxicas dos EUA", como relatou William Cohan em artigo da revista Atlantic. "O acordo não foi voluntário", afirma, denunciando a pressão da Secretaria do Tesouro e do Fed. Goldman Sachs foi o grande vencedor. O banco de investimentos fechou em julho o mais rentável semestre de sua história, pouco depois de receber ajuda governamental - já paga. Nos dias da quebra do Lehman, Paulson conversou 24 vezes por telefone com seu sucessor no comando do Goldman, Lloyd Blankfein, segundo revelou o New York Times em recente reportagem, alimentando as teorias de que o banco de investimentos é favorecido pelo governo. Em entrevista à Time na semana passada, o atual CEO do Goldman diz que a competência do banco, "que era uma virtude, se tornou um problema". Um ano após o colapso do Lehman - 150 anos depois dos dois irmãos do Alabama abrirem um escritório em Nova York - e da venda do Merrill, Goldman e JP Morgan passaram a reinar em Wall Street, voltando a ter lucros. A era dos bancos de investimentos teria chegado ao fim, e hoje, em Nova York, o atual momento é descrito como a "era Goldman".

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